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Músico paga pelos excessos do passado
EDSON FRANCO
Editor de Veículos
Ike Turner é protagonista de
uma das maiores injustiças da história da música ocidental do século. Corre o risco de entrar para as
enciclopédias como o homem que
batia em Tina Turner e que, de vez
em quando, tocava alguma coisa.
Para seu azar, os dois únicos aliados que Ike tem para reparar esse
erro histórico é a si próprio e uma
biografia repleta de colaborações
para a evolução da música pop.
O primeiro aliado não tem feito
um bom trabalho. Um show atual
de Ike Turner pode ser ou envolvente ou frustrante. Em Londres,
em abril de 97, um show do cantor,
guitarrista e tecladista se enquadrou na segunda categoria.
Com a platéia sob domínio, Turner subiu no palco uma hora atrasado. Desafinou, errou notas, entrou e saiu de cena várias vezes.
Deixou o palco ovacionado. Deu a
impressão de que o público local
aplaudiria até um poste.
O segundo aliado de Turner
-sua biografia musical- continua muito mal divulgado. Ele nasceu no dia 5 de novembro de 1931,
numa cidadezinha chamada
Clarksdale, encravada no delta do
rio Mississippi e, provavelmente, o
epicentro do blues. Exatos 20 anos
depois, o cantor Jackie Brenston
entrou nos estúdios da Sun Records, em Memphis, e gravou
"Rocket 88", música considerada o
primeiro rock'n'roll da história e
que traz Turner ao piano.
Pelo resto da década de 50, ele
emprestou suas habilidades de
pianista e guitarrista para gigantes
do blues como Elmore James, Howlin' Wolf e Otis Rush. Estava forjado o homem capaz de farejar um
talento a quilômetros. E, em 1960,
esse homem farejou Tina.
Questões conjugais à parte, a
cantora nunca gerou tanta energia
em suas interpretações depois que
abandonou Ike. Após ouvi-la cantando "Proud Mary" com a banda
do ex-marido, é possível concluir
que, sem os atritos com Ike, não
haveria o fogo de Tina.
Muitos chegam ao sucesso com
um currículo menos completo que
esse. Mas Turner paga o preço pelos excessos do passado. Chega aos
dias de hoje precisando de um hit,
um produtor que dê uniformidade
aos shows e de um biógrafo isento.
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