São Paulo, quarta-feira, 29 de agosto de 2007

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Autores africanos são destaque no Portugal Telecom

Para a curadoria, a presença de Mia Couto e Ondjaki entre os finalistas indica fortalecimento da literatura da África no país

Pela primeira vez contemplada, categoria "biografia" não emplacou títulos e organização avalia novos critérios para julgá-la

EDUARDO SIMÕES
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dos 382 livros inscritos para a quinta edição do Prêmio Portugal Telecom, neste ano, quando a seleção foi aberta para literatura em língua portuguesa, apenas 18 eram títulos originalmente publicados fora do Brasil. Diante do número, os curadores do prêmio julgam que a presença do moçambicano Mia Couto (com "O Outro Pé da Sereia") e do angolano Ondjaki ("Bom Dia Camaradas") entre os dez finalistas, anunciados ontem, indica um fortalecimento do intercâmbio entre África e Brasil por meio da literatura.
"Em geral, os editores brasileiros têm pouco interesse em publicar autores portugueses e, sobretudo, africanos. Mas a escolha de Mia Couto e Ondjaki, assim como do angolano radicado em Portugal Gonçalo M. Tavares, aponta um crescimento, ainda que tímido, da presença de outras línguas portuguesas entre nós", avalia Rita Chaves, professora de literatura africana de língua portuguesa da Universidade de São Paulo e uma das curadoras do prêmio.
A tendência tem eco em outro prêmio literário, o Zaffari & Bourbon, concedido anteontem à noite ao próprio Mia Couto, na abertura da 12ª Jornada de Passo Fundo. O escritor concorria com o mesmo romance, "O Outro Pé da Sereia".

Ficção prevalece
Neste ano, os concorrentes deviam ser livros publicados no Brasil em língua portuguesa, com primeira edição no país entre 1º/1 e 31/12 de 2006. E com primeira edição no exterior entre 1º/1 de 2003 e 31/12 de 2006, desde que publicados no Brasil no mesmo período.
Apenas um livro de crônicas ("Macho Não Ganha Flor", de Dalton Trevisan) e dois de poesia ficaram entre os dez finalistas nesta quinta edição. Os outros sete são romances, o que espelha uma tendência já presente na lista de semifinalistas -24 dos 51 títulos eram do gênero.
Pela primeira vez contemplada, a categoria biografias e autobiografias não emplacou nenhum título entre os finalistas. Mesmo tendo entre os semifinalistas livros como "Anita Malfatti no Tempo e no Espaço" (Marta Rossetti) e "O Inimigo do Rei: Uma Biografia de José de Alencar" (Lira Neto), respectivamente primeiro e segundo lugares do prêmio Jabuti de melhor biografia.
Segundo Selma Caetano, que também integra a curadoria do prêmio, o júri argumentou que as biografias exigem uma avaliação documental de que eles, críticos literários, não se sentiram "tão capazes quanto um historiador, por exemplo". Especialmente quando aqueles livros eram confrontados com títulos de ficção e poesia.
A professora Rita Chaves ressalta que biografia é uma categoria muito importante, com qualidade reconhecida no Brasil e grande apelo junto ao público. "Mas fica difícil avaliá-la no universo do prêmio literário, e eu sugeri que sua inclusão seja reavaliada", afirma.

Espírito democrático
Para o crítico literário Wander Melo Miranda, o especialista em literatura brasileira da curadoria do prêmio, a lista dos dez finalistas reflete o refinamento que as várias etapas do concurso proporciona. "A lista tem um espírito muito democrático, foi quase consensual e demonstra várias tendências, de autores de linhas diferentes, tanto consagrados como Dalton Trevisan e Affonso Ávila, quanto jovens, como Michel Laub", diz.
Os vencedores da quinta edição do Prêmio Portugal Telecom serão anunciados no dia 16 de outubro. Primeiro, segundo e terceiro colocados vão receber, respectivamente, R$ 100 mil, R$ 35 mil e R$ 15 mil, além de troféus do artista plástico Paulo von Poser.
No ano passado, quando ainda se limitava à literatura brasileira, os vencedores foram "Cinzas do Norte" (Milton Hatoum), "História dos Ossos" (Alberto Martins) e "Duas Praças" (Ricardo Lísias).


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