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Com a ajuda de 14 quilos e de uma prótese dentária, Charlize Theron impressiona como uma serial killer
A bela
DO CRÍTICO DA FOLHA
Gwyneth Paltrow, Hilary
Swank, Julia Roberts, Halle
Berry, Nicole Kidman: as
vencedoras do Oscar de
melhor atriz dos últimos cinco
anos só reforçam o favoritismo da
provável ganhadora de hoje: jovem, bonita e incrivelmente esforçada, a sul-africana Charlize Theron, 28, é a escolha mais lógica na
linhagem de beldades coroadas
pelos acadêmicos de Hollywood.
A seu favor tem um impressionante trabalho de caracterização.
Melhor do que premiar um rosto
bonito é premiar um rosto bonito
que se despe de toda vaidade e se
deixa enfeiar em nome da "grande arte" da interpretação. (Vide
Nicole Kidman e o nariz protético
que lhe rendeu um Oscar em 2003
por "As Horas".)
Charlize foi muito além e, para
viver Aileen Wuornos, protagonista de "Monster" (ainda inédito
no Brasil), engordou 14 quilos,
usou próteses dentárias e uma pesada maquiagem reproduzindo
as manchas de pele da personagem "real".
O (e)feito já lhe rendeu o Globo
de Ouro, o Urso de Prata do Festival de Berlim e o prêmio do SAG
(o sindicato dos atores americanos). Mas "Monster", ironicamente, não ganhou a indicação
mais merecida, a de melhor maquiagem. O trabalho de Charlize
também é admirável, mas não
chega lá. Em nenhum momento o
espectador esquece que está vendo a bela brincando de fera.
Charlize, na verdade, não tem
tanta culpa. Ela apenas reproduz
um conceito estabelecido pela diretora e roteirista Patty Jenkins,
que é o de (super)explicar as razões da transformação da prostituta Aileen Wuornos em uma assassina em série (ela matou e roubou seis de seus clientes na Flórida nos anos 80).
Na mesma proporção que o roteiro recorre a clichês psicossociais como abuso sexual, opressão
social etc., Charlize tenta reproduzir as marcas da opressão no
corpo de Aileen. "Assisti a vários
programas de televisão feitos com
Aileen. Tentei imitá-la na frente
do espelho até achar que o resultado estava sendo consistente. Ela
se move de um jeito muito diferente do meu e, quando finalmente consegui entender essas diferenças, tudo saiu mais fácil", contou a atriz.
Muito menor, certamente, foi o
esforço da veterana Diane Keaton, 58 anos, indicada pela comédia "Alguém Tem que Ceder" (estréia no país em 12 de março). Em
um trabalho tão mais leve quanto
eficaz, ela vive a mulher de meia-idade que se apaixona pelo namorado mais velho de sua filha (Jack
Nicholson) e flerta com o médico
que a atende (Keanu Reeves).
Feito raro em Hollywood, principalmente para atrizes de sua
idade, ela vai para a cama com os
dois. "Foi demais para mim, ainda estou exausta!", brinca.
"Mas me deixou muito tímida.
Com Keanu porque foi engraçado
e com Jack foi exaustivo, passamos três semanas na cama filmando, uma verdadeira humilhação em frente à equipe", disse
Keaton, que nas entrevistas se
mantém fiel ao espírito bem-humorado do filme.
A se registrar, também, o trabalho de Keisha Castle-Hughes em
"A Encantadora de Baleias".
Além de ser responsável por toda
a sinceridade em um filme com
excessivos apelos à emoção, não
custa lembrar que Keisha tem 13
anos e é a atriz mais jovem a receber uma indicação na categoria. E
os acadêmicos adoram ver os
pimpolhos subirem no palco (que
o digam Tatum O'Neal e Ana Paquin).
(PEDRO BUTCHER)
Com Paoula Abou-Jaoude, free-lance
para a Folha, em Los Angeles, e Fabio
Cypriano, em Berlim
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