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Grupo que montou "Santa Joana dos Matadouros" prepara peça inspirada em
textos do sociólogo
Cia. do Latão troca Brecht por Freyre
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Gilberto Freyre completaria cem
anos junto com os 500 do Brasil,
no ano 2000. Mas as comemorações, se é que se pode falar assim,
começam já este ano.
Estréia dia 25 de setembro, no
teatro de Arena Eugênio Kusnet,
em São Paulo, um novo espetáculo da Cia. do Latão -grupo que
vem de duas montagens baseadas
no dramaturgo alemão Bertolt
Brecht, "Ensaio sobre o Latão" e
"Santa Joana dos Matadouros".
A nova peça, intitulada "O Nome do Sujeito", não foi programada para o centenário e nem sequer
estava nos planos da companhia
dos diretores -agora também autores- Sérgio de Carvalho, 31, e
Márcio Marciano, 35.
O projeto de ambos era trabalhar
com "Fausto", ou melhor, com o
mito da modernização, que é uma
das diversas interpretações que se
dá ao personagem tratado, entre
outros, por Goethe.
Mas o sociólogo pernambucano
Gilberto Freyre também tinha o
seu Fausto, ou algo semelhante,
numa crônica escrita em 1929 para
o jornal "A Província", com o título "Um Barão Perseguido pelo
Diabo" -editada no livro "Assombrações do Recife Velho", de
1955. Ao tomar conhecimento da
crônica, Carvalho e Marciano mudaram os planos.
Inspirados nela, passaram a ler o
que lhes caía nas mãos, do próprio
Gilberto Freyre e também de outros, sobre a cidade do Recife em
meados do século 19. É o período
em que se passa a história do barão "que viveu grande parte da vida perseguido pelo diabo", no texto da crônica, mas cujo "pacto
com o diabo era um mistério".
Carvalho e Marciano passaram a
"especular", com seus atores, em
torno do mistério do relato. A peça se desenvolveu, afinal, sem o
barão, mas com personagens "ao
redor" dele, erguidos como parte
de um esforço da Cia. do Latão para desenvolver uma dramaturgia
brasileira. Se o barão saiu de cena,
seguiu nela o "espírito fáustico",
o "mercadejar" do Recife.
O ano é 1859, quando o imperador d. Pedro 2º visitou a cidade,
mas também não é dele que se trata. "O Nome do Sujeito" faz retratos do que os diretores descrevem
como "figuras tristes, tristonhas"
do Brasil da época.
Para consumo interno, a Cia. do
Latão adotou para a peça o subtítulo "Fragmento Histórico e Sentimental" -adaptado de um outro livro de Gilberto Freyre, "Guia
Prático, Histórico e Sentimental
da Cidade do Recife".
O "Guia" é um dos muitos textos do sociólogo -ou "generalista", como ele preferia- que se esgotaram nas livrarias, mas que estão para receber nova edição, por
conta do centenário.
A Companhia das Letras prepara
"Interpretação do Brasil", mas é a
editora Topbooks que tem os planos mais ambiciosos. Além do
"Guia" este ano, chegam depois
diversos títulos esquecidos, como
"O Luso e o Trópico" e "O Mundo Que o Português Criou".
Em 1999 também será publicado
pela editora um "Dicionário de
Gilberto Freyre", de Edson Nery
da Fonseca, que vem ordenando
os muitos escritos do sociólogo,
morto há dez anos.
Ainda no ano que vem, um ano
antes do centenário, chega a adaptação, produzida para a televisão a
cabo, da obra-prima de Gilberto
Freyre, "Casa-Grande e Senzala".
O trabalho está a cargo do cineasta
Nelson Pereira dos Santos.
E é só a preparação do centenário, a ser comemorado no dia 15
de março de 2000.
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