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Girl Talk redefine idéia de "mashup"
Produtor funde mais de 200 samples em seu álbum "Night Ripper" e deve se apresentar no Brasil ainda neste semestre
Entre as músicas usadas no
disco, estão "Wonderwall",
hit do Oasis, "Where's my
Mind", dos Pixies, e "Only",
da "metal" Nine Inch Nails
ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A guitarra e o vocal açucarado de "Where's my Mind", dos
Pixies, baixos de Dr. Dre, as
cordas de "Bittersweet
Symphony", do Verve, a base
lenta de "Only", do Nine Inch
Nails, o violão de Noel Gallagher em "Wonderwall" e toneladas de vocais de rap.
Assim é "Night Ripper", um dos melhores discos do ano passado, lançado pelo produtor Gregg Gills
sob o pseudônimo Girl Talk.
Sem pedir autorização para
usar nenhum dos 200 samples
utilizados (e, não por acaso,
lançado pela gravadora americana Illegal Art), ele leva o conceito de "mashup" para um novo patamar. Gills deve ser uma
das atrações musicais da próxima edição do festival Resfest,
que acontece em São Paulo, em
abril. Ele conversou com a Folha por e-mail.
FOLHA - Conte a história de "Night
Ripper".
GILLS - Eu amo música pop e eu
faço colagens com músicas há
uns sete, oito anos. Gosto de recontextualizar elementos familiares em músicas novas e
estava querendo fazer um disco
divertido, apenas com samples.
O som do disco é baseado nas
minhas apresentações ao vivo,
quando eu misturo um monte
de loops e samples tirados de
um set predeterminado.
FOLHA - A atenção que você recebeu no lançamento do seu trabalho
se deveu mais ao fato de o disco ter
sido lançado sem autorizações [dos
autores das músicas originais] do
que à quantidade de músicas conhecidas se encontrarem de forma tão
distinta?
GILLS - Acho que um pouco dos
dois. As pessoas sempre gostam
da controvérsia, daí a questão
do direito autoral. No lado musical, queria fazer um disco que
fosse, ao mesmo tempo, experimental na estrutura e divertido. Acho que as pessoas estão acostumadas a ouvir música remixada como se fosse ou inteiramente experimental, ou apenas feita para a pista de dança.
O meu disco é acessível o suficiente para que pessoas que
não são interessadas em música feita a partir de colagens ou
outro padrão de música eletrônica possam simplesmente
curtir. Mas, ao mesmo tempo,
[o disco] ainda é estranho e
chama atenção por ter a quantidade de samples que tem. De
qualquer forma, eu gosto de
pensar que as pessoas estão interessadas mais na música do
que no aspecto conceitual.
FOLHA - O que você acha dos direitos autorais atualmente?
GILLS - Acho que podemos usar
as leis de direito autoral para
beneficiar a todos. A cultura do
remix está ajudando a música
como um todo, mostrando novos artistas para pessoas que
nunca os ouviriam de outra forma e deixando-as mais animadas com a música.
Muitos usam programas de edição visual, como o Photoshop, para manipular e reciclar a cultura todo dia,
apenas como um hobby. Acredito que isso esteja acontecendo com a música também, com um monte de moleques fazendo seus próprios remixes e os
espalhando pelo mundo. À medida em que nós nos movemos
nesta direção, acho que as leis
devem assumir uma postura
que ajude o desenvolvimento
artístico tanto quanto proteja a
música desses artistas, sob o
ponto de vista financeiro.
FOLHA - Você certamente conhece
o trabalho de outros famosos editores de som, como Double Dee &
Steinski, a dupla KLF, John Oswald e
Dangermouse. Você acha que pertence a uma nova tradição?
GILLS - O ato de samplear está
por aí desde que havia tecnologia para fazer isso, e você pode
voltar isso para as primeiríssimas colagens em fita. À medida
em que a tecnologia tornou-se
mais acessível -com os samplers e softwares de edição de
som-, samplear se tornou uma
ferramenta mais usada. Eu gostaria de me encaixar entre os
artistas que você citou, mas
samplear vai muito além do underground. É uma ferramenta
padrão para fazer música pop
atualmente.
Eu não acho que meu trabalho seja parte de uma nova tradição, apenas que estou usando um instrumento relativamente
novo que muitos produtores
usam hoje.
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