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ROCK IN RIO
Organização teme que letras combativas gerem confusão no público; novos nomes reforçam perfil "pop de FM"
Festival deixa rap de fora da programação
ISRAEL DO VALE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
No ano em que assume o sobrenome bem-intencionado "Por
um Mundo Melhor", o Rock in
Rio corre o risco de reproduzir no
palco a mesma desigualdade que
elegeu como inimiga. Formatada
como uma grande manifestação
contra o que os organizadores
chamam de "déficit social", a terceira edição do festival deve deixar de fora justamente o gênero
musical mais engajado socialmente: o rap.
A decisão teria sido tomada em
reunião entre os responsáveis pela programação e os patrocinadores, pelo temor de que as letras
combativas dos grupos de rap inflamassem a audiência de uma
forma que se perdesse o controle,
colocando em risco a segurança
do público. "É uma responsabilidade muito grande montar uma
programação para 250 mil pessoas, e nós não podemos deixar
de levar isso em conta", afirma
Jefferson Bandeira de Mello, um
dos responsáveis pela definição
do casting nacional.
Com isso, nomes como Racionais MC's e Planet Hemp, duas
das principais bandas surgidas
nos anos 90 no Brasil, estão excluídos dos 40 artistas que ocupam o palco principal. Nem mesmo a Tenda Brasil, criada para
reunir talentos emergentes e músicos sem apelo de massa, deve
comportar o rap entre os 56
shows programados.
Em entrevista coletiva na noite
de quarta-feira, no Rock in Rio
Café, na Barra, os organizadores
reafirmaram a tendência "pop de
FM" da programação, no anúncio
de uma nova fornada, que inclui
Cidade Negra, Kid Abelha, Elba
Ramalho + Zé Ramalho (reunidos em torno do projeto The Ramalhos), Carlinhos Brown, Cássia
Eller e Skank. Os Raimundos, que
aguardavam definição das condições técnicas para os shows nacionais, confirmaram participação.
A insegurança dos Raimundos
se deve ao histórico do festival,
muito criticado nas duas edições
anteriores por privilegiar os artistas internacionais, que teriam sido beneficiados com mais tempo
para ajustar seus instrumentos
(ou, no jargão musical, passar o
som) e tido à sua disposição uma
melhor infra-estrutura. O idealizador do festival, Roberto Medina, promete que, desta vez, as
condições serão iguais para todos,
fato reafirmado seguidamente na
entrevista.
"Este ano, até os contratos são
iguais aos dos artistas internacionais. Apenas traduzimos", diz o
responsável pelo cast nacional,
Bandeira de Mello. A maior demonstração de igualdade de condições será dada no número de
mesas de som. "Vamos ter seis ao
todo. Uma para cada artista do
dia." Isso evita que um artista tenha que tocar sob os ajustes técnicos de outro.
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