Com software próprio e controles de jogo no lugar de instrumentos, nerd de programação americano criou a Guitar Zeros, que começa a excursionar pelos EUA

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

O real imita o virtual. O game Guitar Hero é uma espécie de karaokê de guitarristas, e é jogado a partir de controles em formato de guitarra. Dá para tentar reproduzir os riffs de hinos roqueiros como "Smoke on the Water" (Deep Purple), "Iron Man" (Black Sabbath) e "I Wanna Be Sedated" (Ramones). Pois alguns músicos americanos montaram uma banda utilizando como instrumentos os apetrechos do game.
O grupo Guitar Zeros começou, claro, como uma brincadeira para ser levada na casa de Owen Grace, nerd de programação de computadores que adora rock e que já havia tocado em algumas bandas.
"Em fevereiro passado, convenci três amigos a formar uma banda de rock diferente, em que não tocaríamos guitarras "normais'", disse, por e-mail, à Folha. "Expliquei a idéia de usar como instrumentos os controles do Guitar Hero."
Os amigos toparam e, pouco depois, a banda já tinha o primeiro show marcado, em San Francisco. "Nós tínhamos alguns amplificadores e uma bateria que usávamos em bandas anteriores. Eu tenho algum conhecimento de programação e sabia que, com a tecnologia atual, poderia concretizar a minha idéia de transformar os controladores do game em instrumentos de verdade", conta.
Grace trabalhou dois meses buscando a melhor maneira de conectar as guitarras de brinquedo em um laptop com softwares desenvolvidos por ele.
Os controles do game Guitar Hero têm o formato de guitarra (da tradicional Gibson SG), mas não possuem cordas -o braço da guitarra tem cinco botões coloridos, de onde saem as notas. Em vez de palheta, o "guitarrista" toca por meio de um interruptor, que é acionado para cima e para baixo (ver a imagem nesta página). Para tocar, o jogador aperta um dos botões no braço e manipula o interruptor ao mesmo tempo.
Para brincar com o game, que está disponível para Playstation e Xbox 360, o jogador deve repetir no controle os movimentos que aparecem na tela, que simulam riffs de músicas conhecidas. Para tocar ao vivo, Owen Grace "pluga" os controles em um laptop. Um dos controles funciona como guitarra, o outro, como baixo.

Bateria de verdade
Um software desenvolvido por ele dá corpo às notas tocadas nos instrumentos. A banda é completada por um vocalista e um baterista -com bateria de verdade... Mas é possível fazer com as guitarras do game tudo o que uma guitarra normal faz?
"A verdadeira pergunta deveria ser: "Uma guitarra normal consegue fazer tudo o que o controle do Guitar Hero faz?'", responde Grace. "Ainda não dá para saber."
O que dá para saber é que a brincadeira dos Guitar Zeros está se tornando cada vez mais séria. A band ajá realizou uma série de shows pela costa Oeste dos EUA. Suas músicas podem ser ouvidas no www.myspace. com/theguitarzeros ou no www.theguitarzeros.com. No YouTube, há vídeos com imagens de alguns shows.
"Até agora, as pessoas têm sido bem receptivas nos shows. Quando elas nos vêem empunhando nossas guitarras de plástico, já começam a se divertir. E depois que percebem que nós conseguimos fazer com aqueles cinco botões coloridos muito mais do que cinco tipos de sons, elas ficam intrigadas."
"Mas muita gente não entende como fazemos isso. Alguns nos acusaram de tocar usando playback...", diverte-se Grace.
Uma outra vantagem, diz ele, é que como os controles tanto do baixo como da guitarra são plugados no mesmo laptop, eles estão sempre no mesmo tom. "O problema é a afinação do nosso vocalista..."


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