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Kitano fala sobre arte em tom piegas
Diretor japonês que ganhou prêmio máximo de Veneza em 1997 apresenta novo longa, "Akires to Kame", no festival
"Tive de pedir vários [quadros] emprestados dos meus amigos", conta o cineasta, que utilizou suas próprias telas no filme
IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
Piegas e um tanto delirante,
mas principalmente piegas. O
novo filme de Takeshi Kitano,
que fecha sua trilogia sobre comunicação e artes (sendo TV e
cinema os outros dois temas),
indica que o diretor japonês deveria se ater às historias da Yakuza ("Brother - A Máfia Japonesa em Los Angeles", 2000)
ou mesmo aos contos de amor
("Dolls", 2002).
Foi com uma mistura desses
dois temas que Kitano levou o
Leão de Ouro em Veneza em
1997, com "Hana Bi - Fogos de
Artificio". Mas esse novo "Akires to Kame" (Aquiles e a tartaruga) busca um gênero diferente: as artes plásticas.
"Tentei fazer um filme mais
sério", contou o diretor após a
exibição. "Mas quando faço comédia, o público acha sério.
Não sei o que pensar."
Kitano apresenta a história
do pintor Machisu em três momentos: infância, juventude e
maturidade. A infância de Machisu parece um conto de fadas
invertido. Ele é feliz e pinta o
tempo inteiro, na aula, em casa,
na fazenda. Então tudo começa
a dar errado, os bons adultos se
suicidam e todos os mais velhos
remanescentes são malvados.
Na juventude, Machisu começa a buscar uma linguagem.
Não encontra e, quando chega
aos 60, interpretado pelo próprio Kitano, fica tentando inventar formas originais de pintar, sem nunca alcançar o sucesso de mercado que busca.
Aqui o filme se torna mais delirante, mas não menos bobo.
Na maturidade, Machisu
(uma corruptela de Matisse)
sacrifica tudo para pintar. Ele
não trabalha e acha que sua arte
justifica usar sua família. Sua
mulher, além de trabalhar fora
para sustentar a casa, é sua cobaia nas experiências artísticas.
Quadros próprios
Por ser um pintor amador, o
cineasta se sentiu bastante à
vontade com o tema. Usou, inclusive, apenas seus próprios
quadros na produção. "Tive de
pedir vários emprestados dos
meus amigos, porque costumo
presenteá-los com meus quadros e não tinha número suficiente para o filme", disse Kitano, que nunca vendeu nem tentou vender uma tela. "A verdade é que minhas pinturas não
são lá muito apreciadas", disse,
num arroubo de sinceridade.
O nome do filme vem de um
paradoxo matemático. Aquiles
vai apostar corrida com uma
tartaruga e lhe dá dez metros de
vantagem. Ele corre os dez metros em um segundo, mas a tartaruga corre um metro nesse
tempo. Para correr esse metro
extra, Aquiles leva um décimo
de segundo, mas aí a tartaruga
já correu dez centímetros mais.
Toda vez que Aquiles chega na
tartaruga, ela já avançou um
pouquinho mais.
E o que isso tem a ver? Com a
palavra, o diretor: "O que tentei
notar nesse filme é que não é
preciso ser bem-sucedido para
fazer algo. Basta gostar". Parece
mesmo um conto de fadas. Às
avessas.
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