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CINEMA - ESTRÉIA
Pregador Inspira Robert Duvall
BRIDGET SWENSEN
da "International Feature Agency"
"O Apóstolo" é o novo filme de
Robert Duvall. Ele escreveu, produziu, dirigiu e estrelou, fazendo o
papel de um pregador pentecostal
chamado Sonny. Algumas pessoas
podem achar o tema do filme um
tanto quanto controvertido, mas o
filme em si não é.
O filme conta a história do amor
de um homem pela igreja e a pregação e de sua viagem pela vida,
com Deus sempre a seu lado. É
ambientado no sul dos Estados
Unidos, onde a vida do protagonista vira de ponta-cabeça quando
ele flagra sua mulher, representada por Farrah Fawcett, com um
pregador mais jovem, Horace
(Todd Allen).
Pergunta - De onde veio a inspiração para fazer um filme sobre
um pregador?
Resposta - Vi um pregador desses muitos anos atrás em Hughes,
Arkansas. Eu sempre quis representar um deles. Depois houve um
filme que não deu certo, "The
Kingdom", no qual eu talvez fosse
trabalhar. Quando esse projeto
deu errado, eu já tinha estudado
muito, ido ao Texas um mês por
ano para pesquisar. Então pensei
que talvez tivesse que escrever
meu próprio roteiro e foi isso que
acabei fazendo. Eu sempre quis representar um pregador desses porque, em termos culturais, o pregador é uma das formas de arte americana. Além disso, é uma justaposição antiga e interessante de raças
e os vários estilos de pregar que se
sobrepõem. Isso sempre me interessou, porque, em termos visuais,
essa forma de adoração é uma coisa meio teatral.
Pergunta - É espantoso. Você
tem várias cenas em que fica pregando e aquela perto do final parece que não vai terminar nunca.
Resposta - Sim, eu preguei por
20 minutos. Eu não quis cortar
muito porque, afinal, o sujeito é
pregador, então a platéia precisa
ver o que ele faz. Esse é o teatro
espiritual dessas pessoas, é isso
que elas vêm ver quando vão a essas igrejas. Então eu quis garantir
minha pregação no final.
Pergunta - Foi uma coisa improvisada?
Resposta - Não, ela consta do
roteiro. Mas dentro dela há uma
espécie de processo em andamento. Além disso, eu não tinha decorado o roteiro, então ficava sempre procurando o papel, assim (estala os dedos), e, quando não sabia o que dizer, falava: "alguém
me dê um amém", e todos diziam
amém, e eu tinha tempo de pensar
em alguma coisa. Sim, foi uma coisa que eu sempre quis fazer e que
foi muito especial para mim.
Pergunta - Foi difícil vender a
idéia do filme?
Resposta - Muito.
Pergunta - Como foi esse processo?
Resposta - Durante anos ninguém queria investir um níquel,
nem em Los Angeles nem em Nova
York ou em lugar algum. Um dia,
foi meu empresário que me disse
"acho que você já tem dinheiro
suficiente para bancar esse filme".
Então ele deu a luz verde, por assim dizer, um ano e meio atrás. Eu
já havia feito dois filmes nos quais
gastei meu dinheiro e não necessariamente o recuperei, então eu não
disse nada. Mas quando meu empresário tocou no assunto, já tinha
virado uma coisa de "agora ou
nunca", então resolvemos ir em
frente.
Pergunta - E agora que o filme
está pronto e ficou maravilhoso,
você recuperou seu dinheiro?
Resposta - Recuperei tudo e
mais um pouco. A October Films e
a Miramax começaram uma guerra de lances, mas nenhuma delas
chegou perto do que havíamos
imaginado. Finalmente eu disse:
"Não sou louco por dinheiro, vamos fechar esse negócio e recuperar o que gastei. Isso é ótimo". Assim, a October financiou o filme a
posteriori, por assim dizer. E todos
nós temos a chance de ganhar
mais, se o filme se sair bem. E há
um álbum gospel muito bom,
acho, que vai sair dele.
Pergunta - Você ficou preocupado com a possibilidade de exagerar na caracterização do pregador?
Resposta - Não, porque já passei muito tempo com esses caras. E
eles realmente dão tudo o que têm.
Essa coisa de ser meio exagerado
pode ser sobrestimada às vezes,
porque se você ainda está dentro
dos limites de seu temperamento,
é uma coisa válida. Mas esses pregadores fazem assim mesmo. Há
um sujeito em Los Angeles chamado reverendo F. V. Hill, do Texas.
Eu o conheci numa igreja em
Brooklyn, anos atrás. Quando começamos a fazer o filme, alguém
me mandou um vídeo dele pregando no enterro de sua própria
mulher. Foi espantoso.
