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DISCO - LANÇAMENTO
Extremos do rock se encontram no Japão
CORNELIUS
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Era uma vez, no Japão, o futuro.
Chamava-se Cornelius e lançou,
no ano de 1998, um disco chamado
"Fantasma". Ele havia nascido em
1969 e era obcecado pelo futuro do
passado de "2001", o(s) clássico(s)
de Arthur Clarke (em livro) e Stanley Kubrick (em filme).
Mas ele havia visto muito desenho animado. E tomou muita Fanta. Por isso, escreveu "Fantasma"
separado, "Fanta/sma", em cima
de uma capa toda alaranjada. Embora cantasse quase sempre em japonês, transcreveu as letras das
músicas no encarte em japonês, inglês e português, porque o mundo
estava globalizado e aquelas eram
línguas fundamentais ao pop (esqueceu o francês).
Sua intenção era mergulhar passado -Kubrick, National Kid,
Beach Boys, Mr. Magoo, Jetsons-
, presente -o pop star Beck- e
futuro -"2001", Jetsons, pop eletrônico- num liquidificador só.
Bem, ele conseguiu. "Fantasma",
terceiro disco (primeiro a chegar
aos EUA, terceiro a não chegar ao
Brasil) de Keigo Oymada, 29, sob o
codinome Cornelius, é exemplar
perfeito do que se poderia chamar
pop pós-moderno -uma bagunça
virtual de referências alucinadas.
Ele seria, assim, correlato oriental do norte-americano Beck, com
uma diferença -é mais debochado, menos sério que o outro.
Exemplos de besteirol? A primeira faixa, "Mic Check", é o que o nome propõe: uma checagem de microfone e voz, puro escracho. O
tecno-rock "Count Five or Six" limita-se a contar, em inglês: "Um,
dois, três, quatro, cinco, seis".
"Magoo Opening" é colagem bocó
de vinhetas de desenho animado,
nada que se possa levar a sério.
As referências ao Brasil (se é Japão, sempre há) vêm, claro, em
forma de new bossa nova. Acontece em "Clash" (ambígua canção
sobre... um copo) e em "Star Fruits
Surf Rider" (também meio "Arquivo X"), por exemplo.
Mas, quase sempre pop ("The
Micro Disneycat World Tour" poderia ser fundo musical de casamento), o que no fundo Cornelius
quer mesmo é ser roqueiro.
Assim, "New Music Machine"
-sobre uma máquina criada pela
Nasa em 2001 que, em 2010, "já estava completamente fora de ordem"- é um rock de estrada decalcado de The Cure. "Chapter 8 -
Seahouse and Horizon" é simulacro da psicodelia dos Beatles de
"Sgt. Pepper" (67).
Mais escancarada é "God Only
Knows". O nome é o mesmo de
uma canção de "Pet Sounds" (66),
o "Sgt. Pepper" dos Beach Boys
-nitidamente a grande influência
de Cornelius. A letra diz: "Em março de 97, eu era o único neste mundo que cantava "Just like Honey' ".
Pois bem, "Just like Honey" é o
nome de um rock de 1986 do ultrabarulhento Jesus and The Mary
Chain -outro grupo que não existiria sem os Beach Boys. No pop de
Cornelius, os 60 dão as mãos aos 80
para fazer os 2000.
O problema? Cornelius não tem
discurso, não sabe o que quer fazer
com tanta referência. Faz pop divertido, diversificado, cheio de
forma e de conteúdo perdidão no
espaço. Se não mais, é documento
fiel do presente perpétuo de 1998.
²
Disco: Fantasma
Artista: Cornelius
Lançamento: Matador (importado)
Onde encomendar: London Calling (011/
223-5300), Bizarre (011/220-7933)
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