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LIVRO
Publicação da história de Salvatore Gravano, envolvido em 19 assassinatos, revolta parentes de suas vítimas
Vida de mafioso causa polêmica nos EUA
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
de Nova York
O livro "Underboss" (tradução
possível: O Subordinado), que retrata a vida de Salvatore Gravano
na máfia, está provocando polêmica nos Estados Unidos. E, de quebra, uma batalha judicial envolvendo o Estado de Nova York, famílias das vítimas do mafioso, o
autor do livro (Peter Maas) e a editora que o publicou.
Direta ou indiretamente, Gravano participou de 19 assassinatos.
Não foi tanto pelos crimes que ele
ficou conhecido, mas por ter testemunhado contra John Gotti, exercendo papel importante na condenação do chefão da máfia nova-iorquina à prisão perpétua.
Para escrever a obra, o autor Peter Maas gravou cerca de 65 horas
de conversas com o mafioso, ao
longo de 18 meses.
"Todos os nossos encontros foram feitos com o conhecimento da
polícia, que lhe dava proteção,
mas cada um num lugar diferente", explicou Maas à Folha.
Lançado há duas semanas, o livro já está nas listas dos dez mais
vendidos nos Estados Unidos.
O lançamento da obra, no entanto, revoltou as famílias das vítimas
de Gravano, que decidiram pedir
na Justiça o bloqueio dos lucros
com a venda dos 225 mil exemplares distribuídos pelas livrarias norte-americanas.
Uma lei de 1987 proibia criminosos de faturarem vendendo histórias sobre seus crimes. Quatro
anos depois, a lei foi considerada
inconstitucional. Em 1992, porém,
acabou sendo modificada, dando
às vítimas o direito de exigir os lucros auferidos pelos criminosos.
Dennis Vacco, promotor do Estado de Nova York, quer que o autor e a editora HarperCollins provem que Gravano não recebeu dinheiro para contar sua história.
A HarperCollins alega ter assinado contrato com Peter Maas, não
com Gravano. E o autor se recusa a
mostrar o contrato, alegando que
seria invasão de privacidade.
"Eu sou a vítima. Tive um trabalhão, desvendei a alma da máfia,
no mínimo tenho direito a lucrar
com minha obra", disse Maas.
"Se Sammy Gravano pode aparecer na rede de TV ABC, o que há de
errado em ter falado comigo?"
"Temos de parar de ser hipócritas. As vítimas de Gravano eram,
de uma forma ou de outra, ligadas
à máfia, algumas até mais perigosas do que ele. E não pode ser mera
coincidência seus familiares terem
contratado para me atacar o mesmo advogado que defendeu John
Gotti", completou o autor.
Além do livro, uma versão em
áudio, narrada pelo ator Philip
Bosco, está à venda nos EUA.
Em "Underboss", Peter Maas
faz questão de defender Sammy
Gravano e o "pacto de honra"
que existe entre os mafiosos.
"A máfia exige uma lealdade que
não se encontra em outro lugar",
diz Maas. "Não foi Sammy Gravano quem traiu a máfia, nem foi ela
quem o traiu. Como ele mesmo me
disse, John Gotti não representava
a verdadeira máfia."
O autor acha que Gravano mostrou ser um homem corajoso.
"Não é todo mundo que teria peito para enfrentar John Gotti."
Segundo o escritor, Gravano deixou o programa federal que lhe dava proteção policial 24 horas por
dia. "É a maior prova de que ele
não tem medo de nada."
Vivendo em lugar ignorado, o
ex-mafioso teria encontrado emprego. "Ele está se virando bem."
Além de ter sua história contada
por Peter Maas, Sammy Gravano
deu uma entrevista para a apresentadora Diane Sawyer, da ABC.
Ele aproveitou a ocasião para fazer seu marketing pessoal, referindo-se a si próprio como a um herói.
"Você pode me comparar a um
soldado no Vietnã que teve de matar centenas de pessoas", foi uma
de suas declarações.
De acordo com a emissora de
TV, que comemorou a audiência
conseguida com a entrevista, Gravano não recebeu um centavo por
ter participado do programa.
Livro: "Underboss"
Autor: Peter Maas
Editora: HarperCollins (importado)
Quanto: US$ 25 (308 págs.)
Onde encomendar: Livraria
Cultura (tel. 011/285-4033)
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