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VANESSA VÊ TV
VANESSA BARBARA - vanessa.barbara@uol.com.br
A grama do vizinho
AQUI EM casa nós temos quatro: o
primeiro é o controle remoto do
DVD, com 31 botões e duas pilhas
AAA. Depois tem o controle do Blu-ray, com 52 botões de quatro cores.
Então, vem o da televisão, com 44
botões, e o dos canais a cabo, com
45 e um redondo chamado "agora".
A televisão fica a apenas 1,78 m
de distância do sofá e, ainda assim,
quando um dos controles é perdido
entre as almofadas, a única reação
possível é desistir de tudo e ir dormir
mais cedo.
O controle remoto extinguiu os
botões giratórios na frente do aparelho, bem como os gritos para alguém na cozinha ir até a sala mudar
de canal.
Aniquilou os cabos de vassoura,
que serviam para aumentar e diminuir o volume à distância e eliminou
a audiência por inércia: ninguém
mais permanece num canal por preguiça de se levantar.
Acima de tudo, o controle remoto
trouxe ao bojo da modernidade a incerteza, aquela incômoda sensação
de haver algo, em algum lugar, mais
interessante do que o que estamos
assistindo.
Diante de uma oferta de 96 canais, é difícil contentar-se com "Super Petroleiros" (NatGeo), quando
em outra emissora pode haver "Le
Haim" (TV Aberta), "Eu Não Sabia
que Estava Grávida" (Discovery Home & Health) ou "The Walking
Dead" (Fox).
O controle remoto popularizou o
verbo zapear e o costume de dar a
volta na programação. Às vezes, o
sujeito é impaciente e vai atropelando tudo, até que vislumbra algo de
seu interesse. O problema é que, em
geral, a cena já foi engolida por uns
20 canais e o mais fácil é dar a volta
de novo.
A única pessoa que escapa a esse
hábito tele-hiperativo é a minha
mãe, que gosta de "dar uma chance" para todo e qualquer curta-metragem indonésio em que um sujeito
demora 15 minutos para atravessar
o deserto enquanto entoa algum
mantra.
E nem é preciso estar assistindo a
algo mediano para ter vontade de
espiar o que está passando alhures:
é comum perdermos uma boa reprise de "Seinfeld" (Sony) só por causa
de uma coceirinha que nos faz dar
toda a volta, passando por "Bonanza" (TCM) e "Roda a Roda Jequiti"
(SBT), aterrissando, exaustos, no indefectível "Medalhão Persa", um
porto seguro para onde retornamos
após longa e extenuante jornada.
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