São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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ROCK IN RIO
Organização teme que letras combativas gerem confusão no público; novos nomes reforçam perfil "pop de FM"
Festival deixa rap de fora da programação

ISRAEL DO VALE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

No ano em que assume o sobrenome bem-intencionado "Por um Mundo Melhor", o Rock in Rio corre o risco de reproduzir no palco a mesma desigualdade que elegeu como inimiga. Formatada como uma grande manifestação contra o que os organizadores chamam de "déficit social", a terceira edição do festival deve deixar de fora justamente o gênero musical mais engajado socialmente: o rap.
A decisão teria sido tomada em reunião entre os responsáveis pela programação e os patrocinadores, pelo temor de que as letras combativas dos grupos de rap inflamassem a audiência de uma forma que se perdesse o controle, colocando em risco a segurança do público. "É uma responsabilidade muito grande montar uma programação para 250 mil pessoas, e nós não podemos deixar de levar isso em conta", afirma Jefferson Bandeira de Mello, um dos responsáveis pela definição do casting nacional.
Com isso, nomes como Racionais MC's e Planet Hemp, duas das principais bandas surgidas nos anos 90 no Brasil, estão excluídos dos 40 artistas que ocupam o palco principal. Nem mesmo a Tenda Brasil, criada para reunir talentos emergentes e músicos sem apelo de massa, deve comportar o rap entre os 56 shows programados.
Em entrevista coletiva na noite de quarta-feira, no Rock in Rio Café, na Barra, os organizadores reafirmaram a tendência "pop de FM" da programação, no anúncio de uma nova fornada, que inclui Cidade Negra, Kid Abelha, Elba Ramalho + Zé Ramalho (reunidos em torno do projeto The Ramalhos), Carlinhos Brown, Cássia Eller e Skank. Os Raimundos, que aguardavam definição das condições técnicas para os shows nacionais, confirmaram participação.
A insegurança dos Raimundos se deve ao histórico do festival, muito criticado nas duas edições anteriores por privilegiar os artistas internacionais, que teriam sido beneficiados com mais tempo para ajustar seus instrumentos (ou, no jargão musical, passar o som) e tido à sua disposição uma melhor infra-estrutura. O idealizador do festival, Roberto Medina, promete que, desta vez, as condições serão iguais para todos, fato reafirmado seguidamente na entrevista.
"Este ano, até os contratos são iguais aos dos artistas internacionais. Apenas traduzimos", diz o responsável pelo cast nacional, Bandeira de Mello. A maior demonstração de igualdade de condições será dada no número de mesas de som. "Vamos ter seis ao todo. Uma para cada artista do dia." Isso evita que um artista tenha que tocar sob os ajustes técnicos de outro.


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