São Paulo, terça, 29 de abril de 1997.

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MODA
Os críticos Antoni & Allison participam da mostra JAM, que acontece no MAM do Rio e virá a SP em maio
Dupla procura ícones na história

RONALD VILLARDO
free-lance para a Folha

A dupla Antoni & Allison está no Rio para a mostra ``JAM'', de arte, foto, moda, design e multimídia vindos de Londres. Os dois ingleses são alguns dos mais ácidos e bem-humorados críticos da moda e da cultura de rua. Como divertidos terroristas fashion. A mostra está em cartaz no MAM carioca; chega a São Paulo em maio.
Com camisetas, broches, relógios e guarda-chuvas, por exemplo, Antoni & Allison buscam a comunicação por meio de palavras de ordem, frases de efeito, trocadilhos e ambiguidades. Não há semelhanças com outros artistas do uso da palavra como arma, como Barbara Krueger, Jenny Holzer e Karen Finley. Antoni & Allison inventaram sua própria fórmula.
Os dois começaram há dez anos em Londres. Formados em arte na descolada Central Saint Martins, moravam num conjunto habitacional. Sem grana, a vida dos dois era ir a clubes todo o tempo.
Começaram seu trabalho na tentativa de obter a comunicação, o que não conseguem falar nos clubes, ``onde as pessoas não conversam'', diz Antoni, 35.
Pensaram que a maneira mais rápida de alcançar a comunicação era através de camisetas, vendidas na casa das pessoas e em lojas.
A primeira leva de t-shirts, comprada pelo gigante Harvey Nichols, continha a palavra ``Idiot'', com um ``ha ha ha'' logo abaixo, ou ``I Love Wink-y'', algo como ``eu adoro piscar'', com alusão à flertar. Já nascia aqui o clima ``pra cima'' do trabalho da dupla.
Depois de três anos nessa linha, passaram a realizar roupas com pratos e cordas aplicadas, junto com o uso de broches sobre roupas de operários. Descobertos pelas modernas revistas inglesas, Antoni & Allison caíram nas graças da mídia e do público, passando a vender maciçamente no Japão.
Apareceram aí as embalagens a vácuo para calcinhas e t-shirts, que igualmente se transformaram em objetos de culto. Depois, roupas feitas para clubes, broches que piscam e o que eles chamam de ``arte cinética'', esculturas que se movem e ganham formas diferentes.
Supermercado
``Nunca nos preocupamos em ser modernos. Se alguém se auto-intitula moderno é motivo para você começar a desconfiar.'', diz Allison. ``Não procuramos ícones nos anos 90, mas na história. Picasso, por exemplo, seria um ícone, se eu tivesse que pensar em algum.''
A desconcertante simplicidade dos trabalhos da dupla vem da falta de tempo das pessoas para a comunicação, diz Allison. As frases são curtas porque já há um excesso de informação à volta, nessa era da comunicação. Antes de ir embora os dois solicitaram ao British Council uma ida a um supermercado carioca: ``É nossa maior fonte de inspiração, junto com o universo da publicidade''.

NOTAS

*Com fotos de Ernesto Baldan e produção de moda de Felipe Velloso, a marca Equatore mostra bonito catálogo, com as louras Ana Hickman e Fabiana Saba. Aliás Saba, na passarela, tem se mostrado uma espécie de herdeira o estilo Ira Barbieri de ser e viver.

*Sommer fez o caminho inverso de novo, como sua estréia no Phytoervas Fashion, ao colocar seus modelos no sentido contrário da passarela. O estilista, por sua vez, não entrou para agradecer os aplausos, como já é seu habitual.

*A Ellus teve a platéia mais concorrida. Artistas e descolados cariocas e o diretor de desfiles Paulo Borges, em cada vez mais rara aparição na cena fashion.

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