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Crítica/"Queime Depois de Ler"
Irmãos Coen fazem comédia pastelão mergulhada na melancolia
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Depois de "Onde os Fracos Não Têm Vez", os
irmãos Coen, de maneira muito saudável e esperta,
tomaram um rumo completamente diferente. Longe da densidade do filme que lhes rendeu
o Oscar, este novo "Queime Depois de Ler" é uma comédia
rasgada -e, por isso mesmo,
uma obra relativamente imune
às cobranças após a "consagração máxima".
Apesar das diferenças entre
os dois filmes, porém, a assinatura dos Coen está lá, indefectível. "Queime Depois de Ler"
também traz uma posição bastante parecida diante de certos
valores do mundo contemporâneo, um dado que termina
aproximando ainda mais os
dois filmes e confirmando esta
comédia como uma obra de
continuidade, e não de ruptura,
como poderia parecer.
Uma série de episódios brutais e absurdos é desencadeada
depois que Osbourne Cox
(John Malkovich), agente da
CIA, é demitido por seus "problemas com o álcool". Para vingar-se, Osbourne decide escrever uma autobiografia cujos
manuscritos, ainda inacabados,
vão parar nas mãos de dois funcionários de uma academia de
ginástica (Brad Pitt e Frances
McDormand).
O acaso faz com que outros
personagens se envolvam nessa história, que toma rumos cada vez mais macabros -entre
eles um atrapalhado ex-agente
de segurança, interpretado por
George Clooney.
É uma lógica bastante próxima à do filme anterior, e, em
"Queime Depois de Ler", também há um personagem observador como o de Tommy Lee
Jones em "Onde os Fracos Não
Têm Vez" -aquele que recebe
as notícias absurdas e reage,
um tanto estupefato e à distância, à brutalidade crescente.
Se a "comédia de erros" sempre fez parte do repertório dos
Coen (basta ver seu longa de estréia, "Gosto de Sangue", ou "O
Amor Custa Caro"), desta vez
eles exercitaram as características do gênero em seus extremos: de um lado, a comédia física, quase um pastelão; de outro,
um sentimento de melancolia
subjacente a tudo, que termina
se sobrepondo ao riso.
Todos os personagens do filme são profundamente tristes,
a começar pelo agente da CIA
interpretado por Osbourne
Cox, um alcoólatra amargurado no trabalho e infeliz no casamento, mas principalmente a
secretária de academia de ginástica interpretada por Frances McDormand, que pretende
juntar uns trocados para fazer
uma plástica -e termina fazendo qualquer coisa para atingir
seu objetivo.
Os risos de "Queime Depois
de Ler" têm um sabor amargo
que, de um modo bizarro, peculiar aos Coen, terminam refletindo um profundo desgosto,
mas que não necessariamente
significa desprezo ou desdém.
QUEIME DEPOIS DE LER
Produção: EUA, 2008
Direção: Joel Coen e Ethan Coen
Com: George Clooney, Brad Pitt, John
Malkovich, Tilda Swinton
Onde: estréia hoje no Cidade Jardim,
Cine TAM, Espaço Unibanco e circuito
Classificação: não indicado a menores
de 14 anos
Avaliação: bom
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