DA REPORTAGEM LOCAL

O século já mudou, mas o projeto "A Música Brasileira deste Século por Seus Autores e Intérpretes" continua a todo vapor. Em sua quinta etapa, a coleção coordenada pelos produtores J.C. Botezelli (o Pelão) e Arley Pereira reúne mais 13 CDs, de 16 artistas.
Trata-se da conversão, para CD-documento, da série de programas televisivos comandados ao longo das últimas décadas pelo produtor cultural Fernando Faro, ainda hoje em cartaz na Rede Cultura, sob o nome "Ensaio".
Cada CD é composto por canções levadas ao vivo e depoimentos com reminiscências pessoais e pertencentes à história da MPB pela voz dos artistas escolhidos. Acompanha a caixa um livro com a transcrição completa de todas as falas e letras das canções.
Nesta nova caixinha -os títulos, bancados pelo Sesc, não são vendidos de forma avulsa-, estão sonorizados volumes exibidos entre setembro de 1973 (o do desafio musical entre os cantadores e violeiros nordestinos Otacílio Batista e Diniz Vitorino) e maio de 1996 (o do violonista paulista Antônio Rago).
Entre uma ponta e outra, o samba é o privilegiado, com pioneiros como Antônio Almeida e Claudionor Cruz e artistas de gerações intermediárias, como Mestre Marçal, Germano Mathias e João Nogueira. Três sambistas de raiz da Bahia, Batatinha, Riachão e Ederaldo Gentil, dividem o volume "Sambas da Bahia", de programa gravado em 74.
Fora dos domínios do samba e da velha-guarda, a transição ocorrida no final dos anos 50, da traumática virada do samba-canção e de fossa para a bossa nova, é representada em volume dedicado ao paulista radicado no Rio Tito Madi, autor de canções de passagem como "Chove Lá Fora" e "Balanço Zona Sul".
Apenas duas mulheres aparecem na quinta fase da coleção, ambas de carreiras mais evidentes na virada dos anos 60 para os 70. Uma delas é Claudette Soares, que, em meados dos 60, abraçava a geração da bossa, depois de haver sido revelada nos braços do baião e do forró, sob aprovação do patriarca Luiz Gonzaga.
Outra é Nana Caymmi, que começou a cantar profissionalmente no início dos 60 num disco do pai Dorival, estreou em LP próprio em 63, participou da febre dos festivais da canção e depois se afastou do Brasil e da profissão de cantora, que só retomaria na metade dos anos 70.
Leia em quadro ao lado quem é cada um dos artistas redimidos pela coleção.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)