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TEATRO
Monólogo que estréia sexta em São Paulo exibe texto redigido durante os anos de prisão pelo escritor irlandês
Andreato encena Oscar Wilde no cárcere
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
``Oscar Wilde, quando desce de
seu pedestal, não é nada interessante.'' A frase foi escrita numa
carta por lorde Alfred Douglas, ou
Bosie, como Wilde preferia chamar o jovem amante que acabou
provocando seu encarceramento
na prisão de Reading há exatamente cem anos.
Mas o julgamento do rapaz se
mostra equivocado para quem assistir a ``Oscar Wilde'', o monólogo escrito e interpretado por Elias
Andreato, que estréia na próxima
sexta-feira em São Paulo.
Tendo por base o texto ``A Balada do Cárcere'' (De Profundis),
uma carta a Bosie escrita nos dois
anos de prisão, Andreato mostra a
transformação do dândi excêntrico, louco pela fama, num homem
que conhece o sofrimento provocado pelo total abandono.
Frasista brilhante, Wilde recebeu
uma edição primorosa nas mãos
de Andreato, que passou oito anos
trabalhando no projeto. Passagens
de ``A Alma do Homem sob o Socialismo'', ensaio em que o escritor
irlandês dispara conceitos sobre a
arte e a imprensa, e de ``O Retrato
de Dorian Gray'' também foram
adicionadas.
Vestindo apenas camisa, cuecas
brancas e um sapato alto de camurça preta, Elias dá início aos 50
minutos de espetáculo dizendo:
``Pior do que falarem mal é não falarem de você''.
Cela cenário
O cenário, quase completamente
vazio, representa a cela onde Wilde esteve em Reading. Há um espelho, uma taça, uma poltrona e um
varal com quatro pares de meias de
seda. Mas é o retrato gigante de
Bosie, pintado em uma das paredes, que preenche e domina a cela.
Aos poucos, o ator veste o terno
vermelho, deixando para o fim a
casaca com lapelas de veludo negro -Wilde era obcecado por
roupas, desenhando casacas ``revolucionárias'' para si próprio.
Mas alguns detalhes não deixam
esquecer que Andreato incorpora
um Wilde decadente: a cabeça está
coberta por uma rede de cabelo,
apenas uma das mãos tem as
unhas esmaltadas e, sob os olhos,
há grossos traços de maquiagem.
``Ele se deixou seduzir pela coisa. Foi testando sua ironia, até que
num momento estava totalmente
só. O que fica é o sofrimento, a
transformação, a beleza da alma'',
diz o ator.
Homossexualismo
A direção de Vivien Buckup
marca pelo trabalho corporal exibido por Andreato. ``Trabalhamos muito os trejeitos do personagem, o que viria do feminino, da
caricatura'', afirma ele.
A homossexualidade de Wilde
-na verdade o fato que define seu
destino- fica ressaltada ainda no
postal, que serve como uma espécie de programa da peça e é distribuído no início do espetáculo. No
cartão, Andreato posa como São
Sebastião.
``Quando terminei o roteiro,
queria que o final fosse uma imagem de São Sebastião flechado. Essa era a imagem que mais definia o
personagem, um misto de êxtase e
sofrimento. Depois, descobri que
era um dos quadros de que Wilde
mais gostava. Além disso, São Sebastião acabou sendo uma imagem adotada pelos gays. Isso define muito a personalidade e o universo da peça'', diz o ator.
Peça: Oscar Wilde
Autoria: Elias Andreato
Direção: Vivien Buckup
Onde: Studio Cristina Mutarelli (av. Nove
de julho, 3.913, tel. 011/885-7454)
Quando: sexta a domingo, às 21h30
Quanto: R$ 15
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