São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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TEATRO

Diretora monta na tela e no palco, ao mesmo tempo, nova versão para "Casa de Bonecas", que estréia quinta no Rio

Bia Lessa relê Ibsen em "filme-peça"

Divulgação
Betty Gofman e José Mayer em cena de "Casa de Boneca"


MARCELLA FRANCO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em nenhuma de suas versões, tanto em teatro quanto em cinema, o texto de "Casa de Bonecas", escrito pelo dramaturgo norueguês Henrik Ibsen em 1879, ganhou desfecho diferente: invariavelmente, Nora Helmer, personagem principal, sempre termina abandonando seus deveres de mãe e esposa, faz as malas e agarra, decidida, uma nova vida. Bate a porta e pronto, fim.
Pela primeira vez, a partir da próxima quinta-feira, o público vai finalmente ganhar uma dica daquilo que Ibsen não previu -não se sabe se Nora um dia volta, se casa de novo, pula da ponte ou vira dançarina. Quem dá o palpite é a diretora Bia Lessa, que estréia no Rio, no Centro Cultural Banco do Brasil, uma nova leitura de "Casa de Boneca" (no singular mesmo), num formato que batizou de "filme-peça": numa tela, vê-se uma nova versão da história clássica. Depois, no palco, vem o tal novo desfecho.
Desfecho esse que, apesar de inovador, não é visto pela diretora como o grande trunfo de seu projeto. Lessa prefere exaltar, entre outras coisas, a nova linguagem que experimenta. "É como a atitude de Nora, romper com o usual para cair no desconhecido. Em vez de uma só mídia, resolvi trabalhar com duas", explica.
Na tela, a diretora selecionou atores que dificilmente veriam-se reunidos no mesmo teatro. Nora é Betty Gofman, que já havia trabalhado com Lessa na peça "Viagem ao Centro da Terra", de 1993. Seu marido, Torvald, ganha vida com interpretação de José Mayer. Julia Lemmertz, que também esteve em "Viagem", é Cristina Linde, amiga de Nora. José Wilker (Dr. Rank), Cassio Gabus Mendes (Nils Krogstad) e Karine Teles (Helen) completam o elenco.
Já no palco, Betty Gofman assume sozinha a função de revelar o que, na visão de Lessa, aconteceu a Nora. São aproximadamente cinco minutos de peça que a diretora vem guardando a sete chaves. "Esse teatro que aparece depois é muito revelador. Não quero tirar o impacto da surpresa."
O filme, rodado em 16 dias no bairro de Santa Teresa, reduto jovem e moderno da zona sul do Rio, dura por volta de uma hora e meia. "Acho que não saberia montar esse texto só no teatro por causa de seu realismo", acredita Lessa. "Por isso levei a maior parte para o cinema, onde me senti mais à vontade para criar."
Mas, mesmo com essa liberdade, a diretora manteve-se fiel à atmosfera de Ibsen. A não ser por algumas adaptações (Dr. Rank agora é um judeu ortodoxo, por exemplo), ela procurou recriar quase toda a vida da família Helmer. A época é a mesma (o que se nota pelos figurinos monocromáticos de papel), o clima frio, também. Até um entregador, que no texto original tem apenas uma fala, ganhou espaço. Quem faz o personagem-relâmpago é o músico Arnaldo Antunes.


CASA DE BONECA - Texto: Henrik Ibsen.
Direção: Bia Lessa. Com: Betty Gofman, Julia Lemmertz, José Mayer, José Wilker, Cassio Gabus Mendes, Karine Teles e Arnaldo Antunes. Onde: Teatro I - Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, Centro, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020). Quando: de 2 de maio a 30 de junho; de qua. a dom., às 19h. R$ 10.




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