São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2005

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LIVROS

SEXUALIDADE

Catherine Blackledge inventaria aspectos biológicos e históricos da vagina

Em "A História da V", autora disseca órgão sexual feminino

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Nessa era "Sex and the City" (o seriado acabou, mas a época continua), não é muito surpreendente que um livro de 320 páginas falando apenas sobre a vagina seja lançado na Inglaterra e traduzido para o português. "A História da V", da jornalista e doutora em ciências Catherine Blackledge, é uma espécie de enciclopédia sobre o tema.
Ela estudou a representação do órgão genital feminino antropologica e historicamente. E fez também um inventário científico com todos os detalhes biológicos que se pode imaginar sobre a vagina.
No livro, descobre-se, por exemplo, que na Europa medieval imagens de mulheres mostrando a vulva eram usadas para afugentar inimigos. E que na Síria, em 1.400 a.C., exibir a vagina era considerado um ritual sacro (uma coisa que as neo-feministas bem que poderiam copiar).
Aprende-se também quais são as denominações para o órgão sexual feminino. Há uma lista no fim do livro com nomes que vão de McLanche Feliz (ainda bem que esse não pegou por aqui) a Batman na caverna dos morcegos. Se tudo isso é curioso? É. E bastante.
Mas também não é nada que vá mudar a vida das mulheres de hoje, aquelas que sabem desde pequenas o significado de palavras como clitóris e lubrificação. A autora afirma que a coisa mais importante de seu livro é mostrar que a genitália feminina não tem apenas o papel de receptáculo de espermatozóides. Claro que não. Mas já sabíamos disso.
De algumas coisas que estão no livro, a gente não sabia. Por exemplo, ela afirma que fetos masculinos e femininos têm orgasmos ainda no útero, fato que foi notificado no "American Journal of Obstetrics and Gynecology".
O livro segue assim como uma espécie de "guia dos curiosos" sobre a vagina. Uma das melhores partes é a que mostra fotos de vaginas de verdade (imagens que surpreendentemente a gente não costuma ver. E que surpreendem). As fotos fazem com que as mulheres logo pensem "com qual será que a minha parece?".
E o mais curioso é que a autora, que se dedicou a estudar longamente o tema vagina, seja uma legítima representante da geração Pussy Power (algo como "poder da boceta", a tal nova onda feminista que fez garotas exibirem orgulhosas seus sutiãs, em vez de queimá-los).
Aos 36 anos, a cientista acaba virando uma espécie de representante acadêmica de uma Courtney Love (que adora mostrar a lingerie). Ou de uma Peaches, a cantora que trocou o palavrão motherfucker por fatherfucker ("filho da mãe" por "filho do pai").
A cientista tem tudo a ver com elas. Passa todo um capítulo discutindo as razões pelas quais os nomes que definem a vagina são tão reduzidos e pouco específicos no Ocidente. Coisa que não acontece com o órgão genital masculino. Sim, em muitos pontos, a cientista séria vira, sim, mais uma a engrossar o coro alegremente despudorado das neofeministas.


A História da V - Abrindo a Caixa de Pandora
    
Autor: Catherine Blackledge
Editora: Degustar
Quanto: R$ 49 (320 págs.)


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