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Memória
Newman gostava do lado dos perdedores
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Dos quatro galãs que formaram a primeira
grande geração lançada pelo Actors Studio nos Estados Unidos, Paul Newman foi o
único a ter uma vida longa e
bem resolvida. James Dean
morreu num desastre de automóvel. Montgomery Clift morreu em 1966, dez anos após um
acidente de carro -no que muitos chamaram de "o mais longo
suicídio da história". Marlon
Brando morreu mais idoso,
tendo vivido o bastante para
deformar sua figura e testemunhar a infelicidade dos filhos.
Como os outros três, no entanto, sua carreira cinematográfica floresceu rapidamente.
Em um de seus primeiros filmes, já chamava a atenção como o protagonista de "Marcado
pela Sarjeta" (1956), biografia
do boxeador Rocky Graziano.
Em 1958 faria "Gata em Teto de
Zinco Quente", ao lado de Elizabeth Taylor. Newman começava a marcar como o jovem rebelde, por vezes um tanto perdido e com um quê retraído que
se expressava em seus olhos
azuis. Mas era ao mesmo tempo intransigente, como se as
virtudes morais falassem nele
mais alto do que a força física.
"Gata em Teto de Zinco
Quente" abriu, no mais, uma
série de indicações frustradas
ao Oscar. Outras cinco se seguiriam antes que vencesse finalmente, por "A Cor do Dinheiro"
(1986), em que reencarnava o
jogador de bilhar Eddie Felson,
criado no filme de 1961.
Nessa altura, Newman já havia ganhado até aquele Oscar
honorário reservado, habitualmente, aos casos perdidos, aos
que nunca vão passar de indicados para vencedores. Isso casava bem com a imagem liberal
de Newman, que com freqüência optava por ficar do lado dos
pobres, dos perdedores. Um
ótimo exemplo dessa imagem
-que também o levou a uma
indicação ao Oscar- está em
"O Veredicto" (1982), de Sidney
Lumet, em que faz um advogado que enfrenta uma banca de
notáveis juristas num caso de
má conduta médica.
Mas antes, em 1966, fez uma
parceria infeliz com Hitchcock,
em "Cortina Rasgada".
Trabalhando com outros diretores de primeira, como Richard Brooks ou Martin Ritt,
Newman se dava melhor, assim
como na sua fase mais descontraída, quando fez "Butch Cassidy" (1969) e "The Sting"
(1973) com Robert Redford e o
diretor George Roy Hill.
Muito rico graças ao cinema,
criou a Newman's Own, empresa de alimentos cujos lucros
destinava a causa beneficentes.
O tempo livre destinava às corridas de automóveis. Depois de
uma bem-sucedida carreira como piloto, tornou-se, nos anos
1980, sócio de uma equipe de
Fórmula Indy.
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