São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RAP/"THE MASSACRE"

50 Cent dispara clichês do gangsta

DA REPORTAGEM LOCAL

O termo gangsta rap, cunhado nos anos 90 para classificar um tipo de hip hop americano misógino, que exaltava armas e dinheiro, nunca foi levado tão ao pé da letra como neste "The Massacre", segundo álbum do milionário Curtis Jackson, o 50 Cent.
Barulhos de pistolas sendo carregadas, tiros, xingamentos e auto-exultação percorrem quase todo o CD. Difícil encontrar disco tão materialista, machista, homofóbico e gratuitamente violento. Não que seja inédito; Tupac Shakur, N.W.A. e Snoop Dogg, nomes fortes do gangsta, faziam músicas movidas a insultos e bravatas, mas temperadas com humor, ironia e até um toque depreciativo. Com 50 Cent, não há espaço para brincadeiras e metáforas.
"Tenho munição suficiente para explodir/ Abro um buraco em cada filho da (...) por aí", grita em "This is 50". Em "In My Hood", ele diz que vai surrar a namorada de um rival. Por este álbum, vê-se que 50 Cent não tem a sutileza de Kanye West, não é esperto como Snoop Dogg nem sexy como Missy Elliott, não é inventivo como Mos Def e suas novas produções nem de longe se comparam às de Dr. Dre e Neptunes.
Ele nunca conseguiria fazer uma faixa como "Stan", em que Eminem usa a metalinguagem para contar a história de um fã obcecado que manda uma carta ameaçadora ao seu rapper predileto. 50 Cent é bronco, suas letras vão atropelando tudo e todos; brincar que ele é delicado como um elefante numa loja de vasos seria menosprezar a capacidade elástica do elefante.
Mas não foi sempre assim. Há dois anos, 50 Cent apareceu com "In Da Club", excelente faixa com forte apelo dance que impulsionou o disco "Get Rich or Die Tryin'" a vender quase 12 milhões de cópias no mundo. Canções como "Wanksta" e "21 Questions" tinham sacadas de letra e ritmo.
Em 2004, São Paulo e Rio puderam conferir o rapper ao vivo, em dois shows. Ele foi bastante criticado por, aparentemente, ter-se apoiado em playback. Não é verdade; 50 Cent usou bases pré-gravadas em algumas canções, mas nunca fingiu estar cantando.
Já "The Massacre" é tão exagerado que chega a ser cômico. Em "Piggy Bank", por exemplo, 50 Cent ataca "adversários" como Fat Joe, Jadakiss e Nas. Mas ele tira sarro de Fat Joe chamando-o de "fat" (gordo) -ou seja, tão ofensivo quanto "xingar" Bezerra da Silva de malandro...
O disco é produzido por um monte de gente, de Dr. Dre até Eminem. As boas idéias do álbum são "Candy Shop" e "Disco Inferno", que, não por coincidência, lembram "In Da Club". Já "So Amazing" ganha ao ser puxada por uma levada meio r&b.
No todo, ouvir 50 Cent neste "The Massacre", com suas 22 faixas, é como assistir a Charles Bronson em "Desejo de Matar", em toda a sua virulência desenfreada e obsessiva; tem os seus momentos, pode até virar cult, mas, no fundo, você sabe que alguma coisa ali está errada.
(THIAGO NEY)


The Massacre
  
Artista: 50 Cent
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média


Texto Anterior: CDs - Instrumental: Gravadora inglesa descobre disco inédito de João Donato
Próximo Texto: Nas lojas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.