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RAP/"THE MASSACRE"
50 Cent dispara clichês do gangsta
DA REPORTAGEM LOCAL
O termo gangsta rap, cunhado nos anos 90 para classificar um tipo de hip hop americano
misógino, que exaltava armas e
dinheiro, nunca foi levado tão ao
pé da letra como neste "The Massacre", segundo álbum do milionário Curtis Jackson, o 50 Cent.
Barulhos de pistolas sendo carregadas, tiros, xingamentos e auto-exultação percorrem quase todo o CD. Difícil encontrar disco
tão materialista, machista, homofóbico e gratuitamente violento.
Não que seja inédito; Tupac Shakur, N.W.A. e Snoop Dogg, nomes fortes do gangsta, faziam músicas movidas a insultos e bravatas, mas temperadas com humor,
ironia e até um toque depreciativo. Com 50 Cent, não há espaço
para brincadeiras e metáforas.
"Tenho munição suficiente para explodir/ Abro um buraco em
cada filho da (...) por aí", grita em
"This is 50". Em "In My Hood",
ele diz que vai surrar a namorada
de um rival. Por este álbum, vê-se
que 50 Cent não tem a sutileza de
Kanye West, não é esperto como
Snoop Dogg nem sexy como
Missy Elliott, não é inventivo como Mos Def e suas novas produções nem de longe se comparam
às de Dr. Dre e Neptunes.
Ele nunca conseguiria fazer
uma faixa como "Stan", em que
Eminem usa a metalinguagem
para contar a história de um fã
obcecado que manda uma carta
ameaçadora ao seu rapper predileto. 50 Cent é bronco, suas letras
vão atropelando tudo e todos;
brincar que ele é delicado como
um elefante numa loja de vasos
seria menosprezar a capacidade
elástica do elefante.
Mas não foi sempre assim. Há
dois anos, 50 Cent apareceu com
"In Da Club", excelente faixa com
forte apelo dance que impulsionou o disco "Get Rich or Die
Tryin'" a vender quase 12 milhões
de cópias no mundo. Canções como "Wanksta" e "21 Questions"
tinham sacadas de letra e ritmo.
Em 2004, São Paulo e Rio puderam conferir o rapper ao vivo, em
dois shows. Ele foi bastante criticado por, aparentemente, ter-se
apoiado em playback. Não é verdade; 50 Cent usou bases pré-gravadas em algumas canções, mas
nunca fingiu estar cantando.
Já "The Massacre" é tão exagerado que chega a ser cômico. Em
"Piggy Bank", por exemplo, 50
Cent ataca "adversários" como
Fat Joe, Jadakiss e Nas. Mas ele tira sarro de Fat Joe chamando-o de
"fat" (gordo) -ou seja, tão ofensivo quanto "xingar" Bezerra da
Silva de malandro...
O disco é produzido por um
monte de gente, de Dr. Dre até
Eminem. As boas idéias do álbum
são "Candy Shop" e "Disco Inferno", que, não por coincidência,
lembram "In Da Club". Já "So
Amazing" ganha ao ser puxada
por uma levada meio r&b.
No todo, ouvir 50 Cent neste
"The Massacre", com suas 22 faixas, é como assistir a Charles
Bronson em "Desejo de Matar",
em toda a sua virulência desenfreada e obsessiva; tem os seus
momentos, pode até virar cult,
mas, no fundo, você sabe que alguma coisa ali está errada.
(THIAGO NEY)
The Massacre
Artista: 50 Cent
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média
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