São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição que chega à 29ª edição relê categorias clássicas e apresenta diversidade da arte brasileira

Dispersão marca mostra Panorama 2005

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

As obras de 50 artistas que se espalham pelas salas expositivas do MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo evidenciam um Brasil em dispersão.
Resultado de uma pesquisa apurada do curador Felipe Chaimovich por 14 cidades, tal fragmentação, muito clara na 29ª edição do Panorama da Arte Brasileira, não deve ser vista negativamente. Mostra um país com multiplicidade de olhares de artistas contemporâneos, que levam ao limite oito tipificações clássicas, reinterpretando-as.
A partir de hoje, o público percorre um mar imaginário habitado por um barco de Nuno Ramos (SP) constituído de areia. Pode perceber na obra de José Bechara (RJ) o embate de uma grande casa em seu espaço interno, expelindo seus objetos domésticos porta afora. Verá, pouco a pouco, a degradação de um costumeiro café da manhã, após performance de Marco Paulo Rolla (MG). E se depara com a imagem de um Cristo enegrecido, feito de rapadura e perecível, na escultura de Caetano Dias.
Assim, paisagem (em Ramos), costume (em Bechara e Rolla) e história (em Dias), com outros cinco gêneros, ganham atualidade quando recebem leituras que fogem do esquemático.
"Tais classificações fazem parte de uma gramática plástica universal, mas não são engessadas. Recebem leituras dos artistas próximas do limite", afirma o curador. Os outros cinco gêneros são natureza-morta, retrato, alegoria, emblema e religiosidade.
Chaimovich acredita que a grande multiplicidade de expressões de arte contemporânea em diversos pontos do Brasil não é percebida em toda sua diversidade nem pelos seus agentes, os artistas. O Panorama 2005 é uma rara oportunidade de reunião dessas variadas manifestações sem um viés curatorial unívoco.
"Acredito que as leis de isenção fiscal possibilitaram o aparecimento de tão variadas produções Brasil afora. Não há mais um Estado que rege a política cultural com um pensamento centralizado", avalia o curador, também crítico da Folha.
Dentro desse "boom", surgem centros culturais novos e que buscam se inserir no meio artístico, como a Casa das Onze Janelas, de Belém (PA), e o Museu Dragão do Mar, em Fortaleza (CE). Ao mesmo tempo, instituições consolidadas, como o Museu Imperial, de Petrópolis (RJ), mantêm programas de arte contemporânea. "O Estado ainda fomenta ações culturais, mas sua atuação mudou. E são dinheiro público os recursos utilizados por meio de renúncia fiscal", diz Chaimovich.

Geografia
O Panorama 2005, dessa maneira, se afasta da tese da edição anterior, de 2003, com curadoria do cubano Gerardo Mosquera, que não acreditava em uma arte de caráter territorial. A mostra, contudo, se afasta do regionalismo. "Também evitei leituras óbvias dos gêneros", conta o curador.
Para o visitante, é interessante tomar contato com trabalhos de artistas de cidades menos inseridas no meio da arte contemporânea, como Florianópolis (SC), que tem cinco nomes na mostra: Júlia Amaral, Fernando Lindote, José Antonio Lindote, Rachel Stoff e Yiftah Peled. "Goiânia também me impressionou", diz Chaimovich. Da capital goiana, vêm a performance do grupo Empreza, desconhecido no Sudeste, e os desenhos de Pitágoras, que interfere com pinceladas compulsivas em editoriais de moda.
Também há intercâmbios entre as categorias. A pintura de Rodrigo Andrade (SP), no segmento emblema, não perde sentido se lida como natureza-morta. Há surpresas, como a fotonovela "A Iludida", de Walda Marques (PA), e trabalhos de impacto, como o objeto "Hagakure", de Miguel Chikaoka (PA), entre diversas outras obras de grande qualidade.


Panorama da Arte Brasileira 2005
Quando:
ter. a dom. e feriados, das 10h às 18h; até 08/01
Onde: MAM-SP (pq. Ibirapuera, portão 3, SP, tel. 0/xx/11/ 5549-9688)
Quanto: R$ 5,50


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