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MÚSICA
REM quer vir ao Brasil no verão de 2000
Reuters
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O vocalista e compositor Michael Stipe, durante apresentação de sua banda, REM, no festival de Glastonbury, na Inglaterra, na sexta-feira passada |
SYLVIA COLOMBO
de Londres
"Quero muito tocar no Brasil,
sempre examinamos isso no começo das turnês. Mas é um empreendimento grande, cheio de
obstáculos. Acho que no ano que
vem vamos conseguir. Você acha
que o verão é a melhor época para
irmos?", perguntou à Folha um
agitado Michael Stipe, vocalista e
líder da banda REM, em entrevista
na semana passada, em Londres.
Horas depois de encerrar o primeiro show londrino da turnê
"Up", do último disco da banda,
Stipe conversou com um grupo de
jornalistas sobre a saída de Bill
Berry (baterista e co-autor das músicas durante 17 anos) da banda
por problemas de saúde, sobre religião e sobre suas canções prediletas. "Nada do que eu fiz em minha
vida, até hoje, me envergonhou de
ter colocado meu nome."
Atualmente, o REM trabalha na
trilha sonora do filme "Man on the
Moon", inspirado na canção homônima da banda (do álbum "Automatic for the People"), que por
sua vez homenageia o comediante
Andy Kauffman. O filme é uma cinebiografia de Kauffman, comediante teatral norte-americano
morto há 15 anos que foi um dos
maiores ídolos de Stipe.
Leia abaixo os principais trechos
da entrevista.
Pergunta - Você ficou chateado
quando as pessoas pensaram que
"Loosing My Religion" fosse uma
música religiosa? Em "Up" há uma
canção inspirada no livro de são
Mateus ("Hope"). Afinal, qual é sua
relação com a religião?
Michael Stipe - O que me interessa mesmo é o fenômeno fascinante
da crença. Todo mundo acredita
em algo. O mais interessante em
relação às religiões não é o que cada uma tem de peculiar e sim o que
é similar, o que é universal. É absolutamente fascinante e está em coisas tão pequenas, hábitos, pequenos rituais...
Pergunta - Vocês passaram por
um momento difícil com a saída de
Berry e, logo em seguida, lançaram
"Up", álbum que agradou crítica,
público e até vocês mesmos. Como
isso aconteceu?
Stipe - Fiquei devastado com a
saída de Berry. Aí vieram os problemas para mudar a dinâmica da
banda, passar de um esquema de
quatro músicos para um de três,
pelo menos no núcleo de criação,
pois há também músicos de apoio.
Mas, depois da crise e da tristeza,
queríamos fazer algo bonito, impressionante, e conseguimos. O
disco é tão sentimental...
Pergunta - Por que as letras de
"Up" são tão tristes?
Stipe - As pessoas dão muita
atenção às letras. Não se deve levá-las tão em conta. Me incomoda que
as pessoas ouçam minhas composições e saiam pregando-as como
verdades universais. São apenas letras para canções, mensagens sim,
mas nada além disso.
Pergunta - Qual é o álbum do
REM que mais lhe agrada?
Stipe - "Up". Sempre acho que é
o último que fizemos, cada disco é
também como uma foto, um retrato de todos os membros da banda
naquele período.
Pergunta - E o que mais lhe desagrada?
Stipe - Nenhum, nada do que eu
fiz em minha vida, até hoje, me envergonhou de ter colocado meu
nome. Não tenho qualquer arrependimento no meu trabalho.
Pergunta - Por que vocês decidiram homenagear o comediante
Andy Kauffman na canção "Man on
the Moon"?
Stipe - Ele teve importância
imensa para mim. Principalmente
no que se refere à performance. Eu
roubei muita coisa dele, o caminho
que estou trilhando hoje foi aberto
por ele há 20 anos. Kauffman andou por aqui antes de mim.
Pergunta - E que caminho é esse?
Stipe - O que eu penso sobre o
que faço é o seguinte: fazer canções
nada mais é do que comunicar algo
a alguém, geralmente a alguém que
eu não conheço. Ao fazer isso, eu
quero ser puro, sensível e direto.
Era isso que Kauffman fazia.
Pergunta - Você já pensou em tocar no Brasil?
Stipe - Não só pensei, como discutimos isso todos os anos, temos
que fazer shows lá logo, sabemos
que nosso público é grande e temos muita curiosidade. De qualquer forma, posso afirmar que não
é apenas um sonho vago.
Pergunta - E qual é o empecilho?
Stipe - Para se deslocar com todos os equipamentos e equipe para
lá é preciso de um grande esforço
de patrocínio. Ainda não mobilizamos isso. Penso que seria bom irmos para um concerto num dos
festivais que acontecem durante o
verão. Há alguns nessa época, não?
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