São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

Mutantes em ritmo de novelão


"Promessas de Amor" enxertou um arremedo de novelão ao velho arremedo da versão trash de "Heroes"


PELO MENOS, os mutantes tinham piada. Agora, "Promessas de Amor", além do nome péssimo, afunda tentando botar um pé em cada barco.
Vejamos: os mutantes, depois de inúmeras peripécias, continuam no planeta Terra, agora perseguidos pelo governo que baixou uma lei antimutantes. Todos, inclusive os do bem, serão presos. Como diz o delegado Ferraz, parafraseando o delegado Sivuca da famigerada Scuderie Le Cocq, "mutante bom é mutante morto". Aliás, a paráfrase, pelo jeito, é mais ampla: o próprio Departamento de Pesquisa e Controle dos Mutantes, o Depecom, pelo jeito, vai se inspirar nos esquadrões da morte.
Enquanto isso, a mocinha, sequestrada pelo ex-namorado possessivo, chora num carro em disparada. O mocinho, num cavalo branco (isso mesmo, um cavalo branco), corre atrás, murmurando: "Ele está armado, aquele sociopata...". (E quem é que, num momento de tensão, perseguindo um sujeito armado, xinga com palavras de quatro sílabas?)
A nova novela da Record cumpriu o que prometeu nas chamadas antes da estreia: enxertou um novo arremedo de novelão ao velho arremedo da versão trash-brazuca de "Heroes". Por ora, os dois núcleos não se encontraram, a não ser num momento "Bridget Jones encontra os X-Men", em que mutante reclama com o namorado: "Deixa de ser mentiroso, Metamorfo!".
Ainda não se sabe como o autor vai mesclar esses dois mundos, da novela mais convencional com a novela destrambelhada. Uma das maneiras, ao que parece, é botar todo o núcleo de mutantes jovens numa mesma escola -momento ""X-Men" encontra "Malhação'"- para que floresçam amores entre mutantes e humanos. O que é de admirar é a insistência do núcleo de teledramaturgia no tema: a bem dizer, a obra de Tiago Santiago já é uma trilogia, que está no ar desde agosto de 2007. E isso, de forma ininterrupta, coisa inédita, salvo engano, na televisão brasileira.
Como alternativa às mirabolâncias indianas da Globo, funciona muito mal. As cenas de ação, que já foram razoáveis, pelo menos nos primeiros capítulos das outras encarnações, desta vez vieram simplesmente patéticas. Um exemplo: duas crianças escapam de um vilão e encontram outro de arma em punho/corta/o menino aciona seu superpoder/fogem/encontram a supervilã também armada/corta/o menino, de novo e em gesto idêntico, aciona seu superpoder. E por aí vai.
E os pobres atores nesta terceira encarnação parecem cansados -se não física, pelo menos mentalmente. O que mais pode explicar a inexpressividade com que recitam diálogos?

biabramo.tv@uol.com.br


Texto Anterior: Novelas da semana
Próximo Texto: Televisão/Crítica: Sellers se multiplica em filme de Kubrick
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.