São Paulo, quarta, 29 de janeiro de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Autor de "Quarup", colunista da Folha sofria de câncer na próstata desde 1984; enterro será hoje às 10h
Morre aos 80 o escritor Antonio Callado

Patrícia Santos/ Folha Imagem
O escritor Antonio Callado morreu ontem, aos 80 anos, de câncer


da Sucursal do Rio

Ele havia sido internado anteontem pela manhã na Clínica São Vicente, após sofrer uma queda em casa e fraturar o fêmur. Depois de analisar o estado clínico de Callado, que sofria de câncer generalizado, e de conversar com a família do escritor, o ortopedista Carlos Giesta e o clínico-geral Roberto Zani decidiram não submetê-lo a cirurgia. Callado morreu às 16h30, de forma tranquila, ao lado de sua filha, a atriz Tessy Callado. O corpo de Callado foi velado no Salão dos Poetas Românticos, na ABL (Academia Brasileira de Letras), para a qual foi eleito membro em 94. Da sede da Academia, no centro do Rio, o corpo sairá às 10h de hoje, para ser enterrado no panteão da ABL, no cemitério de São João Batista, em Botafogo. Callado sofria de câncer na próstata desde 1984. Ele foi operado duas vezes -a primeira em 84, nos Estados Unidos, e a segunda no Rio, em 89. Em 94, os médicos constataram que o câncer havia se generalizado. Como que a confirmar a definição que para ele havia sido criada por Nelson Rodrigues -``o único inglês da vida real''- Callado entregou à mulher, a jornalista Ana Arruda Callado, o envelope com o resultado dos exames. Fechado. Nesses últimos três anos, para combater a metástase óssea, Callado passou a se submeter a sessões de radioterapia que debilitaram sua saúde. Escritor, dramaturgo e jornalista, Callado publicou seu último artigo na

Folha, em 21 de dezembro de 96, naquele que acabou sendo o encerramento de uma colaboração semanal para a ``Ilustrada'', iniciada em 1992.
Há cerca de 40 dias, o estado de saúde de Callado se agravou. Ele foi internado em 19 de dezembro para tratamento de uma pneumonia. Passou o Natal hospitalizado, mas reagiu e voltou para casa uma semana depois.
Em entrevista publicada no último domingo na Folha, dia em que completou 80 anos, Callado definiu sua idade como ``um horror''. ``Oitenta anos é a idade para o sujeito morrer, nada mais além disso.''
Na mesma entrevista, disse ser ``Reflexos do Baile'' seu melhor livro.
Callado era casado havia 20 anos com Ana Arruda. Deixou dois filhos e quatro netos.
Inglaterra
Antonio Carlos Callado nasceu em 26 de janeiro de 1917, na cidade de Niterói (RJ). Filho de médico e poeta com uma professora, inicia a carreira jornalística no jornal ``Correio da Manhã'', aos 20 anos.
Em 1941, Callado embarca para Londres, onde é contratado pela BBC. O escritor fica cinco anos na Europa. Casa-se com a inglesa Jean Maxine Watson, funcionária da BBC, em 1943.
Em 1947, volta ao Brasil e ao ``Correio da Manhã'', onde ocuparia o cargo de redator-chefe entre os anos de 54 e 59.
Lança a peça ``O Fígado de Prometeu'' em 51, seu primeiro livro.
Torna-se editor do ``Jornal do Brasil''. Em 1957, lança a peça ``Pedro Mico''. O livro foi reeditado em 96 pela Nova Fronteira.
Callado escreve em 1964 um livro de reportagens chamado ``Tempo de Arraes'', sobre o político pernambucano Miguel Arraes.
Uma de suas maiores obras, ``Quarup'', é lançada em 1967. Ruy Guerra adapta para o cinema em 89.
Em 1968, como correspondente do ``Jornal do Brasil'', Callado viaja ao Vietnã, para acompanhar a guerra. Foi o único jornalista sul-americano a visitar o Vietnã do Norte na época. Da experiência surge o livro ``Vietnã do Norte''.
Em 1976, Callado casa-se com a também jornalista Ana Arruda e lança o romance ``Reflexos do Baile''. Em agosto de 87, o escritor recebe o troféu ``Juca Pato'' de intelectual de 86.
Apesar de resistir a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, Callado é eleito em março de 1994, ocupando a cadeira 8, de Austregésilo de Athayde.


colaborou o Banco de Dados

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã