São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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CRÍTICA COMÉDIA

Com serenidade budista, "Tio Boonmee" oferece experiência transcendente

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Um bagre falante fazendo sexo com uma princesa. O espírito da mulher morta que reaparece para o jantar. O filho que retorna, após longo sumiço, metamorfoseado em uma espécie de macaco de olhos vermelhos que lembra o Chewbacca de "Star Wars".
Nada disso é o mais surpreendente de "Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas", de Apichatpong Weerasethakul, ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano. O mais surpreendente é a naturalidade, a despretensão e a graça com que o cineasta tailandês (que adotou o apelido Joe para facilitar a vida dos cinéfilos ocidentais) lida com esses elementos.
Não há neste filme e na obra de Weerasethakul qualquer vestígio da busca do inusitado pelo inusitado, do artifício pelo artifício, do artístico pelo artístico -o que pode ser detectado em boa parte dos trabalhos consagrados nos grandes festivais.
O cinema de Joe baseia-se em longos planos-sequência e em um sofisticado trabalho de edição de som. Ele tenta oferecer antes uma experiência do que uma explicação do mundo. Por isso, faz pouco sentido falar em trama. Mas não custa tentar.
Sofrendo de insuficiência renal, Tio Boonmee resolve passar os últimos dias em uma casa perto da floresta. Durante um jantar, o espírito da mulher morta e o filho que se tornou homem-macaco aparecem para ajudá-lo.
Com serenidade budista, Weerasethakul une passado e presente, sagrado e mundano, real e fantástico, comédia e terror. "Tio Boonmee" deixa a sensação, cada vez mais rara no cinema, de se estar diante de uma obra original, verdadeira, transcendente.
Em uma das grandes frases deste filme sustentado por imagens, o espírito da mulher fala sobre o pós-vida: "O céu é superestimado". Não se pode dizer o mesmo de Weerasethakul.

TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS

DIREÇÃO Apichatpong Weerasethakul
QUANDO hoje, às 23h10, amanhã, às 17h50, e terça (2/11), às 21h, no Unibanco Arteplex; e domingo, às 19h20, no Reserva Cultural
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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