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Cinema
"Tive mesmo um orgasmo em cena"
Paul Dawson, protagonista de "Shortbus", fala sobre as filmagens do longa que causou polêmica nos EUA e na Mostra de São Paulo
"Não entendo por que ter um orgasmo em cena é tão diferente de chorar diante da câmera", diz o ator sobre cena muito falada do longa
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
É real o orgasmo do ator Paul
Dawson, na pele de James, nos
primeiros minutos de "Shortbus". Também é verdadeira sua
relação com o parceiro de cena,
seu namorado na vida real e no
filme, Jamie, o ator PJ DeBoy.
Outro fato é que o sexo pouco
cenográfico da dupla Sook-yin
Lee e Raphael Barker, como Sofia e Rob, é mesmo horrível.
"Não entendo por que ter um
orgasmo em cena é tão diferente de chorar diante da câmera",
disse Dawson à Folha, por telefone, de Nova York. "As duas
coisas exigem que se traga à superfície algo muito íntimo."
Todo esse realismo nas cenas
de sexo, aliado à total falta de
pudor nos figurinos e na atuação, legou a fama de pornográfico ao filme que estréia hoje
em circuito comercial depois
de uma ruidosa passagem em
2006 pela Mostra de SP.
Agora que as garotas do "Sex
and the City" já invadiram o cinema de cosmopolitan na mão
e saltos Manolo Blahnik sob os
pés, surge esse retrato do lado
B do sexo na metrópole: a busca por um orgasmo, o suicídio
como opção para terminar um
relacionamento fracassado e a
vontade de dominar e ser dominado -tudo muito longe do
mundo colorido de Charlotte,
Miranda, Carrie e Samantha.
Talvez porque o ponto de
partida de "Shortbus" não sejam as idas e vindas amorosas
de uma colunista de sexo, mas
a forma como o 11 de Setembro
-no filme, um blecaute toma o
lugar do ataque terrorista-
abalou a vida sexual da cidade.
"Foi um momento muito intenso, íntimo e sexual ao mesmo tempo", lembra Dawson.
"Era como encarar a própria
morte, ver que sexo e mortalidade estão muito ligados."
A atriz Sook-yin Lee, que vive uma terapeuta sexual que
nunca teve um orgasmo, conta
que, na vida real, decidiu largar
tudo depois dos ataques às Torres Gêmeas. "Quando vi as
imagens na TV, percebi que a
vida era muito curta", disse à
Folha. Ela então trocou o posto
confortável de VJ do canal
MuchMusic para seguir carreira no cinema -em seu primeiro papel de destaque, encarou
uma maratona de sexo e nudez.
Todo mundo nu
"Um dia, tinha que ficar nua e
travei", lembra. "Não conseguia
tirar a roupa de jeito nenhum,
então pedi que ligassem o som
no último e que todo mundo no
set ficasse pelado, para me ajudar a entrar no clima."
E nada de fita adesiva nas
partes íntimas, como se costuma fazer para gravar cenas de
sexo em Hollywood. Lee e o
parceiro no filme têm problemas na relação: "Tínhamos que
fingir que estávamos fingindo,
então era mesmo horrível".
Para garantir essa intimidade em cena, o roteiro do filme
foi improvisado a partir de oficinas com a equipe, recrutada
por anúncios publicados em
jornais. Quem quisesse estar
em "Shortbus" tinha de mandar uma fita de vídeo para o que
fora então anunciado como um
"projeto de filme de sexo".
"Não daria para fazer esse filme com atores de Hollywood",
diz Dawson. "Só num mundo
ideal em que as pessoas não tivessem medo de arruinar suas
carreiras." Na pele de um personagem que precisa ser penetrado para aprender a amar,
Dawson acha que foi o ator perfeito e admite que não tinha
carreira nenhuma a arruinar.
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