São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010
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Mônica Bergamo bergamo@folhasp.com.br Chama a Olga!!!
Ela já treinou ministros como Gilberto Carvalho e Márcio Thomaz Bastos em crises; ajudou Lula em 2006 e foi peça-chave na eleição de Dilma Rousseff. Olga Curado agora vai escrever um livro
Olga demonstra como sócio, Ricardo Kauffman, a sequência de empurrão e enforcamento que foi ensinada para o presidente A jornalista Olga Curado dá uma chave de braço em Lula e tenta enforcá-lo. É outubro de 2006: ele tenta se reeleger. Enfrenta Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e teme os debates do segundo turno da campanha eleitoral. Contratada para "tirar a trava" do presidente, Olga usa o aikido, uma arte marcial, para ilustrar os conceitos que quer transmitir ao candidato. No caso: "Não vai ao debate? Não adianta: o debate vai vir atrás "d'ocê". Não dá pra fugir", diz ela, com forte sotaque de Goiás, onde nasceu. ![]() Já naquele tempo, Olga era velha conhecida do PT. Tinha usado seu método, que mistura princípios do aikido, da Gestalt, do budismo, de meditação e do jornalismo, para treinar Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, em depoimentos sobre o assassinato do ex-prefeito Celso Daniel, de Santo André. Orientou Luiz Gushiken quando depôs na CPI do mensalão. Fez "media training" com o então ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, quando ele falou da quebra do sigilo do caseiro Francenildo no Congresso. ![]() "Ela fez perguntas duríssimas. Gravou minhas respostas e me mostrou. Uma lástima! Eu repetia as coisas, não terminava o raciocínio, emendava uma frase com outra", diz Bastos. Olga deu a ele "dicas de postura": colocar as mãos sobre a mesa para mostrar firmeza; não desviar do olhar do interlocutor. "Quem passa pela Olga enfrenta qualquer coisa." ![]() Dilma Rousseff foi apresentada a Olga, que a orientou na crise dos cartões corporativos, quando a Casa Civil, que comandava, foi acusada de fazer dossiê sobre os gastos da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. Aprovou o método. Neste ano, a jornalista foi convocada para trabalhar na campanha eleitoral. ![]() Ajoelhada no tatame de seu escritório, na Vila Mariana, Olga conta que vai lançar um livro, em março, para contar suas experiências. Diz que já derrubou muitos clientes com o aikido. Mas poupou Lula e Dilma, pois é preciso "respeitar os limites de cada um". Com eles, usou movimentos mais delicados para transmitir conceitos. ![]() "No caso do Lula, eu precisava mostrar que aquilo [debate com Alckmin] não era um bicho de sete cabeças e que ele não ia se dar mal." ![]() Olga tenta então dar um soco na barriga da colunista. Quase acerta. "Se você tentar se proteger com as mãos, está perdida", ensina. "Mas, se simplesmente desviar [o corpo], o outro não te acerta." E segue, como se falasse com Lula: "O Alckmin chega para te atacar. De que adianta resistir? Deixa ele chegar perto, onde você tem o controle da situação. E, então, desvia." A essência do aikido é jamais atacar, mas sim responder às agressões desarmando os golpes. "Eu me preservo. E sobrevivo", diz Olga. ![]() "O aikido é a estratégia. A Gestalt te dá o aqui, agora: "Estou alerta, eu durmo de olhos abertos". E o budismo te mostra que não existe nada importante em si -nós é que damos importância às coisas." Um debate com Alckmin, portanto, não era "tão importante assim". ![]() Os mesmos ensinamentos serviram para Dilma. Olga participou de todos os treinamentos da petista para os debates com José Serra (PSDB-SP). Mas, ao contrário de Lula, Dilma era até tranquila. "Ela foi presa e torturada. Na hora da dificuldade, busca nela mesma um espaço de tranquilidade." O problema principal era outro. ![]() A candidata não conseguia se expressar com clareza. "A imagem de arrogância surge também quando você fala difícil e as pessoas não compreendem", diz Olga. Dilma respondia a qualquer pergunta com frases longas. "Ela tem que explicar, historiar, fundamentar, construir todas as premissas para apresentar uma solução. Só que o público, a imprensa, não têm tempo de ouvir. Ela teve que inverter a pirâmide." Juntas, as duas liam e reliam textos em voz alta, faziam exercícios respiratórios, simulavam entrevistas. ![]() Olga segura o pulso da colunista e pede que tente se desvencilhar. É impossível. Pede então que, ainda "presa", passe as mãos na cabeça. Sim, é possível. Este é outro ensinamento passado a Dilma: "O ponto de atrito é o menor ponto de contato. Você simplesmente esquece o ponto em que estão te enchendo o saco e vai fazer o que te interessa. Tenho como me movimentar. Por que vou ficar na agenda do outro?" ![]() Ela foi repórter de alguns dos principais jornais do país e também na TV Globo. Cobriu os governos militares (foi Olga quem arrancou do presidente João Figueiredo a declaração de que preferia o cheiro do cavalo ao do povo). Há dez anos, passou a assessorar empresas que atravessavam crises de imagem. Nesta época, começou a fazer aikido. Fascinada pelos conceitos da arte marcial, passou a aplicá-los no aconselhamento de clientes. Acabou criando um método. ![]() Olga já foi solicitada para orientar executivos da TAM na época do acidente de 2007. Treinou executivos da Basf e da SulAmérica Seguros. Já foi procurada até por Gugu Liberato. ![]() O apresentador perdeu o eixo quando seu programa levou ao ar, no SBT, uma entrevista falsa do PCC, em 2003. "Mesmo uma pessoa experiente, sob ataque numa situação adversa, às vezes não sabe o que fazer", diz Olga. Empurrando Gugu com força, ela mostrou a ele que era melhor dar uma cambalhota e se levantar logo para seguir em frente. "Ao invés de resistir, de negar e de fugir, ele deveria assumir sua responsabilidade de uma vez. Cair, sabendo como cair. E como? Protegendo a cabeça. Olhando para o umbigo, que é de onde eu vim, para não me machucar." ![]() No ano passado, Olga foi contratada por uma das empresas envolvidas na confecção das provas do Enem, que vazaram, para treinar o executivo que seria o porta-voz da empresa. Jovem, faixa preta de jiu-jitsu, ele chegou ao escritório dela cheio de confiança. A jornalista o surpreendeu com um golpe que o jogou na parede. "A Olga mostrou de cara que ele seria massacrado se continuasse com aquela postura", diz Ricardo Kauffman, sócio dela. ![]() Olga resume o método em três palavras: base, "onde você põe o pé, as coisas que te conectam", eixo e "foco". Mostra um boneco de João Bobo, com cara de palhaço, e outro, do Super-Homem. O João tem uma base larga. Olga o estapeia. Ele balança, mas não cai. "Ele tem base, flexibilidade e eixo." Já o herói, com ombros largos e pés pequenos, não para em pé. "Ele é tão grande e cheio de si que perde o contato com a realidade." Muitos de seus clientes, diz ela, adoram ser Super-Homem. "Eu digo: "Cê" se prepara. Porque "cê" vai cair, meu bem!". Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Ligações perigosas Índice | Comunicar Erros |
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