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CINEMA/ESTRÉIAS
"AMOR À TODA PROVA"
Comédia romântica gay escorrega e se perde em seu final puritano
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
O cinema hollywoodiano ou
diretamente sob o guarda-chuva financeiro de Hollywood é
tão prolífico, para o bem e para o
mal, que se permite subgêneros
inimagináveis em cinematografias menos desenvolvidas.
Assim, há o "heist movie" (ou
filme de assalto), o "chick flick"
(de mulherzinha), os de julgamento/advogado/júri. E, mais recentemente, o romântico gay. No
último caso estão, por exemplo,
"A Razão do Meu Afeto" (1998) e
"Sobrou para Você" (2000).
Está também este "Amor à Toda Prova", que estréia hoje. O mote é excelente. Mulher de Chicago
de meia-idade (Kathy Bates),
apaixonada por um cantor inglês
mezzo Elvis, mezzo Sinatra (Jonathan Pryce), ídolo das coroas, é
abandonada friamente pelo marido entediado (Dan Aykroid).
Ela decide esquecer tudo indo
ao show do britânico, que se apresenta em sua cidade. Acontece
que antes ele é morto pelo misterioso assassino do arco-e-flecha.
A fã larga família e amigos e parte para a Inglaterra, para o enterro. Lá, descobre que o músico era
gay e casado havia anos com um
ex-empregado (Rupert Everett).
Juntos, a ex-fã e o ex-amante
combinam de voltar a Chicago e
achar o assassino de seu amado.
De quebra, devem enfrentar a
(hilariante) família do falecido, da
sociedade britânica tradicional,
que nunca aceitou a homossexualidade do parente e, falida, está de
olho nas propriedades dele.
Tudo é muito engraçado na primeira metade do filme, que segue
à risca o receituário do subgênero,
com direito a participações especiais de ícones gays (Julie Andrews, Barry Manilow), vários
sing-a-long (grupos de pessoas
cantando juntos clássicos bregas)
e personagens secundários estranhos (como a anã que é nora e
melhor amiga de Kathy Bates).
Mas se perde no final de maneira fragorosa. Era de esperar mais
do diretor, o australiano P.J. Hogan, do ótimo "O Casamento de
Muriel" (1994) e do até que palatável "O Casamento de Meu Melhor Amigo" (1997).
Já cego pelo brilho dos dólares,
Hogan se deixa levar pelo pior da
moral puritana que domina o cinemão (e a sociedade) norte-americano, segundo a qual ao clímax deve se seguir uma conclusão em que todos os pecados são
lavados e expiados publicamente.
Assim, os pequenos (a dona-de-casa, a anã e o gay) se unem para
enfrentar o poderoso (o assassino) e com isso alcançar a fama e,
com ela, o sucesso pessoal e profissional. Óbvio que todos terminam num programa de auditório.
Ali, remendam seus erros e terminam cantando. Capaz de você
derrubar uma lágrima nessa hora.
De raiva, não de alegria.
Amor à Toda Prova
Unconditional Love
Direção: P.J. Hogan
Produção: EUA, 2002
Com: Kathy Bates e Rupert Everett
Quando: a partir de hoje nos cines
Paulista, Iguatemi e circuito
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