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Livro rememora a vanguarda paulista
Cena emergente da qual sairiam Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção é retratada em "Na Boca do Bode"
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um episódio quase esquecido lança novas luzes sobre a geração musical conhecida como
vanguarda paulista.
No livro "Na Boca do Bode
-Entidades Musicais em Trânsito", que será lançado no próximo sábado, em São Paulo, o
paulistano Fabio Henriques
Giorgio mostra que as obras de
Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção foram geradas numa
emergente cena artística, no
norte do Paraná, onde os dois
se conheceram, antes de se radicarem em São Paulo.
O ponto de partida do livro é
um show realizado em março
de 1973, no Teatro Universitário de Londrina. Além de Arrigo e do estreante Itamar, também participaram do evento
parceiros essenciais na trajetória do autor de "Clara Crocodilo": seu irmão, o compositor e
baterista Paulo Barnabé; sua
primeira intérprete, a cantora
Neuza Pinheiro, e o produtor
Robinson Borba.
"Na Boca do Bode" foi um espetáculo alternativo cujo espírito renovador assemelhava-se
ao dos primeiros shows coletivos da Bossa Nova, no final dos
anos 50, no Rio. Remete também a "Nós, Por Exemplo",
show que lançou em 1964, em
Salvador, os futuros tropicalistas Caetano Veloso, Gilberto
Gil e Gal Costa.
"Logo vi que
aquele show era
conseqüência de
uma cena desencadeada pelos festivais universitários
de Londrina, onde
uma série de nomes despontou em
várias áreas criativas", diz Giorgio,
referindo-se ao escritor Domingos
Pellegrini, à poeta
Mirian Paglia Costa, à diretora teatral Nitis Jacon ou
à atriz e cantora
Denise Assunção,
entre outros.
Giorgio resgata
personagens e o
ambiente da cena
cultural londrinense, no início
dos anos 70, de modo pouco
convencional. Sua narrativa
mistura linguagem jornalística
com tiradas poéticas.
Fartamente ilustrado, o livro
é estruturado em capítulos temáticos, sem ordem cronológica. Ao final, traz entrevista com
Arrigo e fichas técnicas de discos e festivais de música.
Entre várias histórias saborosas, o
livro fornece detalhes sobre a arbitrária prisão de Itamar,
em Londrina, em
meio aos ensaios do
show "Na Boca do
Bode". O compositor ficou preso durante cinco dias por
portar, "sem nota
fiscal", um gravador
do parceiro Domingos Pellegrini.
"Foi na cadeia que
ele criou a expressão
"isca de polícia'",
conta Giorgio, referindo-se ao nome da
lendária banda que
passou a acompanhar Itamar em seus
shows, anos depois, já em São
Paulo.
Falando com intimidade sobre as obras de Arrigo e Itamar,
o autor não esconde sua indignação frente ao quase ostracismo que os dois enfrentaram, na
década de 90.
"Criaram uma zona de silêncio em torno da obra deles, como se eles fossem criadores
menores. Para mim, Arrigo e
Itamar estão no mesmo patamar de Gil, de Caetano, de Chico, dos grandes compositores
brasileiros".
O livro será lançado no sábado, dia 3, a partir das 14h, no Espaço Plínio Marcos (praça Benedito Calixto, Pinheiros, São
Paulo), com participações musicais do guitarrista Tonho Penhasco e dos cantores Neuza
Pinheiro e Renato Gama.
CARLOS CALADO é jornalista e crítico musical,
autor do livro "A Divina Comédia dos Mutantes", entre outros.
NA BOCA DO BODE
Autor: Fabio Henriques Giorgio
Editora: Atrito Art
Quanto: R$ 40 (140 págs.)
Contatos: nabocadobode@gmail.com.br
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