São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 2006

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Livro rememora a vanguarda paulista

Cena emergente da qual sairiam Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção é retratada em "Na Boca do Bode"

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um episódio quase esquecido lança novas luzes sobre a geração musical conhecida como vanguarda paulista. No livro "Na Boca do Bode -Entidades Musicais em Trânsito", que será lançado no próximo sábado, em São Paulo, o paulistano Fabio Henriques Giorgio mostra que as obras de Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção foram geradas numa emergente cena artística, no norte do Paraná, onde os dois se conheceram, antes de se radicarem em São Paulo. O ponto de partida do livro é um show realizado em março de 1973, no Teatro Universitário de Londrina. Além de Arrigo e do estreante Itamar, também participaram do evento parceiros essenciais na trajetória do autor de "Clara Crocodilo": seu irmão, o compositor e baterista Paulo Barnabé; sua primeira intérprete, a cantora Neuza Pinheiro, e o produtor Robinson Borba. "Na Boca do Bode" foi um espetáculo alternativo cujo espírito renovador assemelhava-se ao dos primeiros shows coletivos da Bossa Nova, no final dos anos 50, no Rio. Remete também a "Nós, Por Exemplo", show que lançou em 1964, em Salvador, os futuros tropicalistas Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa. "Logo vi que aquele show era conseqüência de uma cena desencadeada pelos festivais universitários de Londrina, onde uma série de nomes despontou em várias áreas criativas", diz Giorgio, referindo-se ao escritor Domingos Pellegrini, à poeta Mirian Paglia Costa, à diretora teatral Nitis Jacon ou à atriz e cantora Denise Assunção, entre outros. Giorgio resgata personagens e o ambiente da cena cultural londrinense, no início dos anos 70, de modo pouco convencional. Sua narrativa mistura linguagem jornalística com tiradas poéticas. Fartamente ilustrado, o livro é estruturado em capítulos temáticos, sem ordem cronológica. Ao final, traz entrevista com Arrigo e fichas técnicas de discos e festivais de música. Entre várias histórias saborosas, o livro fornece detalhes sobre a arbitrária prisão de Itamar, em Londrina, em meio aos ensaios do show "Na Boca do Bode". O compositor ficou preso durante cinco dias por portar, "sem nota fiscal", um gravador do parceiro Domingos Pellegrini. "Foi na cadeia que ele criou a expressão "isca de polícia'", conta Giorgio, referindo-se ao nome da lendária banda que passou a acompanhar Itamar em seus shows, anos depois, já em São Paulo. Falando com intimidade sobre as obras de Arrigo e Itamar, o autor não esconde sua indignação frente ao quase ostracismo que os dois enfrentaram, na década de 90. "Criaram uma zona de silêncio em torno da obra deles, como se eles fossem criadores menores. Para mim, Arrigo e Itamar estão no mesmo patamar de Gil, de Caetano, de Chico, dos grandes compositores brasileiros". O livro será lançado no sábado, dia 3, a partir das 14h, no Espaço Plínio Marcos (praça Benedito Calixto, Pinheiros, São Paulo), com participações musicais do guitarrista Tonho Penhasco e dos cantores Neuza Pinheiro e Renato Gama.


CARLOS CALADO é jornalista e crítico musical, autor do livro "A Divina Comédia dos Mutantes", entre outros.

NA BOCA DO BODE Autor: Fabio Henriques Giorgio
Editora: Atrito Art
Quanto: R$ 40 (140 págs.)
Contatos: nabocadobode@gmail.com.br


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