DA REPORTAGEM LOCAL

Em sua sexta turnê pelo Brasil, a Comédie-Française, a mais antiga companhia teatral do planeta, fundada em 1680, traz a montagem da peça "As Artimanhas de Scapino", de Molière (1622-1673).
Depois da passagem pelo Rio, no início da semana, a Comédie faz duas sessões em São Paulo, hoje e amanhã, no teatro Alfa. A última apresentação do grupo no país aconteceu em 1986; a primeira foi em 1939.
Scapino é um dos personagens fixos da commedia dell'arte, a escola italiana de interpretação surgida no século 16 e calcada em tipos populares.
O ator e dramaturgo francês Jean-Baptiste Poquelin, consagrado com o nome artístico de Molière, apropriou-se da máscara do criado para conceber a farsa "Les Fourberies de Scapin" (1671).
Porém a recente montagem da Comédie, que estreou em 97, quer transcender à concepção estereotipada dessa linguagem cômica. Segundo o diretor Jean-Louis Benoit, não se verá em cena os gestos excessivos, por exemplo.
"Nos 380 anos da companhia, essa é a primeira montagem de "Scapino" com um tratamento realista. Não quer dizer que a farsa será desprezada, mas o nosso desejo é mostrar o personagem em sua dimensão mais humana", diz Benoit, 53.
Molière escreveu o texto dois anos antes da sua morte. Também foi ele o primeiro a interpretar o papel de Scapino. Por isso a peça é considerada uma espécie de testamento do artista.
"Quando Scapino está falando, é o próprio Molière lançando um olhar sobre o século 16 e aqueles que o sucederam, cuja história é marcada pelo poder patriarcal, pelo dinheiro e pelo amor que, para o bem e para o mal, mobilizaram a humanidade ao longo do tempo", afirma o ator Gérard Giroundon, 50, no papel-título.
Em tempo: "As Artimanhas de Scapino" se passa na italiana Nápoles do século 16, quando o respectivo criado se incumbe de ajudar dois rapazes a convencer seus pais dos casamentos que arranjaram sem consentimento.
Entre as muitas estripulias que arma, entre nobres e plebeus, Scapino surrupia dinheiro dos patrões para que os respectivos filhos triunfem no amor. São dez atores no elenco. "As Artimanhas de Scapino" conquistou o Prêmio Molière 97 (o principal da França para o teatro) como melhor espetáculo e melhor direção.
Sob a direção-geral de Jean-Pierre Miquel, que exerce a função desde 93, a Comédie-Française já montou mais de 3.000 peças em três séculos, de Corneille a Jean Genet, de Marivaux a Ionesco. "As turnês servem para mostrar que não somos um museu de clássicos, como muitos podem imaginar", afirma o ator Bruno Raffaeli, 50.
A turnê brasileira tem apoio do Consulado Geral da França e da Air France. (VALMIR SANTOS)


Peça: As Artimanhas de Scapino Autor: Molière Direção: Jean-Louis Benoit Com: Comédie-Française Quando: somente hoje e amanhã, às 21h Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, tel. 0/xx/11/5693-4000) Quanto: de R$ 20 a R$ 90


Texto Anterior: Encontro na PUC-SP discute a arte no jornal
Próximo Texto: Brasileira tenta incluir infantil no repertório
Índice