São Paulo, sábado, 29 de julho de 2000


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MÚSICA
Sites propõem boicote às gravadoras; presidente da empresa pede que fãs demonstrem que são "bons clientes"
Usuários do Napster reagem contra o desligamento

Juca Varella/Folha Imagem
O webdesigner Renato Yada, que baixa cerca de 150 músicas diariamente pelo software Napster


MARCELO VALLETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A iminência do desligamento do Napster, um programa que facilita a busca e a gravação de arquivos em formato MP3 na Internet, prevista para a madrugada de hoje, gerou uma corrida pelos últimos downloads, além de ameaças de boicote às grandes gravadoras por parte dos fãs de música.
Na última quarta-feira, uma juíza de San Francisco ordenou que o programa fosse desligado às 4h de hoje (horário de Brasília).
O Napster, fundado há pouco mais de um ano por um adolescente, sofre processo movido pela Riaa, associação que agrega 18 das maiores gravadoras dos Estados Unidos, incluindo gigantes como a Sony, a Warner, a BMG e a Universal.
"Os servidores estão lotados", disse à Folha o webdesigner Renato Yada, que já havia baixado mais de 150 músicas pelo Napster de quarta para a quinta-feira passadas. "Todo mundo está muito triste e xingando o Metallica", disse. O célebre grupo norte-americano de hard rock também move processo contra o programa, assim como o rapper Dr. Dre.
Segundo Yada, a média normal de usuários por servidor é de cerca de 5.000, mas, na última quinta-feira, cerca de 8.000 pessoas estavam conectadas em cada um dos vários servidores do programa.
"Eu nunca vi tanta gente no Napster", disse à rede de notícias CNN a estudante norte-americana Cary Miller, usuária do programa. "Fechar o Napster só vai piorar as coisas. As pessoas vão procurar outros programas, como o Gnutella", disse, referindo-se a outro programa que permite a troca de arquivos em MP3.
Programas como o Freenet, o Scour, o iMesh, o Audiognome, o Napigator e o CuteMX também permitem o download de MP3 de maneira semelhante ao Napster, mas com um adicional perigoso: alguns deles também baixam fotos e vídeos, incluindo filmes em longa-metragem.

Boicote ou "buycott"?
Além da correria atrás dos últimos downloads feitos por meio do Napster, usuários do programa em várias partes do mundo, inclusive no Brasil (leia ao lado), procuram manifestar sua opinião em sites que pedem a volta do serviço e o boicote às grandes gravadoras.
O site Boycott Riaa (http:// boycott-riaa.com) propõe que os usuários do Napster não comprem mais nenhum CD dos artistas pertencentes às gravadoras representadas pela Riaa, até que o programa volte a funcionar.
Já o próprio Napster sugere uma ação diferente, buscando contemporizar com as gravadoras.
Na tela de abertura do site do programa (www.napster.com), há uma mensagem de Hank Barry, atual presidente da empresa, pedindo que se faça um "buycott" (trocadilho em inglês com o verbo "buy", comprar, e a palavra "boycott", boicote): durante este fim-de-semana, Barry pede que os internautas comprem discos de artistas que apóiam o Napster -a lista inclui de Chuck D a Marianne Faithfull.
Barry também conclama os fãs do Napster a escrever para as grandes gravadoras -há um link com os e-mails das principais, além dos endereços da Riaa e da MPA (associação dos editores de música dos EUA).
"Queremos mostrar que nossos usuários são os melhores clientes das gravadoras e que eles querem manter o Napster vivo", disse Barry à agência de notícias Reuters.
Os opositores do Napster comemoraram a decisão de desativar o programa. "Estou exultante", declarou o baterista do Metallica, Lars Ulrich. "Dizer que o Napster compartilha música é um eufemismo. Eles duplicam música."
Márcio Gonçalves, diretor de gestão coletiva da ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos), afirma que o fechamento do Napster é "uma grande vitória para os titulares de direitos autorais".
"Espero que sejam criadas regras para disponibilizar música na Internet de maneira rápida e segura, respeitando o pagamento de direitos autorais", disse.


Com agências internacionais


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