São Paulo, Quarta-feira, 29 de Setembro de 1999
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23ª Mostra de Cinema é movida pela paixão



Impregnado pelo amor, o festival exibe entre 15 e 28 de outubro cerca de 150 longas e 35 curtas em oito cinemas de SP


IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

A paixão, em suas diversas formas, é a grande personagem da 23ª Mostra de Cinema de São Paulo. Serão vistos amores radicais, dilacerados, arrebatadores, dogmáticos, mexicanos, poéticos, kitsch, para todos, enfim.
Para Leon Cakoff, criador e diretor da mostra há 22 anos, há uma razão especial para isso: "A paixão é o que move o cinema".
O evento vai projetar cerca de 150 filmes, além de 35 curtas-metragens, nas telas de oito cinemas, entre 15 e 28 de outubro.
"Nosso objetivo é mostrar o que está acontecendo no cinema no mundo", diz Renata de Almeida, também diretora da mostra, explicando que os filmes não foram escolhidos pelo tema, mas pela qualidade.
Cakoff emenda: "Mas, se grande parte desse cinema atual fala de paixão, arrisco-me a dizer que existe uma tendência aí. É a própria redescoberta do cinema".
A redescoberta começa já no cartaz do evento, com uma cena apaixonada criada por José Zaragoza. Artista plástico, mais conhecido como o Z da DPZ, Zaragoza fez um cartaz inspirado nos painéis que ilustravam as fachadas dos cinemas de antigamente.
Mais do que inspirado, o cartaz foi uma volta a uma ex-profissão. "Comecei desenhando esses painéis, quando tinha entre 16 e 18 anos, em Barcelona", conta Zaragoza. "É preciso sempre um close e uma cena de ação", ensina.
"É uma homenagem não só ao cartazista de cinema, profissão que está morrendo, mas também ao Zaragoza, que, em 1997, aos 66 anos, virou cineasta com o longa "Até Que a Vida Nos Separe'", diz Cakoff.
A programação completa só fica pronta na semana que vem, mas, entre as dezenas de filmes para apaixonados (veja quadro abaixo), vale destacar "Mentiras", do coreano Jang Sun Woo. O filme não ganhou nada, mas fez furor este mês no Festival de Veneza. "Os jornalistas italianos o chamaram de o novo "O Império dos Sentidos'", afirma Cakoff.
"O Império dos Sentidos" (1976), do japonês Nagisa Oshima, causou escândalo em todo o mundo ao usar o sexo pesado para falar de paixão. No caso de "Mentiras", o sadomasoquismo é o mote. "É sobre o sonho de viver, comer e transar sem ter que trabalhar", já disse o diretor.

Outros destaques
A mostra traz também filmes que não têm nada a ver com amor. "Os Carvoeiros", por exemplo, do inglês Nigel Noble, é um documentário que revela o cotidiano dos trabalhadores em minas de carvão vegetal no Pará, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Noble já ganhou um Oscar de melhor documentário em 1981, por "Close Harmony".
"O Vento Nos Levará", nova fita do iraniano Abbas Kiarostami, tem a morte como tema. Mostra um grupo de pessoas -não-atores- que vai a uma cidade participar de um ritual funerário, despertando a curiosidade dos moradores e de uma rede de TV.
Duas retrospectivas estão programadas: dez melodramas da época de ouro do cinema mexicano e dez fitas do japonês Seijun Suzuki.
Suzuki foi diretor de dezenas de policiais yakuzas, cheios de sexo e violência, nos anos 60. Em 67, passou a introduzir gags surrealistas em seus roteiros. Os produtores não gostaram e ele ficou dez anos sem filmar. Em 1980, ganhou a crítica com "Zigeunerweisen", que está na retrospectiva.
"Homo Sapiens 1900", do sueco Peter Cohen, levanta polêmica com o tema da pureza racial. Cohen é o autor de "Arquitetura da Destruição", que desvenda como a propaganda manipulava as artes na Alemanha nazista.
O diretor sueco, aliás, faz parte do júri oficial da mostra, que escolherá os melhores da competição entre novos diretores.
Estão com ele Hector Babenco (de "Pixote" e "Coração Iluminado"), Tom Luddy (diretor do festival americano de Telluride e sócio de Francis Ford Coppola na produtora Zoetrope), Marion Hansel (ex-atriz de Luis Buñuel, hoje diretora), Marco Muller (diretor do festival de Locarno, na Suíça; e que vem buscar projetos para financiar) e Cedomir Kolar (produtor de filmes como "Antes da Chuva").
Além deles, o público vota em todas as sessões para escolher o melhor filme.
Dez filmes brasileiros participam do evento. A exibição de "O Primeiro Dia", co-produção franco-brasileira, contará com a presença dos diretores Walter Salles e Daniela Thomas. Há também "Santo Forte", de Julio Bressane, e "O Santo Forte", de Eduardo Coutinho.
A abertura acontece no dia 13 de outubro na nova Sala São Paulo, antiga Estação Júlio Prestes. Será projetado o filme mudo "Fausto" (1926), do alemão Friedrick Murnau (de "Nosferatu"), acompanhado pela Sinfonia Cultural, Orquestra da Rádio e TV Cultura.
O patrocínio da 23ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é da Petrobrás. O site é www.mostra.org.


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