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CRÍTICA COMÉDIA
Com serenidade budista, "Tio Boonmee" oferece experiência transcendente
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
Um bagre falante fazendo
sexo com uma princesa. O espírito da mulher morta que
reaparece para o jantar. O filho que retorna, após longo
sumiço, metamorfoseado em
uma espécie de macaco de
olhos vermelhos que lembra
o Chewbacca de "Star Wars".
Nada disso é o mais surpreendente de "Tio Boonmee, que Pode Recordar suas
Vidas Passadas", de Apichatpong Weerasethakul, ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano.
O mais surpreendente é a
naturalidade, a despretensão e a graça com que o cineasta tailandês (que adotou
o apelido Joe para facilitar a
vida dos cinéfilos ocidentais)
lida com esses elementos.
Não há neste filme e na
obra de Weerasethakul qualquer vestígio da busca do
inusitado pelo inusitado, do
artifício pelo artifício, do artístico pelo artístico -o que
pode ser detectado em boa
parte dos trabalhos consagrados nos grandes festivais.
O cinema de Joe baseia-se
em longos planos-sequência
e em um sofisticado trabalho
de edição de som. Ele tenta
oferecer antes uma experiência do que uma explicação do
mundo. Por isso, faz pouco
sentido falar em trama. Mas
não custa tentar.
Sofrendo de insuficiência
renal, Tio Boonmee resolve
passar os últimos dias em
uma casa perto da floresta.
Durante um jantar, o espírito
da mulher morta e o filho que
se tornou homem-macaco
aparecem para ajudá-lo.
Com serenidade budista,
Weerasethakul une passado
e presente, sagrado e mundano, real e fantástico, comédia
e terror. "Tio Boonmee" deixa a sensação, cada vez mais
rara no cinema, de se estar
diante de uma obra original,
verdadeira, transcendente.
Em uma das grandes frases deste filme sustentado
por imagens, o espírito da
mulher fala sobre o pós-vida:
"O céu é superestimado".
Não se pode dizer o mesmo
de Weerasethakul.
TIO BOONMEE, QUE PODE
RECORDAR SUAS VIDAS
PASSADAS
DIREÇÃO Apichatpong
Weerasethakul
QUANDO hoje, às 23h10, amanhã,
às 17h50, e terça (2/11), às 21h,
no Unibanco Arteplex; e domingo,
às 19h20, no Reserva Cultural
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo
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