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LIVROS
SEXUALIDADE
Catherine Blackledge inventaria aspectos biológicos e históricos da vagina
Em "A História da V", autora disseca órgão sexual feminino
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Nessa era "Sex and the City"
(o seriado acabou, mas a
época continua), não é muito surpreendente que um livro de 320
páginas falando apenas sobre a
vagina seja lançado na Inglaterra
e traduzido para o português. "A
História da V", da jornalista e
doutora em ciências Catherine
Blackledge, é uma espécie de enciclopédia sobre o tema.
Ela estudou a representação do
órgão genital feminino antropologica e historicamente. E fez também um inventário científico com
todos os detalhes biológicos que
se pode imaginar sobre a vagina.
No livro, descobre-se, por
exemplo, que na Europa medieval
imagens de mulheres mostrando
a vulva eram usadas para afugentar inimigos. E que na Síria, em
1.400 a.C., exibir a vagina era considerado um ritual sacro (uma
coisa que as neo-feministas bem
que poderiam copiar).
Aprende-se também quais são
as denominações para o órgão sexual feminino. Há uma lista no
fim do livro com nomes que vão
de McLanche Feliz (ainda bem
que esse não pegou por aqui) a
Batman na caverna dos morcegos. Se tudo isso é curioso? É. E
bastante.
Mas também não é nada que vá
mudar a vida das mulheres de hoje, aquelas que sabem desde pequenas o significado de palavras
como clitóris e lubrificação. A autora afirma que a coisa mais importante de seu livro é mostrar
que a genitália feminina não tem
apenas o papel de receptáculo de
espermatozóides. Claro que não.
Mas já sabíamos disso.
De algumas coisas que estão no
livro, a gente não sabia. Por exemplo, ela afirma que fetos masculinos e femininos têm orgasmos
ainda no útero, fato que foi notificado no "American Journal of
Obstetrics and Gynecology".
O livro segue assim como uma
espécie de "guia dos curiosos" sobre a vagina. Uma das melhores
partes é a que mostra fotos de vaginas de verdade (imagens que
surpreendentemente a gente não
costuma ver. E que surpreendem). As fotos fazem com que as
mulheres logo pensem "com qual
será que a minha parece?".
E o mais curioso é que a autora,
que se dedicou a estudar longamente o tema vagina, seja uma legítima representante da geração
Pussy Power (algo como "poder
da boceta", a tal nova onda feminista que fez garotas exibirem orgulhosas seus sutiãs, em vez de
queimá-los).
Aos 36 anos, a cientista acaba virando uma espécie de representante acadêmica de uma Courtney Love (que adora mostrar a
lingerie). Ou de uma Peaches, a
cantora que trocou o palavrão
motherfucker por fatherfucker
("filho da mãe" por "filho do
pai").
A cientista tem tudo a ver com
elas. Passa todo um capítulo discutindo as razões pelas quais os
nomes que definem a vagina são
tão reduzidos e pouco específicos
no Ocidente. Coisa que não acontece com o órgão genital masculino. Sim, em muitos pontos, a
cientista séria vira, sim, mais uma
a engrossar o coro alegremente
despudorado das neofeministas.
A História da V - Abrindo a Caixa de Pandora
Autor: Catherine Blackledge
Editora: Degustar
Quanto: R$ 49 (320 págs.)
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