São Paulo, quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pirataria do filme "Tropa de Elite" preocupa governo

Ministério da Justiça vê "ineditismo" no caso e diz que para combater o comércio ilegal pretende "atacar a demanda"

Vazamento de cópia do longa para mercado pirata ocorreu três meses antes da estréia prevista; para Agência do Cinema, "prejuízo é evidente"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, que preside o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual, afirma que a pirataria de que foi alvo o filme brasileiro "Tropa de Elite" contém "um ineditismo" e "preocupa" o governo.
O aspecto inédito que o secretário aponta é a antecedência da venda de cópias ilegais em relação à estréia do filme.
"Tropa de Elite", primeiro longa de ficção do diretor José Padilha ("Ônibus 174"), que trata do cotidiano de oficiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar, seria lançado em novembro.
Neste mês, uma versão do filme começou a ser vendida em bancas de camelô no país.
"Não temos registro de algo assim no Brasil e digo que é raro no mundo. Vemos casos em que a pirataria entra simultaneamente à estréia nos cinemas ou dois ou três dias antes dela", afirma Barreto.
O fato de o comércio ilegal do filme atingir simultaneamente uma rede de cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, BH e Salvador demonstra, segundo o secretário, que "a pirataria é crime organizado".
No caso de "Tropa de Elite", Barreto afirma que irá "trabalhar com a força da lei" e espera "punição exemplar de quem vendeu [a cópia que originou a pirataria], por R$ 5.000, e de quem comprou".
O caso está sendo investigado por delegacia especializada nesse tipo de crime, no Rio.
O secretário julga que, para restringir a pirataria audiovisual no Brasil, onde "de cada dez DVDs vendidos, seis são piratas", é preciso "atacar a demanda". Está em preparação uma campanha "que ridiculariza o consumo de DVDs piratas", relacionando-o "ao "mico" de comprar produtos que não prestam e são operados por crime organizado", afirma.
Após o vazamento para o comércio ilegal de "Tropa de Elite", a distribuidora Paramount decidiu antecipar a estréia do filme para 12 de outubro.
O presidente da Agência Nacional do Cinema, Manoel Rangel, que abordou o caso em reunião com Barreto na semana passada, diz que "é evidente que a circulação de cópias piratas causa problemas ao desempenho comercial do filme no mercado de salas", trazendo "prejuízo não só ao produtor ou ao distribuidor, mas ao conjunto do cinema brasileiro e do mercado audiovisual no país".
Rangel afirma que ""Tropa de Elite" é dos filmes brasileiros mais esperados do ano. Teve um investimento de recursos que o coloca entre os mais caros já realizados, com orçamento de R$ 10 milhões, e todo o mercado apostava nele como um grande resultado".
O impacto que a pirataria terá na bilheteria de "Tropa" é uma incógnita no mercado de cinema. O diretor da distribuidora Columbia, Rodrigo Saturnino Braga, que enfrentou a pirataria no lançamento de "2 Filhos de Francisco", maior sucesso nacional recente (5,4 milhões de espectadores), acha que "vamos viver uma experiência única" quando o filme passar pela prova da estréia.
Saturnino Braga diz que "no momento, só é possível formular hipóteses" sobre o desempenho de "Tropa de Elite".
"Com "2 Filhos de Francisco", a pirataria chegou na sexta semana do filme, quando ele já havia superado a marca de 3 milhões de espectadores", diz.
"É verdade que, depois disso, [o filme] ainda teve força para fazer mais 2 milhões [de espectadores]. Mas, sem dúvida, causou enormes prejuízos para algumas cidades do interior, que começavam a recebê-lo, e ao mercado de DVD", pondera.


Texto Anterior: Teatro: Texto de russo tem leitura dramática
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.