São Paulo, sábado, 29 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grupo que montou "Santa Joana dos Matadouros" prepara peça inspirada em textos do sociólogo
Cia. do Latão troca Brecht por Freyre

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Gilberto Freyre completaria cem anos junto com os 500 do Brasil, no ano 2000. Mas as comemorações, se é que se pode falar assim, começam já este ano.
Estréia dia 25 de setembro, no teatro de Arena Eugênio Kusnet, em São Paulo, um novo espetáculo da Cia. do Latão -grupo que vem de duas montagens baseadas no dramaturgo alemão Bertolt Brecht, "Ensaio sobre o Latão" e "Santa Joana dos Matadouros".
A nova peça, intitulada "O Nome do Sujeito", não foi programada para o centenário e nem sequer estava nos planos da companhia dos diretores -agora também autores- Sérgio de Carvalho, 31, e Márcio Marciano, 35.
O projeto de ambos era trabalhar com "Fausto", ou melhor, com o mito da modernização, que é uma das diversas interpretações que se dá ao personagem tratado, entre outros, por Goethe.
Mas o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre também tinha o seu Fausto, ou algo semelhante, numa crônica escrita em 1929 para o jornal "A Província", com o título "Um Barão Perseguido pelo Diabo" -editada no livro "Assombrações do Recife Velho", de 1955. Ao tomar conhecimento da crônica, Carvalho e Marciano mudaram os planos.
Inspirados nela, passaram a ler o que lhes caía nas mãos, do próprio Gilberto Freyre e também de outros, sobre a cidade do Recife em meados do século 19. É o período em que se passa a história do barão "que viveu grande parte da vida perseguido pelo diabo", no texto da crônica, mas cujo "pacto com o diabo era um mistério".
Carvalho e Marciano passaram a "especular", com seus atores, em torno do mistério do relato. A peça se desenvolveu, afinal, sem o barão, mas com personagens "ao redor" dele, erguidos como parte de um esforço da Cia. do Latão para desenvolver uma dramaturgia brasileira. Se o barão saiu de cena, seguiu nela o "espírito fáustico", o "mercadejar" do Recife.
O ano é 1859, quando o imperador d. Pedro 2º visitou a cidade, mas também não é dele que se trata. "O Nome do Sujeito" faz retratos do que os diretores descrevem como "figuras tristes, tristonhas" do Brasil da época.
Para consumo interno, a Cia. do Latão adotou para a peça o subtítulo "Fragmento Histórico e Sentimental" -adaptado de um outro livro de Gilberto Freyre, "Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife".
O "Guia" é um dos muitos textos do sociólogo -ou "generalista", como ele preferia- que se esgotaram nas livrarias, mas que estão para receber nova edição, por conta do centenário.
A Companhia das Letras prepara "Interpretação do Brasil", mas é a editora Topbooks que tem os planos mais ambiciosos. Além do "Guia" este ano, chegam depois diversos títulos esquecidos, como "O Luso e o Trópico" e "O Mundo Que o Português Criou".
Em 1999 também será publicado pela editora um "Dicionário de Gilberto Freyre", de Edson Nery da Fonseca, que vem ordenando os muitos escritos do sociólogo, morto há dez anos.
Ainda no ano que vem, um ano antes do centenário, chega a adaptação, produzida para a televisão a cabo, da obra-prima de Gilberto Freyre, "Casa-Grande e Senzala". O trabalho está a cargo do cineasta Nelson Pereira dos Santos.
E é só a preparação do centenário, a ser comemorado no dia 15 de março de 2000.




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.