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CRÍTICA
Ludismo encontra violência
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Em seus melhores momentos,
os filmes de Takeshi Kitano
abrem uma linha de fuga, deixando de lado a violência para contemplar, num espaço idílico, um
instante de ludismo. Brincando,
ele pode enfim fazer de seus filmes a celebração de um encontro.
Em "Brother", o momento lúdico surge para consolidar um encontro nipo-afro-americano.
Tornado persona non grata na
fraternidade mafiosa a que pertence (a Yakuza japonesa), "Beat"
Takeshi foge de Tóquio para Los
Angeles, onde mora seu irmão
mais novo, um pequeno traficante. Ensinando aos novos amigos
as "boas maneiras" da máfia japonesa, ganham território e fortuna.
O mote reside no fato de que a
confraternização deve prevalecer
até sobre as relações consanguíneas: o "brother" do título não se
refere ao irmão mais novo que
"Beat" reencontra, mas ao novo
amigo que ele faz na América. Tal
como seus mafiosos, Kitano parece querer flertar aqui com o mercado americano. Pena que um namoro assim só possa ser consumado em sangue e violência.
O grupo logo deixa as brincadeiras de lado para voltar a uma
nova carga de violência. Kitano
talvez veja algo de lúdico na sua
maneira de encenar a violência.
Nesse sentido, ele é mais bem-sucedido como ator: alternando
momentos vegetativos de acumulação impassível com momentos
de explosão animal, não deixa de
ser uma inusitada variação (na linha de Robert de Niro, inclusive
pelos tiques nervosos) do estilo de
"violência contida".
Como cineasta, Kitano esteve
sempre ameaçado (inclusive por
seu inerente mau gosto) de ver
sua arte de reciclador confundida
com a produção de telefilmes policiais (baratos) que lhe servia de
manancial. Mas a tendência do cineasta a substituir o movimento
pela postura, a motivação pelo
niilismo parecia garantir uma certa aura minimalista que os distinguia do lixo cultural.
Em Los Angeles, nicho dos telefilmes policiais, Kitano afoga-se
nesse manancial, igualando-se,
em violência e despropósito, ao
pior da produção americana. Reverente, parece pretender legitimar, junto aos donos da patente
dos filmes de gângsteres, o subgênero que criou pela reciclagem: o
dos filmes da Yakuza.
Brother
Brother
Direção: Takeshi Kitano
Produção: Japão/Inglaterra, 2000
Com: "Beat" Takeshi, Omar Epps
Quando: a partir de hoje nos cines
Lumière, Iguatemi, Tamboré e circuito
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