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Crítica
Tema ousado tem embalagem convencional
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Não surpreende que
"Shortbus" tenha sido um sucesso de
estima na 30ª Mostra de Cinema de São Paulo, em 2006:
na pasmaceira da produção
industrial contemporânea,
suas escolhas configuram
ousadia que o encaminha para o nicho dos "cult movies" e
dos "midnight movies" (filmes malditos programados
em sessões da meia-noite).
Aqui, o tratamento franco
da sexualidade investe, de
maneira enfática, contra antigos tabus da indústria cinematográfica. Seios e bundas,
por exemplo, são tolerados
até em filmes relativamente
comportados para famílias,
mas um pênis ereto é transgressão quase inaceitável - e
imagens explícitas de ejaculação, de acordo com os padrões habituais de longas de
ficção, pertenceriam ao domínio da pornografia.
Logo na abertura, "Shortbus" oferece um punhado de
pênis eretos em cenas de
masturbação, autofelação e
ejaculação. Ao longo do filme, outras imagens de sexo
explícito vão contribuir, pela
simples repetição, para que
sejam vistas não como exceção, mas com naturalidade,
elemento indispensável ao
modo com que o diretor
John Cameron Mitchell
quer ver seus personagens.
São todos vistos bem de
perto e sem roupa, nos sentidos estrito e figurado do termo. Shortbus é o nome de
um clube noturno ultraliberal de Nova York onde vários
deles se encontram, mas as
conexões entre suas vidas
não se restringem a isso. Um
dos centros de gravidade da
ação está no consultório de
uma terapeuta de casais
(Sook-Yin Lee) que, paradoxalmente, não consegue chegar ao orgasmo com seu parceiro (Raphael Barker).
Entre seus clientes, um casal de James em que um deles (Paul Dawson) faz em segredo um vídeo de despedida
para o outro (PJ DeBoy), que
o ama incondicionalmente.
As políticas do corpo são examinadas em detalhe, inclusive anatômicos, mas a política
da dramaturgia praticada
por Mitchell é conservadora:
a apresentação e resolução
dos dramas de seus personagens obedece, também paradoxalmente, às velhas regras
da dramaturgia hollywoodiana. Um pouquinho de
Fassbinder, por exemplo,
talvez não fizesse mal.
SHORTBUS
Produção: EUA, 2006
Direção: John Cameron Mitchell
Onde: a partir de hoje no Espaço
Unibanco e Reserva Cultural
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14
anos
Avaliação: regular
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