Pergunta - Já ouvi comentários
sobre uma possível indicação para
o Oscar para esse filme.
Resposta - Quanto a isso, nunca se sabe. Se acontecer, ótimo. Será um subproduto. É claro que seria legal, quem vai dizer que não?
Mas a gente simplesmente fez o filme que queria fazer e o que tiver
que acontecer, vai acontecer.
Pergunta - Você pode dizer algo
sobre a escolha de Farrah Fawcett
para o papel da esposa do pregador?
Resposta - Todo mundo me
pergunta sobre isso. Eu a escolhi
porque ela é uma atriz fantástica,
desde "The Burning Bed", na televisão, e "Small Change", no qual
ela mata seus filhos. Esse é um trabalho espantoso. Ela realmente
consegue se dedicar e mergulhar
no momento, quando está trabalhando. Ela é fantástica. Então eu
disse a ela para escolher qual dos
papéis queria fazer.
Pergunta - Ela disse que você falou que ela é uma mulher complexa. Por quê?
Resposta - Para começo de
conversa, acho que ela passa 95%
do dia no banheiro. Isso já é complexo, para começo de conversa.
Mas ela é... bem, muitas pessoas
são complexas. Tenho certeza de
que ela sabe que o é. Mas foi muito
bom trabalhar com ela.
Pergunta - E por que você escolheu Billy Bob Thornton?
Resposta - Para seu papel eu tinha pensado num ator não profissional, porque misturamos atores
com pessoas que não são atores.
Mas havia a parte emocional no
fim, que eu não sabia se um amador poderia fazer. E acontece que
Billy Bob é um sujeito interessante.
Ele já viveu no sul, foi o único integrante branco de uma banda só de
negros, já foi casado com uma negra por um ano. Apesar disso, eu já
o vira no meio dos caipiras sulistas
brancos e vi que ele também se dava muito bem com eles. Ele é um
cara tolerante com todos, que não
faz julgamentos acerca de ninguém. Eu sabia que ele seria capaz
de fazer aquele papel sem transformá-lo em caricatura, sem ironizar.
Ele o fez muito bem e foi gostoso
trabalhar com ele.
Pergunta - Como você compara
esse personagem a alguns outros
que já representou, especialmente
com seu incrível domínio de tudo
que é americano?
Resposta - Dizem que uma das
verdadeiras formas de arte americana é o pregador americano. Então, se você vai representar um
pregador, tem que fazê-lo com
força, mas dentro do contexto. É o
tipo de assunto que a indústria do
cinema sempre desprezou e retratou de maneira caricata, e eu achei
que se fosse fazê-lo teria que pesquisar o suficiente para fazer bem
feito, para dar a esse pessoal o respeito que merecem. Assim, eu tento inverter a coisa e deixar que parta deles. Foi por isso que misturei
atores profissionais com pessoas
que não são atores e consegui pessoas religiosas de verdade, das
igrejas, e lhes dei papéis no filme. A
caracterização realmente partiu
delas. É um estilo de vida especial,
uma crença. Para retratá-lo você
não precisa necessariamente acreditar nele, mas precisa respeitá-lo.
Alguém me perguntou como dirigi
os dois garotinhos negros, os gêmeos. Eu não os dirigi nas cenas
em que ficam pulando para cima e
para baixo. Eles frequentam aquelas igrejas desde que nasceram, então quando alguém fala alguma
coisa eles já sabem o que fazer.
Pergunta - O processo de representar foi ficando mais fácil para
você com o passar dos anos?
Resposta - De certo modo, sim.
Sou um sujeito que floresceu tarde. Já vi pessoas deteriorarem à
medida que ficam mais velhas,
mas acho -espero- que eu esteja
melhorando. Certas cenas emocionais que me preocupariam
mais quando eu era mais jovem,
hoje eu faço e não me preocupo se
vão dar certo ou não. E, geralmente, quando você deixa de achar que
tudo depende de você, as coisas
dão certo. Algumas coisas têm ficado mais fáceis para mim com o
passar dos anos, mas espero que
eu ainda me conserve novo. Quero
dirigir mais e fazer mais projetos
meus, agora que tenho minha
companhia própria.
Pergunta - Qual será o próximo
projeto?
Resposta - Estou trabalhando
com John Travolta em "Civil Action". E tenho algumas coisas que
quero fazer futuramente com minha própria companhia. Queremos desenvolver um projeto sobre
futebol, no qual vou fazer o papel
de um jogador/treinador envelhecido na Escócia. Vai ser interessante, porque o futebol é um grande esporte, muito sofisticado.
Tradução de
Clara Allain
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