São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diretor conta detalhes sobre os bastidores

JOHN CAMERON MITCHELL
ESPECIAL PARA O "VILLAGE VOICE"

Vi David Bowie pela primeira vez em 1973, quando eu tinha dez anos e estudava em um colégio interno para meninos, dirigido por beneditinos escoceses. Devido a um raro gesto dos monges, pudemos assistir ao programa "Top of the Pops" na televisão.
A primeira coisa que vi foi o rosto do guitarrista Mick Ronson, sublime. Depois, vejo David Bowie e ele me apavora. Pálido e pintado, macho e fêmea, sorriso de réptil. Conversei com o documentarista D. A. Pennebaker ("Monterey Pop") sobre o lançamento de seu restaurado filme de 1973, "Ziggy Stardust and The Spiders from Mars".

Pergunta - Você teve apenas duas semanas de preparação para "Ziggy Stardust"?
D.A. Pennebaker -
Foram dois dias. Estava em uma jangada no Mississippi quando recebi um recado da gravadora RCA. Quem falou comigo no telefone foi Marc Bolan (líder da banda T-Rex).

Pergunta - O que você sabia sobre Bowie?
Pennebaker -
Nada. Chegamos a Londres um dia antes do início das filmagens. Assisti a um show de Bowie naquela noite e compreendi que era loucura filmar só meia hora e que tínhamos um filme nas mãos.

Pergunta - Mas ninguém se interessou pela idéia enquanto filme?
Pennebaker -
Quando comecei a editar, mostrava o filme onde quer que eu fosse e o efeito era espantoso. Sabia que havia público para aquilo. O guitarrista Jeff Beck fez duetos com Bowie, mas ele não está na versão atual -deve ter sentido que Ronson estava aparecendo demais e pediu que o excluíssemos do filme.

Pergunta - O filme nunca foi exibido nos cinemas?
Pennebaker -
Apenas em festivais.

Pergunta - Fiquei muito impressionado com as rotinas de palco, as mudanças de roupa etc.
Pennebaker -
Todos os roqueiros hippies norte-americanos tocavam de macacão... Nunca pensaram que a coisa podia ter uma boa aparência. Era como se Bowie disesse: "Há algo novo aqui".

Pergunta - E sobre aquela coisa de que se tratava do último show?
Pennebaker -
Tony DeFries, o agente de Bowie, disse que eu não podia contar a ninguém sobre isso. Ele já havia informado Ronson, diziam. Depois os músicos ficaram irritados e perguntaram por que não haviam sido avisados. Bowie olhou para Ronson, dando a entender que ele sabia, enquanto Ronson negava, porque não queria fazer o papel de vilão, o que deixou David sozinho para carregar a situação.


John Cameron Mitchell é diretor e ator de "Hedwig - Rock, Amor e Traição"


Copyright 2002 Village Voice Media, Inc. Republicado com a permissão do "The Village Voice"

Tradução Paulo Migliacci




Texto Anterior: Discoteca básica
Próximo Texto: Nova York sofre forte invasão bowieniana
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.