PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O motivo da demissão de Paul Schrader quando ele entregou sua versão de "Exorcista - O Início" foi que ali estava um drama psicológico e não um filme de terror. Os produtores chamaram, então, o diretor Renny Harlin para "salvar" o projeto. Ele refilmou praticamente tudo, e o que temos na tela é mais um filme de demônio sem alma.
Schrader estava tomando um caminho mais próximo (e certamente melhor) do original de William Friedkin. Em "O Exorcista" (73), ainda que houvesse a chave do terror explícito na monstruosa imagem da garotinha possuída, era a consciência pesada de todos os personagens, do policial solitário ao padre que largou a mãe às traças, que norteava o suspense da trama, cujo mal estaria então nesses "demônios internos".
Harlin optou pela superfície do mal, todo ele transfigurado na figura do demônio. A direção aposta nos gatilhos de sustos fáceis, com closes e explosões sonoras, típicos do gênero de terror. O que é estranho em se tratando de um filme de formação, sobre uma das primeiras experiências com exorcismo feitas pelo padre Lankester Merrin (Stellan Skarsgard), 25 anos antes de ele enfrentar os vômitos verdes da menina Regan.
Convenhamos que Skarsgard, ótimo nos filmes de Lars von Trier, parece um impostor. Sob a direção barbeira de Harlin fica difícil entrarmos no drama pessoal do personagem, que abandonou a batina após um trauma durante a Segunda Guerra. Ele é cooptado para ajudar nas escavações de uma igreja bizantina no Quênia, na verdade, um sítio de rituais pagãos, com hienas raivosas, bebês cobertos por vermes e outras grosserias estéticas geradas por computação gráfica.
Como filme de monstro, "Exorcista - O Início" dá uma de Lúcifer, apostando numa suposta ingenuidade do espectador para tombá-lo à tentação.

O Exorcista - O Início
Exorcist: The Beginning
 
Direção: Renny Harlin
Produção: EUA, 2004
Com: Stellan Skarsgard, Izabella Scorupco, James d'Arcy
Quando: a partir de hoje no Cine Morumbi, Continental, Eldorado e circuito