São Paulo, Terça-feira, 29 de Junho de 1999
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MÚSICA
REM quer vir ao Brasil no verão de 2000

Reuters
O vocalista e compositor Michael Stipe, durante apresentação de sua banda, REM, no festival de Glastonbury, na Inglaterra, na sexta-feira passada


SYLVIA COLOMBO
de Londres

"Quero muito tocar no Brasil, sempre examinamos isso no começo das turnês. Mas é um empreendimento grande, cheio de obstáculos. Acho que no ano que vem vamos conseguir. Você acha que o verão é a melhor época para irmos?", perguntou à Folha um agitado Michael Stipe, vocalista e líder da banda REM, em entrevista na semana passada, em Londres.
Horas depois de encerrar o primeiro show londrino da turnê "Up", do último disco da banda, Stipe conversou com um grupo de jornalistas sobre a saída de Bill Berry (baterista e co-autor das músicas durante 17 anos) da banda por problemas de saúde, sobre religião e sobre suas canções prediletas. "Nada do que eu fiz em minha vida, até hoje, me envergonhou de ter colocado meu nome."
Atualmente, o REM trabalha na trilha sonora do filme "Man on the Moon", inspirado na canção homônima da banda (do álbum "Automatic for the People"), que por sua vez homenageia o comediante Andy Kauffman. O filme é uma cinebiografia de Kauffman, comediante teatral norte-americano morto há 15 anos que foi um dos maiores ídolos de Stipe.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Pergunta - Você ficou chateado quando as pessoas pensaram que "Loosing My Religion" fosse uma música religiosa? Em "Up" há uma canção inspirada no livro de são Mateus ("Hope"). Afinal, qual é sua relação com a religião?
Michael Stipe -
O que me interessa mesmo é o fenômeno fascinante da crença. Todo mundo acredita em algo. O mais interessante em relação às religiões não é o que cada uma tem de peculiar e sim o que é similar, o que é universal. É absolutamente fascinante e está em coisas tão pequenas, hábitos, pequenos rituais...

Pergunta - Vocês passaram por um momento difícil com a saída de Berry e, logo em seguida, lançaram "Up", álbum que agradou crítica, público e até vocês mesmos. Como isso aconteceu?
Stipe -
Fiquei devastado com a saída de Berry. Aí vieram os problemas para mudar a dinâmica da banda, passar de um esquema de quatro músicos para um de três, pelo menos no núcleo de criação, pois há também músicos de apoio.
Mas, depois da crise e da tristeza, queríamos fazer algo bonito, impressionante, e conseguimos. O disco é tão sentimental...

Pergunta - Por que as letras de "Up" são tão tristes?
Stipe -
As pessoas dão muita atenção às letras. Não se deve levá-las tão em conta. Me incomoda que as pessoas ouçam minhas composições e saiam pregando-as como verdades universais. São apenas letras para canções, mensagens sim, mas nada além disso.

Pergunta - Qual é o álbum do REM que mais lhe agrada?
Stipe -
"Up". Sempre acho que é o último que fizemos, cada disco é também como uma foto, um retrato de todos os membros da banda naquele período.

Pergunta - E o que mais lhe desagrada?
Stipe -
Nenhum, nada do que eu fiz em minha vida, até hoje, me envergonhou de ter colocado meu nome. Não tenho qualquer arrependimento no meu trabalho.

Pergunta - Por que vocês decidiram homenagear o comediante Andy Kauffman na canção "Man on the Moon"?
Stipe -
Ele teve importância imensa para mim. Principalmente no que se refere à performance. Eu roubei muita coisa dele, o caminho que estou trilhando hoje foi aberto por ele há 20 anos. Kauffman andou por aqui antes de mim.

Pergunta - E que caminho é esse?
Stipe -
O que eu penso sobre o que faço é o seguinte: fazer canções nada mais é do que comunicar algo a alguém, geralmente a alguém que eu não conheço. Ao fazer isso, eu quero ser puro, sensível e direto. Era isso que Kauffman fazia.

Pergunta - Você já pensou em tocar no Brasil?
Stipe -
Não só pensei, como discutimos isso todos os anos, temos que fazer shows lá logo, sabemos que nosso público é grande e temos muita curiosidade. De qualquer forma, posso afirmar que não é apenas um sonho vago.

Pergunta - E qual é o empecilho?
Stipe -
Para se deslocar com todos os equipamentos e equipe para lá é preciso de um grande esforço de patrocínio. Ainda não mobilizamos isso. Penso que seria bom irmos para um concerto num dos festivais que acontecem durante o verão. Há alguns nessa época, não?


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