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ARTES PLÁSTICAS
Decisão da Justiça de Pernambuco impede novamente embarque de altar e compromete exposição
Mostra brasileira em Nova York corre risco
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal Regional Federal da
5ª Região, em Pernambuco, manteve, anteontem, a decisão do juiz
da 1ª Vara Federal da Sessão Judiciária de Pernambuco, Roberto
Nogueira, de impedir o embarque
do altar-mor do Mosteiro de São
Bento, em Olinda, para o museu
Guggenheim, em Nova York.
A decisão foi tomada pelo voto
de dois desembargadores, num
grupo de três. Segundo o desembargador Rivaldo Costa, que votou contra o embarque, "é público e notório que existe um estado
de guerra nos Estados Unidos e
não podemos expor nosso patrimônio histórico a uma situação
de risco como esta".
"Com esta decisão, a mostra pode não acontecer, o altar é a peça
central da exposição, o que consta
do contrato com o Guggenheim",
disse ontem à Folha o presidente
da associação BrasilConnects,
Edemar Cid Ferreira.
O altar foi restaurado pela associação, que organiza a mostra, a
um custo de R$ 650 mil, celebrado
em convênio com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional) e o mosteiro
dos beneditinos. O embarque das
partes estava previsto para dois
momentos, 20 e 27 de setembro.
Mas, por um pedido do Ministério Público Federal em Pernambuco, o juiz Roberto Nogueira,
por meio de uma liminar, impediu a ida da peça no último dia 20.
A BrasilConnects e o mosteiro
entraram com recursos pedindo a
suspensão da liminar, que foram
votados anteontem. Na sessão, o
desembargador Costa argumentou ainda que "os dois seguros de
US$ 20 milhões não foram feitos
em favor do Mosteiro de São Bento ou do Iphan, e sim em nome da
BrasilConnects; além disso não
cobrem os danos causados por
atos terroristas".
Ferreira contesta a afirmação:
"O seguro foi feito em nome dos
beneditinos e ontem, numa ação
inédita, conseguimos um seguro
com o Lloyds que cobre o altar em
caso de ataques terroristas".
No próximo dia 4, a questão
volta a ser discutida pelo Tribunal
Regional Federal em Recife, pois o
terceiro desembargador a decidir
sobre o caso, Paulo Gadelha, pediu vistas do processo.
"Até lá, até mesmo a Advocacia
Geral da União deve se manifestar, pois a decisão prejudica a
imagem do país no exterior; é como se o Brasil não acreditasse que
os Estados Unidos possam ser
mais fortes que o terrorismo; mas
acredito ainda no bom senso da
Justiça", diz Ferreira.
Embalado no aeroporto há 15
dias e aguardando uma decisão, o
próprio altar agora corre riscos.
As caixas são climatizadas, mas a
temperatura está assegurada por
no máximo cinco dias -e podem
começar a aparecer fungos. Segundo Roberto Peixe, secretário
municipal de Cultura do Recife, o
altar nem sequer pode voltar ao
mosteiro. "Seu local de origem
ainda não foi restaurado, continua cheio de cupins", disse ontem
à Folha.
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