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ARNALDO JABOR
Entrevista inteligente com uma "loura burra"
-A mulher brasileira
está mais livre hoje?
-Eu sou perua, mas sou inteligente... Não sou loura burra, mas
finjo que sou, senão os homens fogem feito diabo da cruz. Mas, para você, faço uma exceção... Você
viu a entrevista da Rosane Collor
na "Veja"? Está tudo ali. É o manifesto da perua se assumindo. O
que está acontecendo no Brasil é
a libertação da "mulher-objeto".
Não estão virando "sujeitos" livres, mas querem ser mais "objetos" ainda. Não é a mulher entrando no mercado de trabalho,
não é a busca fraternal do diálogo
com o parceiro a ser amado, mas
a aceitação de uma luta eterna,
de uma infinita incompreensão
entre os sexos.
No Brasil consumista, narcisista, a mulher resolveu radicalizar
sua inferioridade social, como se
isso fosse uma libertação... É só
olhar a "Caras" e a "Playboy". Ali
estão as desesperadas tentativas
da mulher de atingir poses de
uma suposta independência.
-O que quer a mulher brasileira?
-Nós queremos ser doces inutilidades de consumo, mercadorias sedutoras, como um BMW,
um avião, uma Kawasaki Ninja...
O "sujeito" tem limites, tem inconsciente, angústias; já o "objeto" é feliz, não sofre. As mulheres
querem a felicidade das coisas.
Querem ser disputadas, consumidas, como um bom eletrodoméstico... Não há mais pontos de referência ética, estética, nada... Assim, na busca de elegância, tanta
é a desinformação que a perua
brasileira acaba sendo a mais
malvestida do mundo... A democracia narcisista nos levou a assumir todas as vulgaridades, desde
o meu visual Luís 15 cheio de ouros, rendas, panos coloridos, paetês, até meus peitos de silicone, coxas lipoaspiradas, bunda soerguida, vagina indomável, sorriso largo e debochado. Em suma, posso
ser a Bovary, a Pompadour, a
Tiazinha, a Julieta, posso ser tudo... Veja meu tipo. Que sou eu?...
Minha toalete é inspirada na
monarquia rococó da França; todo o meu estilo é excessivo, cheio
de curvas, volutas, refolhos, arrebiques -e a isso se agrega um ar
descarado de cortesã que subiu
na vida, gestos desabridos e provocadores de desafio, quase de luta. Sei também usar olhares profundos de mulher apaixonada, sei
fazer poses aerodinâmicas evocando independência, vôo, desejo, tudo iluminado pelos indefectíveis sorrisos largos e congelados
que podem oscilar do "romântico
maternal" para o "joie de vivre de
coquetel", mas sempre sorrisos,
porque tristeza não é "comercial"... É preciso dar inveja nos leitores das colunas sociais, nas
quais se passa a "vida feliz", longe
do desemprego, da política, das
crises econômicas....
-Mas vocês querem ser amadas?
-Antes de tudo, queremos o
poder... Se antes as mulheres
eram escravas passivas, hoje somos escravas ativas...
Somos aparentemente livres,
mas sempre referenciadas ao homem, ao macho impalpável, ao
macho ignorante, ao macho ganhador de dinheiro, que são os
detentores do poder que podemos
conquistar de tabela...
Para termos poder, é necessário
uma permanente estratégia de
controle sobre os machos, pela sedução, pela histeria, pela dissimulação, pela voz doce e fina,
mas cheia de ameaças, pelo perigo dos chifres... Senão ele não nos
respeita; senão ele nos pega, nos
come e joga fora... Ele tem de ter
quase uma inveja da nossa vagina, da nossa beleza. Nosso doce
veneno tem de controlá-los; além
de seduzi-los, temos de atemorizá-los... Para conseguir poder e
dinheiro deles, temos de passar
um certo perigo... A perua malvada é o "outro" do machão...
-E o sexo?
-Mesmo sendo frígidas, temos
de anunciar um grande desempenho sexual. Não prometemos carinho; temos de prometer "funcionamento". Não é por acaso que
eles nos chamam de "avião" ou
de "máquina"... Temos de fasciná-los como um carro de luxo. O
jogo de sedução tem de ser competitivo, mesmo sob a aparência
de submissão... Temos de instilar
perigo no coração dos homens para conseguir deles o que mais queremos: um poder dependente que
nos legitime na sociedade... Os
homens têm medo de ser amados
com carinho... Ficam claustrofóbicos... Homem só ama mesmo
pelo ciúme... Só amam quando
perdem... Só o corno conhece o
verdadeiro amor... Os homens deviam agradecer às adúlteras pela
paixão que experimentam... Deviam dizer: "Obrigado por me
traíres...".
-Você posaria nua?
-Não há mais o que mostrar...
Nunca fomos tão nuas no Brasil...
Nossa nudez tem limites... Já mostramos o corpo todo, as vaginas, o
interior delas... Só restará, um
dia, os intestinos... O que mais?
O estripamento? Talvez só o crime possa mostrar toda a nossa
nudez... Você veja a Feiticeira...
Não há mais o que rebolar; ela cada vez mais parece se transformar
numa acrobata ou num atleta bicha ou, talvez, num cavalo... Sua
nudez ameaça, assusta... Ela ataca os homens com sua vagina, se
bem que, na vida real, quer apenas casar e ter filhos. Há uma dessexualização progressiva em nossas mulheres "sexy"... Lembram-me da frase de lady Macbeth, antes do crime: "Unsex me!"...
-Houve uma revolução feminina no Brasil?
-A revolução feminista no
Brasil é esse striptease geral, é a
dança da garrafa... Vejam o show
do Gugu, do Malandro... As bundas estão virando uma utopia... O
sexo total que nossas gostosas
prometem é impossível... Os peitos
de silicone estão cada vez maiores, estão virando depósitos de leite venenoso... Outro dia, um cara
quase morreu chupando um peito. Engoliu silicone... A libertação
da mulher no Brasil de hoje é
uma vingança conservadora...
Viu só? Eu não sou loura burra,
não. Sou perua, mas sou inteligente!...
Mas não revele meu nome, senão meu marido me mata.
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