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Comida
Chocolate com pedigree
Elaborados a partir do cacau cultivado em lugares como Java, Tanzânia, Santo Domingo
e Papua, chocolates de origem ampliam mercado brasileiro de produtos de luxo
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles são chamados de chocolates de origem. No mundo do
vinho, seriam equivalentes a
um varietal (feito com só uma
variedade de uva). Tal qual um
Bordeaux, um Barolo ou um
Rioja, levam o nome de uma região -no caso, Tanzânia, Java,
Santo Domingo, Papua...
Dependendo de onde vêm as
sementes do cacau, o "terroir"
exerce influência, dando ao
chocolate cor, sabor e aroma
distintos. E, como se já não bastassem todas essas semelhanças com o vinho, ultimamente
já é possível fazer degustação
de chocolates de origem.
No Brasil, este mercado ainda é incipiente, mas começa a
dar os primeiros sinais de crescimento, talvez no embalo da
demanda por chocolates com
maior concentração de cacau
-recentemente, duas marcas
de supermercado, a Nestlé e a
Garoto, lançaram chocolates
com 70% e 55% de cacau.
"Vivem dizendo que o brasileiro gosta de tudo doce, que
não tem paladar para chocolate
amargo, com alta concentração
de cacau. Não é verdade", diz o
chef pâtissier Rafael Barros,
coordenador do curso de gastronomia da Anhembi Morumbi. "É questão de acesso, não de
paladar. Só agora, com a entrada das barras comerciais, é que
a população vai saber o que é
chocolate com alta concentração. Não é todo mundo que freqüenta o Santa Luzia, que pode
comprar Neuhaus [famosa
marca belga] no Iguatemi."
Por aqui, o mercado de chocolates de origem é dominado
pela franco-belga Barry Callebaut, uma das maiores fabricantes do mundo. A empresa
fornece matéria-prima para
chocolaterias. Fora do país, porém, há uma infinidade de marcas que têm a linha de origem,
como a francesa Valrhona.
"No Brasil, aos poucos vemos
as pessoas querendo conhecer
o mundo do chocolate. Esta linha de origem mostra que o
chocolate oferece mais do que o
que estávamos acostumados,
nos traz outra percepção", diz
Antonio Moreira, gerente de
vendas gourmet da Barry Callebaut Brasil. "É como
no vinho, um
leigo dificilmente
percebe as nuances.
Mas, se o mercado passar a oferecer produtos de melhor qualidade, as pessoas vão
se iniciar no chocolate."
Mas essa "iniciação" nos chocolates de origem pré-seleciona os clientes pelo bolso. É um
produto para poucos. O quilo já
trabalhado pode custar R$ 400.
Single-origin
Mas, afinal, qual é a diferença
entre um chocolate comum e
um de origem? No último caso,
as sementes de cacau empregadas são da mesma região, o que
confere a cada um características particulares. "São zonas
com produção muito pequenas,
não chegam a 2% da produção
mundial", diz Moreira.
E em relação ao sabor?
"Além da alta porcentagem de
cacau, dá para sentir vários sabores neste chocolate, é muito
complexo", explica o chef pâtisser Nicolas Galland, da L'Univers de Chocolat. "Os de origem
são os melhores do mundo. Estão bem acima dos tradicionais,
até mesmo dos produzidos pelas grandes marcas."
Provenientes dos mais distintos lugares, todos eles localizados no chamado "cinturão do
cacau" (área compreendida entre os trópicos de Câncer e Capricórnio), os grãos de cacau
são processados na Bélgica.
Da África, vêm as sementes
de cacau que dão origem ao
chocolates de origem São Tomé, Tanzânia, Gana e Madagáscar. Do continente americano,
há o Santo Domingo, o Grenade
e o Equador; da Ásia, o Java e o
Papua -veja no mapa à direita.
Mas, além de observar a origem, é interessante reparar na
porcentagem de cacau contida
em cada um. Há estudos que
mostram que os chocolates
com alta concentração de cacau
(acima de 56%) são ricos em
flavanóides, substância que diminui as chances de coagulação
do sangue, uma das causadoras
de derrames e ataques cardíacos. Boa notícia para os chocólatras respirarem aliviados nesta Páscoa...
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