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CRÍTICA
O espaço da gastronomia na TV brasileira
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
É muito simpático que comida tenha um espaço tão divertido e variado na TV. As TVs abertas ainda marcam passo em
programas convencionais, para a
dona-de-casa que espia a televisão entre uma tarefa e outra, mas
na TV paga há uma grande oferta
de programas interessantes.
Claro: enquanto a TV aberta
pensa num público para o qual
cozinhar é obrigação, a TV paga
pode tratar do que se chama, não
sem certo salto alto, de "gastronomia", em outras palavras, fala
para pessoas que podem pensar
em cozinhar por prazer. É uma
divisão cruel: enquanto nas anamariabragas da vida se aprendem coisas práticas e rápidas,
com muitos produtos industrializados, do outro lado, pensa-se
nas atividades envolvendo comida como experiências criativas e
refinadas.
Curiosamente, uma das maiores estrelas de programas gastronômicos, Jamie Oliver, é dos
poucos que cruzam a fronteira.
No ano passado, a GNT exibiu
uma série de programas em que
ele tenta modificar o cardápio tenebroso das escolas públicas inglesas; neste ano, em sua "escapada" pela Itália, Oliver quer investigar por que os italianos comem infinitamente melhor que
os ingleses.
"A Grande Fuga de Jamie Oliver para Itália", espécie de combinação entre "reality show" e
documentário, combina o olhar
jornalístico e o carisma desajeitado do chef -um inglês de 30
anos, com todos os signos pop e
uma desenvoltura invejável
diante da câmera-, com agilidade típica de "TV jovem". Mais:
apesar de uma formação e experiências variadas na alta gastronomia, Oliver é, antes de tudo,
um bom cozinheiro. Sua inquietude e curiosidade diante das panelas, dos ingredientes, dos utensílios é contagiante- e desmitifica a idéia de que cozinhar bem é
para pedantes.
O olhar documental, quase que
antropológico de Flávia Quaresma é também o grande trunfo de
"Mesa para Dois". Suas reportagens sobre ingredientes e culinárias regionais constituem a melhor parte do programa, que ainda tem Alex Atala desenvolvendo receitas para os temas pesquisados por Flávia Quaresma.
"Menu Confiança" tem Claude
Troisgrois propondo pratos para
os vinhos escolhidos por Renato
Machado ou vice-versa -o que
se chama, hoje em dia, de "harmonização". Não tem jeito: a
enologia continua sendo coisa
meio antipática, para iniciados
ou para quem consegue distinguir madeiras, chocolates e framboesas nos sabores do vinho,
mas a simpatia de Troisgrois, seu
excelente português e sua naturalidade diante das câmeras
compensam o tom exclusivista
do programa.
É outro francês -não por acaso, claro, uma vez que a cultura
culinária francesa é vasta e de
enorme tradição- que constitui
a exceção da TV aberta. Olivier
Anquier também fala de comida
com propriedade, sem afetação e
com um entusiasmo genuíno em
"Tudo a Ver".
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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