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São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

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Verão tingido de azul

Jr Duran/Divulgação
 
Daniel Klajmic/Divulgação
Ao lado, a modelo Bárbara Tercília veste saia de jeans costurada com fio dental e camisa de algodão; no alto, Ana Beatriz Barros usa maiô da Cia Marítima



Valorização do corpo é a marca brasileira para chegar aos olhos do mundo


DA COLUNISTA DA FOLHA

A valorização do corpo é um dos elementos de maior identidade nas coleções da São Paulo Fashion Week de verão. A sensualidade faz parte do DNA da moda brasileira.
Na marca de moda praia Cia. Marítima, por exemplo, o forte são os seios. "É onde você consegue inovar mais", diz o empresário e estilista da marca, Benny Rosset. "Fazemos bojo com bolha, como na lingerie, e também costuras invisíveis. Tudo para valorizar o busto", conta o designer, que se inspirou nos anos 60, em Brigitte Bardot e na psicodelia da época. Na cartela de cores, muitas estampas viajantes, mas também rosinha, verde água, azul claro. As chamadas "cores aquáticas", que deverão predominar no mar e nas piscinas da próxima estação, do Brasil para o Planeta Fashion.
"A moda praia e o jeans lideram hoje nossa exportação de imagem", opina Carlos Ferreirinha, consultor de negócios em moda da Associação Brasileira da Indústria Têxtil. "O Brasil tem uma competência natural para isso. É onde está a chance brasileira de determinar o comportamento do mundo", diz o consultor, que chama essa junção de segmentos de "a moda da bossa". "Nenhum país do mundo tem isso."
Tanto que o empresário Renato Kherlakian está de olho no mercado oriental. Ele inaugura uma Zoomp Blue, que só vende jeans, em Jacarta, na Indonésia, dia 12 de julho. "E quero abrir mais 12 pontos de venda no Oriente num prazo de dois a três anos", empolga-se. O Brasil exporta não só produto, mas a promessa de um corpo bem torneado e de um bumbum "pra cima".
Um dos hot-tickets da estação, Marcelo Sommer, que abre a terça-feira, também se joga no jeans. "Não na peça da estação, mas naquele para se ter no armário", conta o estilista, que elege calças marinheiro e peças clássicas e atemporais como destaques. Sua coleção de verão tem no folk e no artesanal sua principal motivação. "É um folk universal", define.
A manufatura é mesmo outro denominador comum do sucesso da produção brasileira. Outro grande destaque da temporada, Alexandre Herchcovitch, faz no jeans peças supertrabalhadas em patchwork, costuradas desta vez com um material inusitado: fio dental. Para seu desfile na quarta, no feminino, a inspiração são a cultura e o folclore brasileiros, "a partir de um olhar universal". "As misturas de cores, formas e estampas, os recortes aleatórios, sempre tão presentes em minhas coleções, têm muita semelhança com o modo de vestir das festas brasileiras, especialmente as festas juninas", antecipa o estilista, que pela primeira vez se dedica a temas brasileiros.
Não é a estréia no assunto de Ronaldo Fraga, que entrou para a história da moda brasileira no verão 2002, com sua coleção sobre a estilista Zuzu Angel, precursora dos temas nacionais.
Desta vez, vem do Vale do Jequitinhonha a inspiração de Fraga. A imagem é a das bonecas de barro. "Falo das roupas de festa, de casamento, é um sonho de glamour inventado por aquelas mulheres. É a roupa que elas gostariam de ter tido", diz o estilista. "Elas fazem misturas absurdas, mas é sempre afetivo e elegante."
Segundo o estilista, o artesanato é um elemento importante em sua coleção. "É o novo caminho do design. É algo que se reinventa, mas que tem vínculos com a tradição." Pode ser um caminho para a moda brasileira, que ainda não se descobriu, para agradar aos olhos estrangeiros deve, necessariamente, olhar para o próprio umbigo.
(EP)


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