São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2000


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CINEMA
Evento na Sala Uol discutiu o 2º longa da cineasta
Filme de Tata Amaral inverte o mito de Édipo, conclui debate

DA REPORTAGEM LOCAL

Discussões sobre a tragédia como gênero dramático e as estéticas do cinema nacional marcaram o debate realizado após a exibição, no último dia 18, do filme "Através da Janela", segundo longa de Tata Amaral.
O evento, promovido pela Folha, AF Cinema e Vídeo e Universo Online, aconteceu na Sala UOL de Cinema, em SP. Participaram Fernando Bonassi, escritor e roteirista do filme, Maria Rita Kehl, psicanalista, Rubens Machado, professor de cinema da ECA-USP, e a cineasta Tata Amaral.
O filme mostra o cotidiano de uma mãe superprotetora, Selma (Laura Cardoso), e seu filho, Raimundo (Fransérgio Araújo), que vivem uma relação aparentemente incestuosa. Mas a vida estável termina quando Raí passa a receber ligações de uma mulher misteriosa e a chegar tarde em casa.
Rubens Machado situou o filme de Tata Amaral na atual conjuntura do cinema nacional, destacando sua temporalidade. "Impressiona essa capacidade rara num filme brasileiro de trabalhar com o tempo. A capacidade de fazer com que a circunstância do personagem nos ponha em uma situação de grande densidade é um elemento estilístico que falta ao cinema brasileiro recente. Isso diferencia os dois longas da Tata Amaral da maior parte dos filmes nacionais desta década", afirmou.
Maria Rita Kehl falou sobre a tragédia na psicanálise. "A tragédia surge como aquilo que a gente chama de encontro com o destino, que assume a forma do encontro com o desejo", disse. Para ela, "Através da Janela" traz invertido o mito de Édipo (o filho que deseja a mãe). "Aqui, a mãe é edipiana, é o personagem trágico, e o filho é o objeto dessa mãe."
Fernando Bonassi falou sobre o processo de criação do roteiro. "A gente procurou trabalhar as informações em cinco dias, em sequência. Cada dia contém as mesmas ações. Do primeiro ao último, as mesmas coisas acontecem, e colocamos ruídos para construir a história. São cinco curtas de 12 minutos cada", disse.
Tata Amaral, que estava na platéia, falou sobre como o filme nasceu. "Começou com um desejo de continuar o estudo sobre a estrutura da tragédia. O argumento surgiu quando vimos Laura Cardoso na peça "Vereda da Salvação", com Luís Mello falando às massas, e ela saindo do fundo e parando atrás dele."


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