São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2001

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"ATLANTIS"

Aguardada estréia de verão da Disney arrecadou, no fim de semana de estréia, apenas US$ 20 mi em bilheteria

Desenho volta às raízes da animação e morre na praia

MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Mundos perdidos sempre intrigaram e fascinaram gerações. Era uma questão de tempo para que a Disney voltasse sua atenção ao assunto. Misturando animação tradicional com imagens geradas por computadores, o estúdio nos apresenta a "Atlantis -°O Reino Perdido", que, pela história clássica e os personagens construídos sobre moldes antigos, ousa voltar às raízes da animação.
"Não acho que esse seja um movimento de risco", discorda o produtor Don Hahn. "Muito se fala da modernidade de técnicas de filmagem que desenhos animados adquiriram nos últimos anos, mas acho que sempre haverá lugar para enredos mais clássicos e menos irônicos", disse em clara alusão ao concorrente "Shrek".
Só que a verdade, revelada minutos depois pelo diretor Kirk Wise, é que o estúdio estava sim disposto a apostar alto. "Quando pensamos em fazer um filme que não fosse um musical, achamos que a Disney iria recusar a proposta. Mas os chefes do estúdio disseram que era hora de ousar e que bancariam um não-musical."
O problema é que, US$ 90 milhões e quatro anos depois, a Disney parece ter se atrevido na contramão do fluxo de risco da animação contemporânea (inaugurada com "Toy Story" e sacramentada com "Shrek") e "Atlantis" ficaria melhor como o grande lançamento do verão de 1980.
O argumento de Wise para explicar a falta de números musicais é que fica difícil competir com um desenho como "A Bela e a Fera", que estourou em bilheteria e ainda conseguiu o feito de competir ao Oscar de melhor filme. "Como fazer mais do que isso?", indaga.
A resposta fica no ar, mas ele certamente descobriu como fazer menos, já que "Atlantis", no fim de semana de estréia, arrecadou apenas US$ 20 milhões em bilheteria, valor pequeno em se tratando do sempre aguardado e antecipado lançamento de verão da Disney. "É difícil projetar o sucesso de um filme. Sabemos que temos em mãos um assunto que fascina e que Michael J. Fox ( a voz de Milo, o personagem principal) garante bilheteria, mas o resto é especulação e sorte", disse Wise.
Reside em Milo -um jovem e determinado explorador disposto a reencontrar a cidade perdida- a esperança do estúdio de dar por encerrada a fase dos protagonistas masculinos, com os quais o público não se identifica.
Mas o real grande desafio da equipe por trás de "Atlantis" era criar um desenho que entretivesse adultos e divertisse crianças, por isso talvez a história sobre o resgate à civilização afundada tenha derrapado e parado em um limbo cinematográfico; monótona para os grandinhos e extremamente confusa para os baixinhos.
"A animação que começa com o desenho feito pela mão do artista, com roteiro clássico e ingênuo para as crianças sonharem, nunca morrerá. Sempre haverá lugar para o ideal de Walt", diz Hahn.


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