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MÚSICA
Em "14 Quilates", cantor apresenta composições com temas sociais e regrava "Ébano", um de seus grandes sucessos
Novo CD recupera Luiz Melodia compositor
PAULO VIEIRA
enviado especial ao Rio
Após um silêncio de 6 anos, Luiz
Melodia está de volta à composição. No disco anterior, "Relíquias" (95), Melodia apenas se regravou em arranjos "Globo de
Ouro". Inéditas, só em 91, com
"Pintando o Sete", disco com o
qual finalmente alcançou o sucesso, interpretando uma de Cazuza.
Seu "14 Quilates", CD que lança
agora, tem pouco do Melodia de
interpretação livre e rasgada dos
anos 70. Mas, como ele mesmo
disse, se pudesse, regravaria seus
discos antigos de novo. Ele recebeu a Folha na última sexta-feira,
para esta entrevista.
Folha - Seis anos sem gravar músicas inéditas. Você continua com
sua cadência própria, jamais lançando o disco anual.
Luiz Melodia - Não vejo motivo
nenhum para lançar disco atrás do
outro. Eu acredito em inspiração.
Eu estava bem preguiçoso em relação à composição. Aí reencontrei
um amigo e parceiro (Ricardo Augusto) num show. Nos juntamos e
em dois dias fizemos seis músicas.
Folha - Ao contrário do que pensa a crítica, os artistas que fizeram
coisas importantes nos anos 70
são unânimes em afirmar que estão melhores agora. Você também
se vê assim?
Melodia - Eu acho que sim,
porque o processo tende a cada dia
melhorar. Eu acho que dei uma
boa interpretação nesse novo disco, procurei com mais atenção
participar dele. Esse é o segundo
disco com o mesmo produtor. O
produtor é um pai para você.
Folha - Mas você não parece ser
daqueles que jogam tudo na mão
do produtor...
Melodia - Não jogo na mão de
ninguém. Desde que entrei nessa
parafernália, eu procuro deixar
claro que sou indomável. Falavam
que eu brigava com as gravadoras,
isso virou até folclore. Simplesmente não aceito certas imposições. Na Warner, um produtor
queria que eu fizesse uma música
de refrão para poder "acontecer",
fazer puxar um disco. Isso não
existe. Quando desci o morro de
São Carlos, e me disseram que eu
era interessante, procurei fazer
aquilo que eu sabia. Se deixar no
natural, fica bem legal.
Folha - Por que regravar "Ébano"?
Melodia -Foi pedido de meu
público. Sempre foi a mais pedida,
até mesmo que "Magrelinha". Estava pensando em gravar no "Relíquias", mas não aconteceu.
Folha - Você nunca sentiu desejo
ou necessidade de falar mais sobre
a negritude?
Melodia -Acredito que as coisas
deveriam ser benéficas para todos,
para qualquer pele, qualquer cor.
Eu não me ligo diretamente em
militância. Minha música é o que
eu posso fazer diante de uma coisa
tão cruel como o racismo.
Folha - Eu fui assistir a um show
seu com o Eduardo Dusek, em 87,
em São Paulo, e você não conseguia cantar, dar prosseguimento
ao negócio. Está tudo bem com as
bebidas, porque chegou a te atrapalhar bastante, não?
Melodia -Não, não. Eu não me
lembro desse show e nunca tive
problema com bebidas junto com
minha vida artística. Eu continuo
bebendo, normal. Eu parei de beber gelado... E depois não é álcool,
cachaça, isso que você está falando, não. É cerveja, gosto muito de
cerveja. Mas tive que diminuir,
porque eu descobri que só tinha
um rim. E o rim é o que filtra, e tal.
Folha - Há uma onda, entre os artistas contemporâneos seus, de fazer um balanço de carreira. É o momento para isso?
Melodia - Quando resolvi fazer
"Relíquias", já tinha a idéia disso
há algum tempo. E coincidiu com
o que estava acontecendo. Mas a
vontade foi minha. Mas, automaticamente, a gravadora, que é oportunista, aproveita para tirar partido disso.
Folha - Mas isso não é uma demonstração que a produção atual
não é tão boa quanto aquela que
está sendo tributada?
Melodia - Eu vejo nos meus discos anteriores muitas gafes de produção. Se eu pudesse, eu regravaria todos eles. Sem dúvida.
Folha - Você tem alguns temas
sociais no novo disco, "Pra Que" e
também "Sub-Anormal". Isso é novo em sua carreira.
Melodia -Nunca fui ligado nisso, mas decidi falar. Até pelo que
está acontecendo. Todos estão
vendo: desemprego, política falsa,
bala perdida... Essa coisa acaba
tendo um lugar só, a desgraça.
Folha - Nos anos 70, sob o regime
militar, quando era um tempo talvez mais propício para discutir o
social, você nunca falou disso. Por
quê?
Melodia -Eu nunca fui a favor
do regime militar, mas era mais seguro. Pelo menos a coisa acontecia. Achava o regime filho da puta,
mas você tinha mais segurança.
Agora é roubalheira, falcatrua. Eu
não vejo como as coisas poderão se
acalmar.
Algum projeto para 98?
Melodia -Cinema. Eu ganhei
um convite para ser um amigo do
Noel Rosa no filme que estão fazendo sobre ele. Sou o Papagaio.
Fiquei felicíssimo, sou doido para
atuar.
Folha - E o Papagaio é negro?
Melodia -Naturalmente. Será
que o cara é branco e vão colocar o
Luiz Melodia como parceiro? Aí ficaria meio esquisito. Aliás, o clipe
do "Vamo Cumê", que eu gravei
com o Caetano (em 87, no disco
"Caetano Veloso"), é a coisa mais
ridícula que eu já vi na minha vida.
Pintaram um branco de negro para fazer o Melodia. Eu não gostei,
achei desagradável. Não sei se você
sabe, Caetano, mas foi muito desagradável para mim.
O jornalista Paulo Vieira viajou ao Rio a convite
da EMI
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