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Festival de Veneza, que começa hoje, reflete "desejo de reparação"
Adaptação de livro de McEwan e cópia nova de "Intolerância" marcam abertura
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA, EM VENEZA
Oficialmente, o 64º Festival
de Veneza será inaugurado hoje com a co-produção anglo-americana "Desejo e Reparação", de Joe Wright, e encerrado dia 8 de setembro com o chinês "Blood Brothers", de Alexi
Tan, produzido por John Woo.
Extra-oficialmente, porém,
dois outros eventos balizam o
festival: as projeções das cópias
restauradas de "Intolerância"
(1916), de David Wark Griffith
(na abertura), e "A Idade da
Terra" (1980), de Glauber Rocha (no encerramento).
Trata-se de uma bela carta de
despedida de Marco Müller,
que termina, neste ano, seu
mandato de quatro anos como
diretor artístico de Veneza.
"Desejo e Reparação" é a esperada adaptação de "Atonement", de Ian McEwan, lançada no Brasil pela Companhia
das Letras como "Reparação".
A grande dúvida é se Joe
Wright, diretor da competente
-porém "genérica"- versão de
"Orgulho e Preconceito", de Jane Austen, de 2005, foi capaz de
fazer um filme à altura do livro.
Seu lugar de destaque faz
sentido no desenho que Müller
imprimiu à seleção (57 longas,
22 em competição). "Reparação" é a história de uma mulher
que passa a vida tentando reparar um erro de juventude.
Em entrevista à Associated
Press, Müller afirmou que o
programa reflete um "desejo de
reparação, de escapar de um
certo modo de vida, um certo
momento da história. Algo evidente em alguns filmes selecionados é que eles querem se
afastar da política da guerra".
Dois longas da competição
refletiriam esse sentimento:
"Redacted", de Brian De Palma,
reunião de histórias de soldados americanos no Iraque encenadas por atores desconhecidos, e "In the Valley of Elah", de
Paul Haggis (seu primeiro filme como diretor depois do Oscar por "Crash"), história de
um jovem soldado que desaparece depois de voltar do Iraque.
Retrospectiva
Para festejar os 75 anos da
primeira edição do festival (interrompido na Segunda Guerra
e maio de 68), Müller caprichou nas retrospectivas. Uma
série de mostras dialogará com
filmes da competição, com destaque para o faroeste. Quentin
Tarantino apadrinha mostra
dedicada ao "western spaghetti", com 32 filmes realizados na
Itália entre 1964 e 1976.
A competição pelo Leão de
Ouro traz vários títulos cercados de expectativa, como "Lust,
Caution", de Ang Lee, "I'm Not
There", de Todd Haynes (retrato caleidoscópico de Bob Dylan
em que Richard Gere, Cate
Blanchett e outros se revezam
na pele do cantor), "O Expresso
Darjeeling", de Wes Anderson,
"It's a Free World", de Ken
Loach, e "Les Amours d'Astrée
et Céladon", de Eric Rohmer.
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