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LIVRO/LANÇAMENTO
"Catástrofe e Representação" não é um livro de respostas
NELSON ASCHER
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O volume organizado por
Arthur Nestrovski e Márcio
Seligmann-Silva dificilmente poderia ser mais fiel ao próprio título. A maioria dos dez ensaios que,
com dois breves contos escritos
por Bernardo Carvalho e Modesto Carone (leia íntegra abaixo),
compõem "Catástrofe e Representação" foi originalmente apresentada em dois ciclos de palestras na PUC-SP, enquanto os três
restantes são traduzidos do inglês.
E, apesar dos diferentes pontos de
partida de cada autor, de seus interesses diversos, dos distintos
materiais com os quais cada qual
lida, os textos convergem sobre a
questão central.
É importante frisar que este não
é um livro de respostas. Ele constitui, isto sim, parte integrante de
um movimento mais geral cujo
esforço poderia ser resumido na
tentativa de formular as perguntas. A respeito do quê? Bom, a catástrofe do título não é uma abstração, mas sim, sobretudo (se
bem que não só), um evento histórico específico, aquilo que o
grande historiador Raul Hilberg
chamou de "a destruição dos judeus europeus", ou seja, o acontecimento que leva os nomes: "holocausto", "shoah", "khurbn". A
indagação acerca da possibilidade
de representar um evento assim é
algo que começa pondo em questão os alicerces mesmos, seja das
artes, seja da cultura de massas,
para, afinal, transformar-se numa
grande pergunta a propósito dos
limites da linguagem, do pensamento e da imaginação.
A importância da presente coletânea é, porém, maior que a da soma dos textos nela reunidos. Durante pelo menos duas décadas
depois do fim da Segunda Guerra,
a discussão sobre o genocídio dos
judeus europeus perpetrado pelos
alemães (com o auxílio ou conivência de parcelas significativas
da população do continente)
manteve-se confinada a círculos
restritos de especialistas e/ou de
sobreviventes. Quem quer que
consultasse a historiografia dessa
época, a literatura escrita ou os filmes produzidos então, se obtivesse alguma informação relativa ao
Holocausto, concluiria que este
não passava de um detalhe não
muito relevante no âmbito de
acontecimentos infinitamente
mais significativos.
Não é o caso de esmiuçar agora
o porquê disso, mas, desde o começo dos anos 60, e com intensidade aceleradamente crescente
nos últimos 20 anos, os eventos
transcorridos na Europa da primeira metade dos anos 40 vêm
sendo considerados absolutamente centrais para a compreensão da história contemporânea.
Ainda assim, um assunto que tem
sido exaustivamente discutido
por pessoas ligadas às mais variadas áreas do conhecimento, tanto
na Europa quanto nos Estados
Unidos, continua ocupando uma
parcela reduzidíssima do interesse da intelectualidade brasileira.
"Catástrofe e Representação",
embora longe de recobrir todas as
ramificações do tema, é um esforço notável no sentido de criar
uma sintonia maior entre a produção teórica brasileira e as discussões internacionais.
Catástrofe e Representação
Organização: Arthur Nestrovski e
Márcio Seligmann-Silva
Editora: Escuta
Quanto: R$ 30 (264 págs.)
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