São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 2002

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LITERATURA

Matar ou morrer

Divulgação
O detetive Hercule Poirot, criação de Agatha Christie, observa corpo em adaptação de uma de suas aventuras para as telas



Antologia reúne cem dos melhores contos de crime e mistério de todos os tempos


IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os fãs dos crimes de morte, sangue e cadáveres acabam de ganhar cem ótimos motivos para comemorar o Ano Novo. Trata-se da chegada às livrarias da antologia "Os 100 Melhores Contos de Crime e Mistério da Literatura Universal", organizada pelo escritor gaúcho Flávio Moreira da Costa.
A obra é um tijolão de 832 páginas, com o melhor produzido no gênero em diversas línguas, seja em russo, inglês ou português. O alcance da obra, entretanto, não é apenas geográfico. Costa também faz um apanhado milenar, incluindo dois textos do Antigo Testamento da Bíblia. Pode parecer surpreendente, mas "A História de Sansão" tem mesmo muito de crime, conforme demonstra o trecho a seguir:
"Sansão foi embora e capturou trezentas raposas; pegou tochas, amarrou-lhes as caudas duas a duas e colocou no meio cada vez uma tocha. Depois acendeu as tochas e soltou as raposas nos trigais dos filisteus, incendiando tudo, tanto o trigo já empilhado como o que estava ainda de pé, tanto as vinhas como os olivais. Os filisteus perguntaram: "Quem fez isso?" "Foi Sansão", disseram, "o genro daquele homem de Tamna, por ele ter dado sua mulher ao companheiro". Então os filisteus subiram e queimaram a mulher com seu pai."
Como se vê, há todos os elementos do gênero que viria a ser desenvolvido milênios depois: intriga, sexo, traição e morte, sem contar, é claro, a crueldade com os animaizinhos.
"As narrativas curtas, tanto da Bíblia quanto do Egito pré-faraônico, são uma forma de mostrar que o relato criminal, para distinguir do policial, já existia no início da nossa civilização", explica Flávio Moreira da Costa. Quanto ao trecho da peça grega "Édipo Rei", segundo o organizador, serve para mostrar um precursor, sempre citado, da literatura policial.
"É para explicar tudo isso e um pouco mais que cada conto tem sua introdução. Nada nesta antologia é gratuito, ou, como é comum infelizmente nos nossos meios editoriais, fruto do "chute" ou do mero gosto pessoal", diz o escritor.
Costa já havia organizado, em 2001, "Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal", da mesma Ediouro.
Avançando no tempo, e passando por Balzac, Dostoiévski, Kafka e Machado de Assis, chegamos a Edgar Allan Poe, que lançou as bases de toda a literatura policial como se entende hoje com seu detetive Dupin. Poe ganha três contos na obra.
Estão lá também, claro, os medalhões Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, Raymond Chandler, Dashiel Hammet.
E ainda sobra espaço para diversos brasileiros. "Tenho a preocupação de não me esquecer que meu prisma é esse", diz Costa. "E quem quiser descobrir alguns excelentes contistas brasileiros praticamente, e injustamente, desconhecidos entre nós, como Samuel Rawet ou Paulo Correa Lopes, é só conferir na antologia."

OS 100 MELHORES CONTOS DE CRIME E MISTÉRIO DA LITERATURA UNIVERSAL. Organização: Flávio Moreira da Costa. Editora: Ediouro. Quanto: R$ 79 (832 págs.).


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