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TEATRO
"Grandes Dramaturgos" estréia com 12 livros e promessa de fazer panorama da melhor dramaturgia dos últimos 25 séculos
Coleção tira clássicos teatrais das coxias
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os leitores brasileiros dos clássicos do teatro mundial vinham esperando, esperando, esperando,
como os personagens que aguardam a chegada de Godot. Tal como Godot, na peça de Samuel
Beckett, eles não apareciam. Há
quase 30 anos as livrarias nacionais não viam a publicação sistemática de grandes textos da dramaturgia universal.
E eis que de um pequeno escritório de um prédio espremido entre duas lojas de móveis, em uma
das ruas mais movimentadas de
São Paulo, a Teodoro Sampaio,
chegam as boas novas (o reino da
Dinamarca não apodreceu).
Com menos de dois anos de vida, e só dois títulos no catálogo, a
diminuta editora Peixoto Neto leva às livrarias na próxima semana, de uma tacada só, 12 volumes
da coleção "Grandes Dramaturgos", que pretende publicar "o
que de melhor foi escrito no gênero dramático em 25 séculos: das
antigas tragédias gregas até as
obras dos melhores dramaturgos
contemporâneos".
A primeira dúzia de livros percorre todo o arco prometido pelo
enunciado acima. Vai do "Rei
Édipo", de Sófocles, com jovens
2.500 anos, até a contemporânea
"É..." (1977), de Millôr Fernandes,
único brasileiro do pacote.
"Classicões" como "A Mandrágora", de Maquiavel, e "Hamlet",
de Shakespeare, e um grande pacote de "standards" do século 20,
como "Longa Jornada Noite
Adentro", de Eugene O'Neill, e
"Um Bonde Chamado Desejo",
de Tennessee Williams, dão formato à safra inicial da coleção.
Ainda que lançada por uma editora novata, "Grandes Dramaturgos" é fruto de dois anos de ensaios, dirigidos por nomes calejados do teatro brasileiro.
Coordenada pela experiente
professora de teoria do teatro da
USP Silvana Garcia, com consultoria das pesquisadoras Maria
Thereza Vargas e Mariângela Alves de Lima, a coleção é reforçada
por um time de prefaciadores e
tradutores de longas coxias.
"A Mandrágora", de Maquiavel,
por exemplo, é prefaciada por
Gianni Ratto; "A Profissão da Sra.
Warren", de Bernard Shaw, tem
apresentação de Sérgio Viotti. Ilka
Marinho Zanotto, Aimar Labaki,
Maria Sílvia Betti, Alberto Guzik,
Fátima Saadi são alguns dos demais introdutores.
Se os prefácios são quase todos
inéditos, uma parte das traduções
já havia chegado ao mercado, em
algum lugar do passado. As versões de "Longa Jornada...", por
Helena Pessoa, de "Sra. Warren",
por Cláudio Mello e Souza, e de
"Hamlet", por Millôr Fernandes,
por exemplo, haviam saído na coleção "Teatro Vivo", da Abril Cultural, última grande coleção de
teatro universal, lançada em 1976.
"Os próximos lançamentos deverão ter traduções inéditas",
promete o publisher da editora,
João Baptista Peixoto Neto, que já
tem em "Grandes Dramaturgos"
versões brasileiras assinadas por
grandes tradutores de hoje, como
Sérgio Flaskman (Pirandelo) e
Paulo Neves (Ionesco).
Advogado da área de mercado
de capitais, que se lançou no universo editorial arrastado pela
"paixão pelos livros", Peixoto trabalha com a expectativa de publicar pelo menos 12 novos títulos
teatrais por ano, todos no padrão
atual, com capa dura, ilustrada
por fotos de montagens brasileiras da peça, com prefácio e um
pequeno dossiê sobre o autor.
A Peixoto Neto também deve se
expandir para ciências sociais,
história e literatura, áreas nas
quais a editora já tem diversos títulos em preparação. Mineiro
(parente de Guimarães Rosa), o
editor é cauteloso em falar desses
projetos futuros. "Vai que depois
não consigo cumpri-los."
Dos planos que deixa anunciar,
estão coleções como Teatro Hoje
(com a qual estreou a editora,
com o livro "W;T", de Margaret
Edison) e Teatro do Mundo Inteiro. "O nicho de livros de teatro está totalmente abandonado", diz.
Silvana Garcia fala no mesmo
tom. "Infelizmente as editoras
não acham que teatro seja uma
mercadoria vendável", diz a coordenadora da coleção, atual chefe
da Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo. "É pena.
Uma coleção como "Grandes Dramaturgos" mexe com um repertório que deveria ser leitura obrigatória para todos, não só aos interessados em teatro", afirma.
Segunda-feira, os 60 mil exemplares estréiam nas livrarias com
essa missão. E cai o pano.
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