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TELEVISÃO/CRÍTICA
"Brava Gente" foge da mediocridade das fórmulas
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Hoje à noite vão ao ar na Globo os últimos programas da
série "Brava Gente", projeto coordenado por Guel Arraes, que reúne adaptações literárias e sugere
que a qualidade na TV é possível,
e com poucos recursos.
Os três programas exibidos na
última terça-feira, noite de estréia
do seriado, indicam a diversidade
de textos, gêneros e estilos que cabem na proposta. Essa espécie de
"Dogma" da TV brasileira experimenta com dramas curtos, de cerca de 30 minutos cada um, gravações em estúdio ou teatro, alguns
efeitos especiais e aposta na força
do elenco.
Os textos expressam especificidades regionais, estilos diferentes
de direção, edição e interpretação.
"O Santo e a Porca", baseado em
história de Ariano Suassuna, segue a linha testada em o "Auto da
Compadecida".
As interpretações de Marco Nanini e Denise Fraga valorizam
uma trama que especifica a artimanha de mover relações evitando o confronto. A lógica de ir
"ajeitando" encontros e desencontros por interferência de intermediários espertos, que levam
suas vantagens, é diferente da
economia que organiza o melodrama e que costuma reinar na
programação televisiva.
"Meia Encarnada Dura de Sangue" é dirigido por Jorge Furtado
em estilo documental e foi feito
no Rio Grande do Sul pela Casa de
Cinema, inaugurando um formato descentralizado de produção.
"Enquanto a Noite Não Chega"
traz uma atmosfera meio realismo fantástico, valorizada pelas interpretações charmosas de Mário
Lago e Heloísa Mafalda.
Cada programa se sustenta sozinho e seria melhor apreciado se
exibido em separado. A série de
episódios com intervalos comerciais concentrados entre um programa e outro, pesa. A amarração
no título "Brava Gente", ilustrado
em um logo que é a bandeira brasileira decorada com objetos de
artesanato regional, acrescenta
uma pompa e uma pretensão integradora que beiram a nostalgia
dos tempos de quase monopólio
da emissora e destoam do tom
despojado e ousado dos programas.
A qualidade da programação da
TV brasileira vem caindo nos últimos anos. O aumento da concorrência gerou o apelo a formas sensacionalistas que supostamente
agradam o público.
Mas esse mesmo público reclama da baixa qualidade, pede formas de interferência que podem
resvalar para a censura ou empacar na formulação "evitar abusos", que é necessária, mas pouco
criativa.
Estão em jogo diferentes definições do que é popular. Técnicos
de pesquisa de audiência e de opinião, diretores de programação,
criadores, anunciantes, juízes, espectadores, disputam construções que melhor se adequem à variedade de emissoras e preferências que vai emergindo, em detrimento da qualidade da programação.
O debate tende a ficar restrito à
engenharia legal que define como
as emissoras devem prestar satisfação a seu público. Mas ele pede
também a invenção de formas e
narrativas capazes de sensibilizar
e desafiar a imaginação popular
sem incorrer na mediocridade
das fórmulas fáceis.
E o universo aberto à teledramaturgia é enorme, como mostram essas adaptações literárias
de curta duração e baixo orçamento.
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