São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Decisão da Justiça de Pernambuco impede novamente embarque de altar e compromete exposição

Mostra brasileira em Nova York corre risco

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em Pernambuco, manteve, anteontem, a decisão do juiz da 1ª Vara Federal da Sessão Judiciária de Pernambuco, Roberto Nogueira, de impedir o embarque do altar-mor do Mosteiro de São Bento, em Olinda, para o museu Guggenheim, em Nova York.
A decisão foi tomada pelo voto de dois desembargadores, num grupo de três. Segundo o desembargador Rivaldo Costa, que votou contra o embarque, "é público e notório que existe um estado de guerra nos Estados Unidos e não podemos expor nosso patrimônio histórico a uma situação de risco como esta".
"Com esta decisão, a mostra pode não acontecer, o altar é a peça central da exposição, o que consta do contrato com o Guggenheim", disse ontem à Folha o presidente da associação BrasilConnects, Edemar Cid Ferreira.
O altar foi restaurado pela associação, que organiza a mostra, a um custo de R$ 650 mil, celebrado em convênio com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e o mosteiro dos beneditinos. O embarque das partes estava previsto para dois momentos, 20 e 27 de setembro. Mas, por um pedido do Ministério Público Federal em Pernambuco, o juiz Roberto Nogueira, por meio de uma liminar, impediu a ida da peça no último dia 20.
A BrasilConnects e o mosteiro entraram com recursos pedindo a suspensão da liminar, que foram votados anteontem. Na sessão, o desembargador Costa argumentou ainda que "os dois seguros de US$ 20 milhões não foram feitos em favor do Mosteiro de São Bento ou do Iphan, e sim em nome da BrasilConnects; além disso não cobrem os danos causados por atos terroristas".
Ferreira contesta a afirmação: "O seguro foi feito em nome dos beneditinos e ontem, numa ação inédita, conseguimos um seguro com o Lloyds que cobre o altar em caso de ataques terroristas".
No próximo dia 4, a questão volta a ser discutida pelo Tribunal Regional Federal em Recife, pois o terceiro desembargador a decidir sobre o caso, Paulo Gadelha, pediu vistas do processo.
"Até lá, até mesmo a Advocacia Geral da União deve se manifestar, pois a decisão prejudica a imagem do país no exterior; é como se o Brasil não acreditasse que os Estados Unidos possam ser mais fortes que o terrorismo; mas acredito ainda no bom senso da Justiça", diz Ferreira.
Embalado no aeroporto há 15 dias e aguardando uma decisão, o próprio altar agora corre riscos. As caixas são climatizadas, mas a temperatura está assegurada por no máximo cinco dias -e podem começar a aparecer fungos. Segundo Roberto Peixe, secretário municipal de Cultura do Recife, o altar nem sequer pode voltar ao mosteiro. "Seu local de origem ainda não foi restaurado, continua cheio de cupins", disse ontem à Folha.


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